terça-feira, agosto 31, 2004

Estereótipos...

Texto assinado por Vasco Mendonça, no Blog Terceiro Anel

O Belenenses venceu títulos e, historicamente, é ainda hoje o quarto maior clube português. É também, dos 4 maiores clubes, o único que desceu de divisão. Progressivamente, foi deixando de ser considerado um dos «grandes». Ainda mantém umas querelas com o Boavista, mas vê-se hoje reduzido ao campeonato do meio da tabela. Perder tornou-se, demasiadas vezes, uma realidade bi-semanal.

Ir ao Restelo hoje é estar preparado para tudo enquanto se come uma queijada ou um nougat. É olhar para o Tejo e elogiar o estádio, estar sentado ao lado de uma claque deprimida enquanto se mira o infinito de Porto Brandão e se pensa no clube idoso que se tem. Mastigam-se a custo analogias com o Partido Comunista e não tarda nada o jogo está a terminar e pensamos que um empate até nem é assim tão mau.O estádio já não enche. Na verdade, é como se nunca tivesse enchido e já ninguém espera que venha a encher. É esta a rotina.

Ser do Belenenses é muito fácil. Sofrer com isso é mais difícil. A última jornada da época anterior atesta bem o sentimento a que me refiro, alimentado por bancadas compostas como há muito não se via e em tudo quanto esses 90 minutos tiveram de comédico, embaraçoso e triste. A vaia monumental com que a equipa foi presenteada deixou-me com algum orgulho em ali estar, no meio de milhares de pessoas cujo primeiro ou segundo clube seria provavelmente o Belenenses. Para mim, que nunca tinha visto o estádio tão cheio e não tenho problema com os adeptos emprestados, foi comovente. Ainda assim voltei para casa com a mera certeza que o Belenenses não tinha descido de divisão, o que fez muito pouco por mim. Perdemos o jogo. Tudo acabou bem. Não há muitos factos mais deprimentes na história do clube.

Depois de uma pré-época prometedora, chega a primeira jornada. Pensei que íamos descer à terra, mas jogaram que se fartaram. Apetece-me sonhar qualquer coisinha, magicar um quinto lugar ao olhar para o calendário. Apetece-me esquecer o ano anterior e todos os outros, mas não tenho assim tantos anos de Belenenses. A minha memória do clube não é a memória colectiva que os mais velhos partilham. O Belenenses é hoje um clube bonito e simpático mas pouco relevante, conhecido pelo seu bonito estádio quase vazio, sinónimo de uma massa humana envelhecida que se divide entre a eterna nostalgia que a assombra fora do relvado e plantéis que a devolvem à realidade. Estou preparado para qualquer resultado, mas por tudo o que conheço e não vivi também me sinto envelhecido. Por enquanto, com pouca vontade de sonhar mas sem problemas em continuar a depender de nougats e queijadas para sobreviver à intempérie da normalidade.

O que mais me custa nestas palavras é o profundo desconhecimento que revelam, acerca da vida do clube, do seu pulsar interno, que mais dia menos dia vai ter expressão exterior... Trata-se de uma visão esterotipada, que não apresenta uma única novidade ou argumento novo. E textos destes conhecem-nos os Belenenses desde os idos anos 20...

A melhor resposta é dada todos os dias, no único verdadeiro complexo desportivo de um clube português: o do Restelo. Essa é ignorada, neste post.

De resto só vou deixar aqui um enorme PARABÉNS a todos nós, pelos 85 ANOS de existência (reais e não artificialmente aumentados). Que o clube cresça, que os novos sócios apareçam cada vez mais, que as modalidades (TODAS) se projectem com maior força, que a nossa equipa de futebol nos dê as alegrias que merecemos, que o complexo fique cada vez mais bonito, que o nosso Jornal tenha sucesso, que os blogs continuem o seu trabalho e que todos sejamos UM SÓ BELÉM.

A nossa comunicação social



No seguimento do texto do passado dia 17, publicamos de seguida alguns exemplos da discriminação da comunicação social portuguesa.

15/08/2004

Transmissão do jogo Portugal - Marrocos dos jogos olimpicos de Atenas 2004:
"Lourenço, jogador do Sporting emprestado ao Belenenses"...

Mas porque não dizem também: "Hugo Viana, jogador do Newcastle emprestado ao Sporting"???

