terça-feira, agosto 10, 2004

Palavras que foram ditas 6: A Morte de Pepe


Ainda no mesmo artigo que temos vindo a citar, Homero Serpa entrevistou alguns belenenses que tinham conhecido o Pepe, entre eles o Sr. Idalino Cotovio, ao tempo daquele artigo (1988), o sócio nº 160 do clube. Entre outras coisas, declarou o Sr. Cotovio:

“A morte dele? Um horror. Creio que toda a gente que o conhecia chorou esse momento trágico. Ninguém imagina a consternação que caiu sobre o bairro, o Pepe era um menino querido”

“Grande jogador. Uma vez o Belenenses foi jogar a Setúbal e empatou 1-1. O Pepe não foi por estar lesionado (…). Nessa altura havia que desempatar no espaço de 24 horas, e o Pepe não resistiu, foi mesmo jogar e o Belenenses ganhou por 2-0. Foi ele que, mesmo ao pé coxinho, deu alma à equipa, deu-lhe alegria e valor. Tenho 63 anos de associado do Belenenses, e nunca esqueci essa grande jornada”.

“Nunca assisti a um funeral tão imponente e sentido. As pessoas choraram o Pepe como se ele fosse filho de todos quantos o acompanhavam. Já o tinham sepultado num jazigo da Câmara Municipal de Lisboa no Cemitério da Ajuda e ainda havia gente na Rua da Junqueira”.

E terminou o Homero Serpa: “Fomos buscar ao passado uma das horas mais trágicas do desporto – a morte de Pepe, o menino querido de Belém, o jogador invulgar que empolgava as multidões e criava simpatia entre os adversários, mesmo quando dava a vitória ao seu clube ou à selecção nacional. Desapareceu há muito tempo mas a sua imagem e a sua história comovente têm atravessado incólumes as gerações, porque os homens antigos entregam aos novos o testemunho da sua admiração por um moço paupérrimo que nasceu em Belém e morreu aos 23 anos, deixando para a eternidade o misticismo que cria e alimenta as lendas”.

Um clube com a história, as lendas, as tradições, as figuras e as páginas escritas a letras de ouro, como o Belenenses, tem de ser digno da sua grandeza!

Sem comentários: