Na “Bola Magazine” de Setembro de 1988, saiu um texto de Acácio Rosa (aos 76 anos) que, é quanto a mim, uma das mais belas declarações de amor clubístico que já foram escritas. Ei-la aqui reproduzida:
“Falar de Belém, do Belenenses e do desporto encanta-me, embora, por vezes, sinta alguns desencantos; as coisas hoje não são como outrora, quando o símbolo de um clube era amado e sempre respeitado. (…)
Este amor pelo Belenenses tem origem, sobretudo, na minha naturalidade: nasci em Belém. Adoro Belém, penso que é a terra mais bonita do mundo, e eu já viajei bastante (…)
Sinto-me cansado. Valem-me os meus netos, sócios do Belenenses desde que nasceram. Naturalmente, porque sou filho de um presidente do clube e pai de um presidente. O azul corre-nos nas veias.
Vejo o meu Belenenses e penso-o sofisticado. Como os outros clubes. Amo-o da mesma forma mas mantenho na memória o Campo do Pau do Fio e os trabalhos de construção das velhas Salésias, com o Joaquim de Almeida comandando a equipa de obras. Salésias que sempre sonhei pátria de ecletismo porque não posso conceber o Belenenses sem as modalidades amadoras, um clube com a sua grandeza não pode ser só o futebol.
O Belenenses é, para mim, um país dentro da nossa terra. SERVI-O APAIXONADAMENTE E SE ALGUMA VEZ ERREI FOI POR EXCESSO DE AMOR, DE LHE QUERER, DE O DESEJAR GRANDE. Tenho a consciência tranquila e por isso feliz, vivi intensamente o meu clube durante sessenta anos! Hoje, sinto-o também com fervor clubista, mas afastado do centro das decisões.
Dei-me ao Belenenses, mas dele recebi também inesquecíveis alegrias, galardões e amizades. São medalhas que guardo orgulhosamente. Penso, sem sintomas de vaidade, não, não os sinto, que faço parte da mística do Belenenses, DO MEU ‘BELÉM’, SEMPRE CLUBE DIGNO E ENORME ATÉ QUANDO A SORTE DO JOGO LHE é ADVERSA”.
Três notas da nossa parte:
* Duas frases estão em maiúsculas pela mesma razão por eu há partes de músicas que me tocam tanto que, às vezes, tenho de me pôr de pé para as ouvir.
* O Joaquim de Almeida foi um jogador do Belenenses dos anos 20 e 30. Sim, naqueles tempos, os jogadores trabalhavam voluntariamente na construção do estádio.
* O Acácio Rosa guardava orgulhosamente as medalhas com que se reconheceu todos os serviços que prestou ao clube. Enquanto isso, há uns 20 e poucos anos atrás, um jogador profissional galardoado com … (não vou dizer para não ser fácil identificá-lo), disse em local público sobre o que recebera: “Para que é que eu quero esta merda?”. É por isso que eu digo: respeito os jogadores que são bons profissionais e honram a nossa camisola; mas amores à camisola, esses, havia-os noutros tempos. Aplaudo os jogadores do Belenenses só por envergarem a camisola, ou melhor, aplaudo e incentivo o clube através deles. Mas sei que são apenas o dia que passa…
Sem comentários:
Enviar um comentário