15/08/2004

- Muito maior destaque (cinco vezes mais) na capa ao jogador do Benfica Vilela, e á vitória dos encarnados em jogo particular contra o Estoril do que há conquista de uma medalha de prata de um ciclista português nos Jogos Olímpicos (sendo, apenas, a 18º medalha conquistada por portugueses em todas as Olimpíadas);
- Crónica do jogo Estoril – Benfica. Referências ao Benfica ou seus jogadores e treinadores: 44; idem ao Estoril, 12: E ainda se aproveitou uma legenda de uma foto para dizer que a um avançado benfiquista foram “assinaladas faltas que não cometeu”. O título da crónica só refere o Benfica, como se este tivesse jogado sozinho...
- Apreciação individual de jogadores, no mesmo encontro: 50 linhas para os jogadores do Estoril (em vários casos só uma palavra: “Discreto”, “Tímido”, Controlou”!); 130 linhas para os jogadores do Benfica (só Luisão ocupou praticamente o mesmo espaço que todos os jogadores do Estoril).
- Jogo Braga – Bétis. Foi-lhe dedicado meia página, menos que ao jogo Vilafranquense – Benfica B. E compare-se essa meia página, com as páginas e páginas dedicadas ao Benfica-Bétis, antes e depois do jogo (depois, menos que o previsível, dada a estrondosa derrota do Benfica).

16/08/2004

Na capa, dá-se 4 vezes mais realce a um jogador do Benfica ser convocado para a selecção da Cróacia do que à vitória da selecção portuguesa em desafio dos Jogos Olímpicos!

segunda-feira, agosto 30, 2004

Palavras que foram ditas - 17

Vasco e o Campeonato que Belém venceu

Vasco de Oliveira, uma das lendárias “Torres de Belém”, um defesa de aço e coração azul puríssimo, jogador de raça tanto ao serviço do Belenenses como da Selecção Nacional, é outra das figuras do nosso clube que não poderíamos deixar de evocar. E fazêmo-lo através das palavras de outro grande belenenses, Homero Serpa, retiradas do seu livro “Camisola Azul e Cruz ao Peito”:

“Toda a gente se lembra de Vasco, o jogador temperamental e categorizado, que sentia (Vasco ainda sente o seu Belenenses) a camisola como poucos.

Vimo-lo a jogar no seu posto e, também, a avançado centro. Grandes jogos fez o Vasco, grandes injustiças se fizeram ao julgá-lo, grandes confusões se estabeleceram sobre a sua forma característica de discutir os lances.

Quem não se lembra do Vasco, famosa ‘Torre de Belém’? Quem não se lembra da sua arrancada pela linha lateral do lado da bancada do campo do Elvas, quando, na época de 1945/46, o Belenenses ali jogou um desafio decisivo, que lhe deu a vitória no Campeonato Nacional? Havia 0-1 e sofrimento à volta do rectângulo, onde MUITOS MILHARES DE BELENENSES viviam o grande drama. Poucos minutos faltavam para terminar o encontro. A derrota, mesmo o empate, seria o ruir de todas as esperanças. Vasco, inconformado, irresistível, arrancou campo fora, bola colada aos pés. Ia, numa doidice, dentes cerrados, suor a encharcar-lhe a camisola, até que um adversário teve que o derrubar. Da falta saiu o lance do golo do empate. E pouco tempo decorrido, Rafael, outra grande figura do futebol belenenses, infelizmente desaparecido do número dos vivos em condições trágicas, marcava o golo do triunfo”.

domingo, agosto 29, 2004

IMPRENSA: 1ª jornada

PORTAL OFICIAL DE "OS BELENENSES"
SuperBelém na Superliga !

A BOLA
Belenenses 3 - 0 Marítimo

O JOGO
Há Petrolina no Restelo

RECORD
Um céu pintado de azul e outro de tons escuros

MAISFUTEBOL
Azuis com fato de gala para começar

DESPORTO DIGITAL
Belenenses começa SuperLiga com goleada sobre o Marítimo

JORNAL DE NOTICIAS
Entrar com o pé direito e os reforços certos

INFORDESPORTO
Belenenses vence Marítimo na abertura

CORREIO DA MANHÃ
GOLEADA TRANQUILA EM TONS DE AZUL

PUBLICO
Belenenses Confirma Expectativas

SUPERLIGA: Grande exibição


O Belenenses venceu hoje o Marítimo por 3 bolas sem resposta.

