sábado, agosto 28, 2004

Agora somos todos um só!

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

É já hoje que começa o campeonato nacional de futebol. Para muitos de nós, é mais um, mas nem por isso deixamos de sentir um estremecimento de expectativa, de nervosismo e emoção.

Já muitos dissemos aqui nos blogs o que pensamos sobre a equipa do Belenenses para esta época, desde o treinador ao plantel, desde os responsáveis até aos objectivos traçados e que podemos ou não atingir. Há opiniões diferentes, como é natural e saudável, desde que todos queiramos o melhor para o nosso clube. Isso é o mais importante.

É conhecida a minha posição quanto à questão dos empréstimos. Mantenho-a mas julgo desnecessário repeti-la aqui e agora. Para além disso, fiquei contente com a contratação de Carlos Carvalhal e, passados quase três meses, só vejo razões para elogiar o seu trabalho. Não se fizeram contratações sem sentido. Foram-se buscar bons jogadores, naturalmente dentro das nossas possibilidades. Em tempos escrevi um artigo chamado “Perfis” em que falava do tipo de treinadores e jogadores que podemos e devemos contratar. Todos os que vieram esta época se enquadram nesse perfil. A excepção poderia ser Cabral mas, face às circunstâncias, acho a sua aquisição perfeitamente justificada e oportuna. Vieram sim, bons jogadores. Mas é importante também valorizar os que já cá estavam. Alguns já deram mostras de que podem fazer muito melhor do que o ano passado. Assistimos a uma mescla interessante de jogadores jovens (a quem estão a ser dadas oportunidades, caso máximo de Rolando) e de jogadores experientes, de jogadores que transitaram de outras épocas e de jogadores que vieram de novo – mérito do treinador. Decerto que há esta ou aquela posição que nos parece mais débil; decerto que gostaríamos de ter ainda melhor. Mas sabemos que Roma e Pavia não se fazem num dia e o importante é que, doravante, a partir desta base, se vá melhorando todos os anos. Que tal não seja esquecido, são os nossos votos mais enfáticos.

Temos divergências de opiniões, temos distintos entendimentos dos melhores caminhos a seguir, temos diferentes ambições e receios mas, agora que a nossa equipa vai subir aos relvados para os jogos a doer, agora, sem perdermos a lucidez e o espírito crítico na medida justa e construtiva, VAMOS VOLTAR A SER TODOS UM SÓ!

Sim, porque a todos nós comove e encanta esse nome mágico – Belenenses -, esse grito que sintetiza tudo quanto ansiamos – Belém! Belém! Belém! –, essas camisolas com a cor – Azul – do Céu, do Mar, e de todas as coisas mais belas e sublimes!

Alguns não gostamos do modelo das camisolas deste ano, alguns achamos que está ali MG a mais, alguns, sem perder o sentido das realidades de hoje, gostaríamos de a ver só azul com o símbolo do nosso clube – mas, de qualquer maneira, É A NOSSA CAMISOLA! É sim, ainda e sempre, a camisola que vestiram Artur José Pereira e José Manuel “Pepe”, Augusto Silva e Mariano Amaro, Vasco e Feliciano, Matateu e Vicente, Scopelli e Di Pace, Quaresma e Godinho...os ídolos da nossa juventude; é aquela que haverão de vestir milhares de atletas que, nas diversas modalidades, continuarão a representar este clube, é aquela que queremos ver triunfante, é a mais bela, a mais honrada, a mais suada, a mais sangrada, a mais nobre, a mais digna, a ÚNICA e INCOMPARÁVEL: É A CAMISOLA AZUL DO BELENENSES!

Lembremos isso quando as nossas equipas entrarem em jogo, e não esqueçamos que os nossos aplausos, gritos e incentivos têm sempre razão de ser, porque não está em causa o jogador X, o treinador Y ou o dirigente Z mas o nosso clube, a nossa família, a paixão de todos nós...OS BELENENSES!

Às vezes, podemos exasperar-nos, podemos quase ser rudes, podemos parecer eternos insatisfeitos... mas ainda bem que assim é! Tal como nas paixões amorosas o ciúme é a correspondência do fogo que as alimenta, assim é a nossa ânsia de que o Belenenses seja sempre mais forte.

Podemos mesmo irritar-nos com as afirmações ou omissões deste ou daquele aqui no blog. Mas quando ali está o nosso clube em desafio, SOMOS TODOS UM SÓ. Vou ser sincero e directo: às vezes, por exemplo, exasperam-me as afirmações e os silêncios do nosso consócio Duarte. Mas ele escreveu, e eu acredito: “Eu chorei quando o Belenenses perdeu aquele campeonato nas Salésias a 4 minutos do fim”. E ao ler isso, ali estava a evidência que ele é um como eu, que é um como todos nós, mais jovens ou mais idosos, que é um da nossa família. E apeteceu-me abraçá-lo, exactamente como àqueles que têm opiniões mais próximas das minhas. Eu não chorei, nesse dia, nas Salésias, porque não era nascido. Mas chorei de tristeza e desespero na primeira vez que descemos de divisão, mas chorei de alegria e de comoção quando ganhámos a Taça. E, naquele fatídico dia nas Salésias, chorou o meu pai, por mim. E este é o clube do meu pai, é o clube do meu filho, é o clube de uma família de que só muitos poucos conheço, mas que é também a minha família - porque é, porque somos OS BELENENSES. TODOS UM SÓ!

Não vou poder assistir ao primeiro jogo (estarei a meio do Oceano a essa hora) mas, pelo que disse, sei que uma parte de mim estará ali, com todos os que amam o Belenenses. Eu, e todos, também vamos entrar em campo. Eu e os que não podem ir amanhã, e os que, vivendo longe, (quase) nunca podem ir, estamos ali também nas bancadas – nas bancadas do grande, belo e, mais do que tudo, NOSSO ESTÁDIO DO RESTELO.

Como outros, tenho o sonho de ver o Belenenses voltar a ser campeão. Mas nunca exigi campeonatos e taças ao meu clube. Não exijo nenhum lugar em especial. O que, sim, exijo e peço, é, aos dirigentes, ambição ilimitada, aos treinadores, brio profissional, aos jogadores, que saiam sempre exaustos do campo – em contrapartida das tantas vezes em que as mãos me doeram de aplaudir com tanta energia, em que a minha voz enrouqueceu de tanto gritar. É isso que nos devemos mutuamente, a equipa a nós, e nós à equipa – ou melhor, ao clube, ao BELENENSES.

Estava a pensar em concluir dizendo “Boa sorte, Belenenses!”. Mas boa sorte é o que desejamos às outras pessoas, quando nos são queridas; e o Belenenses não é outra pessoa, embora querida: o BELENENSES SOMOS TODOS NÓS!

Assim, como entre outras músicas, o Belenenses me faz lembrar algumas dos Sétima Legião e dos Madredeus, termino citando o título de um livro sobre o último dos grupos referidos: “POR UM FUTURO MAIOR!”

(“Ostentando o nosso emblema / Consagrado e popular... / Para a frente, Belenenses, / Com a certeza de vencer!”).

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