Continuamos, sem grandes comentários, por serem desnecessários, a dar a palavra a Acácio Rosa, recorrendo ao seu livro “História do Clube de Futebol os Belenenses”:
“O Belenenses, que transformara uma pedreira numa zona chique de Lisboa, terrenos que com a construção do Estádio do Restelo se valorizaram nos negócios da Câmara para a construção de embaixadas e vivendas, face à exigência draconiana e insensível do presidente da Câmara, França Borges, é obrigado a pedir o resgaste.
Os sócios reúnem a 12 de Junho na Casa das Beiras. ‘Uma Assembleia Histórica’, assim classifica o jornal ‘A Bola’. A Câmara havia atirado para a rua os nossos troféus, os nossos equipamentos. A sua atitude é condenada por toda a imprensa. Homero Serpa, em artigos e entrevistas sucessivas, esclarece pormenorizadamente as injustiças e vexames a que o Belenenses estava sendo sujeito. Pessoalmente, assumi luta sem tréguas na defesa do meu clube, facto que me leva a ser vigiado nos meus passos pela PIDE (…)
O Estádio passou a estar sujeito a uma avença mensal de 16.000$00 e todas as instalações sujeitas a taxas, de modo semelhante ao que hoje se verifica nos táxis: contadores a marcar verbas, mesmo no nosso posto médico! (…)
Perante a situação criada Clube-Câmara, o Belenenses é forçado a negociar jogadores. Yaúca ingressa no Benfica. O Dr. Vale Guimarães regressa à presidência em 1964 e fixa então com a Câmara um novo contrato pelo valor mensal de 22.000$00 que engloba toda a utilização do Estádio, com excepção do ringue de patinagem e do consumo de energia eléctrica, e ainda com a condição dos campos de ténis e de golfe continuarem sujeitos ao regime de avença, permanecendo em regime de inquilinato o posto clínico e a arrecadação. Sempre que o Clube se atrasasse nos seus pagamentos, haveria que pagar juros de mora”
E, em seguida, Acácio Rosa lembra as suas declarações de então ao jornal “A Bola”: Nunca desistiremos, todos teremos de lutar pela Justiça da nossa causa. São quase 50 anos ao serviço do Desporto Nacional que exigem – temos o direito de exigir, gritando, que no mastro de honra do Restelo suba a gloriosa bandeira do Clube de Futebol os Belenenses”.
Cita ainda uma revista da época, “A Flama”: Apressadamente tudo quanto era património do grupo de Belém mudou de lugar. Mil e duzentas taças foram encaixotadas, amontoando-se em salas da secretaria. Mobiliário, material do posto clínico e equipamentos, tudo é agora uma amálgama dispersa por aqui e além. Até quando? – pergunta a História do desporto nacional, rico de factos rubricados pelos Belenenses”.
Pela nossa parte, só deixamos três notas:
* Se não nos enganamos, França Borges era um adepto do Sporting;
* Há mais de 40 anos, o valor de 16 ou 22 contos mensais (acrescidos de tudo o resto) era uma enormidade. Talvez ilustremos isto, se lembrarmos que a construção do Estádio custara 34.200 contos.
* E foi assim que o Belenenses foi perdendo capacidade de competir de igual para igual com Benfica, Sporting e Porto!
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