A equipa de Carlos Carvalhal utilizou o seu esquema habitual, 4-4-2 losango, e alinhou de inicio com o seguinte onze: Marco Aurélio na baliza; Amaral, Rolando, Pelé e Cabral na defesa; Marco Paulo, Andersson (capitão), Juninho Petrolina e José Pedro ao meio-campo e no ataque a dupla Lourenço e Antchouet. Estiveram no banco: Tuck, Neca (Lourenço aos 85'), Cristiano, Ruben Amorim (Marco Paulo aos 89'), Pedro Alves, Eliseu (Antchouet aos 81') e Gonçalo Brandão.

Após os primeiros 10/15 minutos de dominio madeirense, o Belenenses pegou no jogo e realizou uma excelente exibição tendo inaugurado o marcador aos 24 minutos com um golo de Rolando, na sequência da marcação de um pontapé de canto por José Pedro. Após o primeiro golo o Belenenses acentuou o seu dominio tendo criado diversos lances para dilatar a sua vantagem. Destacam-se um forte remate de Juninho Petrolina ao poste, após excelente jogada individual e uma assistência de Marco Paulo para Antchouet que após fintar o guarda-redes vê o seu remate travado por um defesa contrário. No fim da primeira parte Antchouet marca o segundo golo após assistência de Juninho Petrolina. Fomos para o intervalo com o resultado de 2-0 mas esta diferença podia ser muito superior.

Na segunda parte continua o dominio azul e surge o terceiro golo do Belenenses na marcação de uma grande penalidade por parte do Lourenço. Ele merecia este golo pelo que já tinha feito no jogo. Destaca-se ainda uma grande jogada de Lourenço que assiste brilhantemente Antchouet, mas este este falha o remate escandalosamente. Nos ultimos minutos do encontro nada a destacar.

Conclusão: Vitória muita merecida. O Belém podia ter ganho por 5 ou 6.
Destaques: Rolando, Juninho Petrolina e José Pedro.
Marcadores: Rolando, Antchouet e Lourenço (grande penalidade).

Cartões Amarelos: Juninho Petrolina e Antchouet.
Cartões Vermelhos: -

Assistência: bancada dos sócios bem composta (3000??) mas as outras bancadas quase desertas.

Outros destaques: já temos bancos de suplentes novos e foi espectacular ouvir os sócios do Belenenses cantar o "Bailinho da Madeira".

sábado, agosto 28, 2004

Agora somos todos um só!

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

É já hoje que começa o campeonato nacional de futebol. Para muitos de nós, é mais um, mas nem por isso deixamos de sentir um estremecimento de expectativa, de nervosismo e emoção.

Já muitos dissemos aqui nos blogs o que pensamos sobre a equipa do Belenenses para esta época, desde o treinador ao plantel, desde os responsáveis até aos objectivos traçados e que podemos ou não atingir. Há opiniões diferentes, como é natural e saudável, desde que todos queiramos o melhor para o nosso clube. Isso é o mais importante.

É conhecida a minha posição quanto à questão dos empréstimos. Mantenho-a mas julgo desnecessário repeti-la aqui e agora. Para além disso, fiquei contente com a contratação de Carlos Carvalhal e, passados quase três meses, só vejo razões para elogiar o seu trabalho. Não se fizeram contratações sem sentido. Foram-se buscar bons jogadores, naturalmente dentro das nossas possibilidades. Em tempos escrevi um artigo chamado “Perfis” em que falava do tipo de treinadores e jogadores que podemos e devemos contratar. Todos os que vieram esta época se enquadram nesse perfil. A excepção poderia ser Cabral mas, face às circunstâncias, acho a sua aquisição perfeitamente justificada e oportuna. Vieram sim, bons jogadores. Mas é importante também valorizar os que já cá estavam. Alguns já deram mostras de que podem fazer muito melhor do que o ano passado. Assistimos a uma mescla interessante de jogadores jovens (a quem estão a ser dadas oportunidades, caso máximo de Rolando) e de jogadores experientes, de jogadores que transitaram de outras épocas e de jogadores que vieram de novo – mérito do treinador. Decerto que há esta ou aquela posição que nos parece mais débil; decerto que gostaríamos de ter ainda melhor. Mas sabemos que Roma e Pavia não se fazem num dia e o importante é que, doravante, a partir desta base, se vá melhorando todos os anos. Que tal não seja esquecido, são os nossos votos mais enfáticos.

Temos divergências de opiniões, temos distintos entendimentos dos melhores caminhos a seguir, temos diferentes ambições e receios mas, agora que a nossa equipa vai subir aos relvados para os jogos a doer, agora, sem perdermos a lucidez e o espírito crítico na medida justa e construtiva, VAMOS VOLTAR A SER TODOS UM SÓ!

