No início da época de 1988, o Belenenses cometeu uma bela proeza, ao eliminar o Bayer Leverkusen, vencedor no ano anterior da Taça UEFA, e que tem continuado a mostrar a sua força no futebol europeu, ainda há bem poucos anos tendo sido finalista da Liga dos Campeões. O Belenenses venceu ambos os jogos por 1-0, primeiro na Alemanha e, depois, na 2º mão, no Restelo.
Seguiu-se, na mesma época, um período de menos fulgor, mas que culminou em grande, com a magnífica campanha que nos levou à conquista da Taça de Portugal.
Já falei disso em artigos da série “Entre o Passado e o Presente”, pelo que não me vou repetir. Apenas gostava de referir algo de curioso, de que me acabo de lembrar:
Na final da Taça UEFA anterior (na altura, em duas mãos), o Bayer Leverkusen defrontou o Espanhol. Quando a 2ª mão estava quase a iniciar-se, o comentador televisivo forneceu alguns dados sobre o Espanyol, e eu comentei com o meu pai: “afinal é um clube com as mesmas condições que o Belenenses, porque é que não podemos chegar lá?!” (nota: na altura, não havia uma tão grande distância entre o campeonato espanhol e o português). Curiosamente, passados mesaes, saía-nos o Bayer no sorteio.
Gostava de destacar que o treinador dos alemães era um grande senhor do futebol mundial, Rinus Micheals, pai do grande Ajax e da laranja mecânica dos anos 70.
No jornal “A Bola” de 13 de Outubro, Aurélio Março escreveu alguns belos parágrafos, referindo-se à vitória do Belenenses, e aos minutos derradeiros do 2º jogo, a seguir a termos chegado ao golo:
“O público, nesses minutos finais esqueceu o sofrimento que foi aquele ‘pressing’ dos alemães, a meio da segunda parte, antes da entrada de um jogador fresco, com toda a equipa a carregar sobre a grande área do Belenenses, até já nem se lembrava do bom futebol jogado pelos portugueses, daquele ‘sprint’ admirável de Jaime, a que faltou um pouquinho de força, de um outro lance de Mladenov, que já não foi capaz de bater o guarda redes, nem se lembrava já do polémico lance de Carlos Ribeiro, aparentemente derrubado pelo guarda redes para um penalty – lá não me pareceu mas agora, aqui, na madrugada vêm dizer-me que foi. Vê-se tudo na TV.
Em boa verdade, os últimos cinco minutos foram disputados em êxtase por uma superequipa do Belenenses, que já no Domingo jogara muito bem contra o Benfica, exibindo ontem, como há tres dias atrás, uma condição fisica impecável, uma organização de jogo impossível de ultrapassar, uma concentração que não deixou aos alemães qualquer hipótese de aproveitar um erro.
UM PÚBLICO INEBRIANTE DE ALEGRIA, DA VITÓRIA, DA SEDE E DA MEMÓRIA DO PASSADO, QUANDO O BELENENSES DISCUTIA COM O BENFICA E O SPORTING, MAIS TARDE COM O F.C.PORTO, A SUPREMACIA DO FUTEBOL PORTUGUÊS.
QUE BELA VITÓRIA A DO BELENENSES, QUE BEM QUE JOGOU A EQUIPA, COMO ELA TENTA CHEGAR AO PEDESTAL QUE JÁ FOI SEU! Que bela história para os belenenses contarem mais tarde!”.
E já agora, em declarações ao mesmo jornal, a seguir ao jogo, exclamava Mário Rosa Freire, então Presidente da Direcção: “O Belenenses está, sem dúvida, a viver um momento histórico, é o regresso do velho Belenenses! O nome do clube vai ecoar pela Europa fora!”.
Mas a nossa carreira europeia não duraria muito. Tristemente, como já algures escrevi, perante a satisfação de alguns sócios, sempre de horizontes pequeninos…
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