Não vamos seguir uma ordem cronológica nesta série de artigos, uma vez que tal se tornaria desinteressante para alguns, mas, de qualquer forma, falaremos hoje, novamente, de uma figura maior dos primeiros anos do Belenenses: José Manuel Soares Louro “PEPE”. E haveremos de falar outros dias, porque ele, como outros figuras e situações do clube, têm demasiadas coisas a serem ditas para se incluir tudo num artigo.
Pepe foi um dos primeiros grandes ídolos do futebol português, talvez mesmo o primeiro de todos. Impôs-se muito jovem no Belenenses e na Selecção Nacional. Nesta, fica o registo da sua magnífica participação nos jogos olímpicos de 1928 (felizmente, guardamos a imagem do seu cartão de identidade como participante nesses Jogos, publicada numa revista da “Bola” há 16 anos atrás) e numa das vitórias contra a França, com 2 golos da sua autoria e uma exibição magistral, que levaram os portuenses a transportá-lo em ombros.
Ribeiro Reis, benfiquista e um dos fundadores do jornal “A Bola”, era insuspeito no que escreveu: “Pepe era o nosso avançado mais eficaz e produtivo. Concebia e executava as suas jogadas com uma rapidez fantástica. Artífice máximo das vitórias do seu clube e de muitos triunfos nacionais pelo seu remate pronto e poderoso”.
Nos tempos em que “A Bola” nos tratava ainda com alguma consideração, Homero Serpa, um grande Belenenses, escreveu um notável artigo sobre Pepe (“A Bola Magazine”, nº 12, Maio de 1988), de que, com a devida vénia e respeito, transcreveremos vários excertos, em diferentes artigos. Hoje, deixamos aqui este:
“No dia 24 de Outubro de 1931, no Hospital da Marinha, para onde tinha sido transportado na véspera em estado grave, faleceu um moço de 23 anos, operário das oficinas da Aviação Naval, jogador internacional do Clube de Futebol ‘Os Belenenses’, figura inconfundível de homem e de desportista – chamava-se José Manuel Soares, o ‘Pepe’.
Pepe deixou indeléveis recordações nos companheiros, nos adversários e em todos os adeptos do futebol. Deixou também a mística do seu nome e da sua acção em campo ligados a um outro misticismo, que foi o célebre ‘quarto de hora à Belenenses’, que a história do grande jogo regista em letras azuis. Talvez porque Pepe foi figura central de um desses quartos de hora, quando o Belenenses, em 28 de Fevereiro de 1926, no Campo das Amoreiras, culminou a recuperação de 1-4 contra o Benfica, marcando, no minuto derradeiro, o golo da vitória do seu clube. Houve festa na ‘aldeia’ de Belém, tão grande foi essa tarde, como enorme foi a dor da população belenense quando pouco mais de cinco anos passados sobre o feito de Pepe, o acompanhou ao cemitério da Ajuda.
(…) Pepe sobrevive ao tempo que caminha e destrói a memória dos homens. Pepe resiste porque ele simboliza o velho Belenenses erguido por gente da praia, por homens modestos, que viviam no bairro operário e levaram para o seu clube a têmpera de quem sabe quanto custa a vida e quanto esforço é preciso para a enfrentar e vencer. Por isso, a camisola azul dos Belenenses não está ligada apenas ao mar em estreita ligação com a Cruz de Cristo, que de Belém saiu a bordo das caravelas, mas ao fato de ganga, também azul, e que Pepe vestiu mais vezes do que o equipamento do seu clube”.
"Inauguração do primeiro relvado de Portugal, o do Estádio José Manuel Soares Pepe (Salésias), em 25 de Abril de 1937. O Belenenses venceu o Benfica"
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