Sim, porque a todos nós comove e encanta esse nome mágico – Belenenses -, esse grito que sintetiza tudo quanto ansiamos – Belém! Belém! Belém! –, essas camisolas com a cor – Azul – do Céu, do Mar, e de todas as coisas mais belas e sublimes!

Alguns não gostamos do modelo das camisolas deste ano, alguns achamos que está ali MG a mais, alguns, sem perder o sentido das realidades de hoje, gostaríamos de a ver só azul com o símbolo do nosso clube – mas, de qualquer maneira, É A NOSSA CAMISOLA! É sim, ainda e sempre, a camisola que vestiram Artur José Pereira e José Manuel “Pepe”, Augusto Silva e Mariano Amaro, Vasco e Feliciano, Matateu e Vicente, Scopelli e Di Pace, Quaresma e Godinho...os ídolos da nossa juventude; é aquela que haverão de vestir milhares de atletas que, nas diversas modalidades, continuarão a representar este clube, é aquela que queremos ver triunfante, é a mais bela, a mais honrada, a mais suada, a mais sangrada, a mais nobre, a mais digna, a ÚNICA e INCOMPARÁVEL: É A CAMISOLA AZUL DO BELENENSES!

Lembremos isso quando as nossas equipas entrarem em jogo, e não esqueçamos que os nossos aplausos, gritos e incentivos têm sempre razão de ser, porque não está em causa o jogador X, o treinador Y ou o dirigente Z mas o nosso clube, a nossa família, a paixão de todos nós...OS BELENENSES!

Às vezes, podemos exasperar-nos, podemos quase ser rudes, podemos parecer eternos insatisfeitos... mas ainda bem que assim é! Tal como nas paixões amorosas o ciúme é a correspondência do fogo que as alimenta, assim é a nossa ânsia de que o Belenenses seja sempre mais forte.

Podemos mesmo irritar-nos com as afirmações ou omissões deste ou daquele aqui no blog. Mas quando ali está o nosso clube em desafio, SOMOS TODOS UM SÓ. Vou ser sincero e directo: às vezes, por exemplo, exasperam-me as afirmações e os silêncios do nosso consócio Duarte. Mas ele escreveu, e eu acredito: “Eu chorei quando o Belenenses perdeu aquele campeonato nas Salésias a 4 minutos do fim”. E ao ler isso, ali estava a evidência que ele é um como eu, que é um como todos nós, mais jovens ou mais idosos, que é um da nossa família. E apeteceu-me abraçá-lo, exactamente como àqueles que têm opiniões mais próximas das minhas. Eu não chorei, nesse dia, nas Salésias, porque não era nascido. Mas chorei de tristeza e desespero na primeira vez que descemos de divisão, mas chorei de alegria e de comoção quando ganhámos a Taça. E, naquele fatídico dia nas Salésias, chorou o meu pai, por mim. E este é o clube do meu pai, é o clube do meu filho, é o clube de uma família de que só muitos poucos conheço, mas que é também a minha família - porque é, porque somos OS BELENENSES. TODOS UM SÓ!

Não vou poder assistir ao primeiro jogo (estarei a meio do Oceano a essa hora) mas, pelo que disse, sei que uma parte de mim estará ali, com todos os que amam o Belenenses. Eu, e todos, também vamos entrar em campo. Eu e os que não podem ir amanhã, e os que, vivendo longe, (quase) nunca podem ir, estamos ali também nas bancadas – nas bancadas do grande, belo e, mais do que tudo, NOSSO ESTÁDIO DO RESTELO.

Como outros, tenho o sonho de ver o Belenenses voltar a ser campeão. Mas nunca exigi campeonatos e taças ao meu clube. Não exijo nenhum lugar em especial. O que, sim, exijo e peço, é, aos dirigentes, ambição ilimitada, aos treinadores, brio profissional, aos jogadores, que saiam sempre exaustos do campo – em contrapartida das tantas vezes em que as mãos me doeram de aplaudir com tanta energia, em que a minha voz enrouqueceu de tanto gritar. É isso que nos devemos mutuamente, a equipa a nós, e nós à equipa – ou melhor, ao clube, ao BELENENSES.

Estava a pensar em concluir dizendo “Boa sorte, Belenenses!”. Mas boa sorte é o que desejamos às outras pessoas, quando nos são queridas; e o Belenenses não é outra pessoa, embora querida: o BELENENSES SOMOS TODOS NÓS!

Assim, como entre outras músicas, o Belenenses me faz lembrar algumas dos Sétima Legião e dos Madredeus, termino citando o título de um livro sobre o último dos grupos referidos: “POR UM FUTURO MAIOR!”

