Há algum tempo atrás, por causa das afirmações de uma Associação de Moradores, contei algo do que sei sobre a história dolorosa, sofrida e heróica da luta do Belenenses para construir e conservar o Estádio das Salésias e o Estádio do Restelo. Para quem, porventura, de outro modo não entenda o sentido do que hoje vamos reproduzir, remeto para esse artigo, que está nos arquivos deste blog, e a que dei o título “O Estádio do Restelo – Como o Belenenses o Merece”.
Ora, voltando ao tema, vamos transcrever excertos de actas da Direcção e do Conselho Geral do Belenenses à data do resgate do Estádio (1961), com a narrativa de Acácio Rosa:
“As condições postas [pela Câmara] eram severíssimas. Não quis por isso a direcção prosseguir nas negociações sem ouvir o Conselho Geral, no qual têm assento muitos dos belenenses que mais ajudaram a enraizar e engrandecer o clube. (…) Reuniu este órgão consultivo em 14 de Junho [de 1961] e por unanimidade e votação nominal aprovou a seguinte moção: ‘O Conselho Geral manifesta o seu profundo desgosto pelas condições em que o Clube se vê desapossado do Estádio que com tanto interesse e entusiasmo fez construir’. Mas perante a realidade dos problemas económicos e financeiros, louvando a acção da direcção, dá-lhe o seu inteiro apoio para a aceitação do resgate (…).
Depois, foi convocada reunião conjunta dos corpos gerentes: Mesa da Assembleia Geral, Direcção e Conselho Fiscal. Igualmente por unanimidade, foi deliberado aceitar as condições apresentadas pela Câmara por não se descobrir outra forma de assegurar a continuidade do clube. Em 29 de Junho de 1961, em sessão pública, deliberou a Câmara resgatar o Estádio. Na tarde desse mesmo dia foi celebrada a respectiva escritura.
FOI COM PROFUNDO DESGOSTO, COM A ALMA ENLUTADA, QUE SE ASSINOU A ESCRITURA DE RESGATE SEM A GARANTIA DE ARRENDAMENTO, MESMO PARCIAL, DO BELO ESTÁDIO QUE NAS SUAS ENTRANHAS GUARDA O SUOR HONRADO DE MIHARES DE BELENENSES. NESSE ACTO NÃO FOI PROFERIDA UMA SÓ PALAVRA”.
O último parágrafo foi por nós propositadamente reproduzido em maiúsculas, não só pela sua beleza comovente, não só por respeito aos que dessa forma sofreram e mostraram o seu amor pelo clube mas porque não as devemos esquecer, como signo de todas as desventuras porque o nosso clube já passou.
E, relendo-as, ocorreu-me aquela cena, que é quase um ex-libris do cinema, do filme “E Tudo o Vento levou”, quando a heroína, tomando um pedaço de terra do solo amado, o ergue ao alto e exclama (mais ou menos isto): “Tomo Deus por testemunha de que nunca mais haverei de ter fome! Não importa o que tenha de sofrer e lutar, haverei de viver para, quando tudo tiver passado, poder dizer que sobrevivemos!”
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