(“Ostentando o nosso emblema / Consagrado e popular... / Para a frente, Belenenses, / Com a certeza de vencer!”).

sexta-feira, agosto 27, 2004

PALAVRAS QUE FORAM DITAS 16: Augusto Silva e o Quarto de Hora à Belenenses


Augusto Silva é certamente uma das maiores figuras de todos os tempos do nosso Belenenses, quer como jogador, quer com treinador. Deixou também uma marca indelével na selecção nacional, que representou por 21 vezes, 8 das quatro como capitão. Brilhou a grande altura nos Jogos de 1928, com o seu querer extraordinário, que lhe valeu o epíteto de “Leão de Amsterdão”. Sobressaiu, principalmente, na vitória por 2-1 conta a Jugoslávia, marcando o golo da vitória, e sendo levado em ombros. O seu número de internacionalizações foi o máximo português durante 16 anos, de 1934 a 1950.

Ao serviço do Belenenses, enquanto jogador, conquistou 3 campeonatos de Portugal e 4 campeonatos de Lisboa.

Mais tarde, como treinador, conduziu o Belenenses à vitória no Campeonato Nacional de 1945-46. Foi o primeiro treinador português a conseguir tal feito.

Aquando da sua morte, o também já desaparecido jornalista Vítor Santos, nas páginas de “A Bola”, escreveu o seguinte:

“Augusto Silva, o velho e glorioso ‘leão de Amsterdão, era um símbolo do Belenenses, um dos homens que contribuiu com forte quinhão para que o clube atingisse a posição que hoje ocupa no desporto português.

Jogador de excepcionais qualidades, tanto técnicas como de desportista, ele sabia, ainda, ser um lutador, sempre se entregando à luta com ardor e entusiasmo que definem e caracterizam os atletas de eleição, que sabem defender até ao extremo das suas forças a camisola que cingem no trono forte.

Quantas vitórias lhe devem o Belenenses e a Selecção Nacional! Quantas vezes ele galvanizou a equipa e, num ápice, a golpes de energia, transformava a derrota em vitória!

A minha geração é outra e o Augusto Silva, o ‘leão de Amsterdão’, apareceu a meus olhos não como um jogador – e, muito menos, como um jogador que tivesse de, profissionalmente, criticar – mas como um símbolo.

E um símbolo, não só do Belenenses – desse portuguesíssimo clube da Cruz de Cristo! – mas do futebol lusitano. (…) vi-o simbolizar o Belenenses, na sua camisola azul sangrada com a Cruz de Cristo. E vi-o simbolizar Portugal, nas qualidade rácicas que, ainda hoje, estão a dar ao futebol lusitano a indicação para o caminho de um estilo próprio e diferenciado.

O último quarto de hora, que foi orgulho inconfundível dessa gente de Belém, apareceu sempre a meus olhos com o Augusto Silva a parar os ponteiros do relógio, transformando a derrota em empate ou vitória, com os seus alardes de valor, de técnica, de temperamento, de ralé, de ‘raça’ belenenses, que o tempo não apagou mas – porque não dizê-lo? – ensombrou um pouco, quando o futebol deu o salto de um diletantismo regional ou bairrista para um profissionalismo que, mal compreendido, fez enferrujar as mais gloriosas tradições”.

E já agora, a propósito do famoso (noutros tempos) “quarto de hora à Belenenses”, de que Augusto Silva foi o expoente maior, a sua alma iniciadora, inserimos aqui um pequeno mas significativo texto que, sob a epígrafe AMOR À CAMISOLA, Acácio Rosa fez sair num dos seus livros:

“Todos os belenenses da ‘velha guarda’ sabem o que foi o ‘quarto de hora’. A equipa podia estar a perder por três ou quatro tentos que o adversário, por muito que fosse, não se considerava seguro enquanto não soava o apito final. E quantas derrotas tidas quase como certas se transformaram em magníficas vitórias, no curto espaço de minutos! Uma das vitórias, lembram-nos bem, foi [contra] o Benfica; jogava-se para o torneio lisboeta, nas Amoreiras, e, ao quarto de hora [isto é, a um quarto de hora do fim], os rapazes de Belém perdiam por 4-1, afigurando-se que o assunto estava arrumado. Mas a reviravolta operou-se num ápice e no final havia 5-4 a favor do Belenenses.

O entusiasmo de toda a gente de Belém que presenciava o jogo, bem como o assombro e o espanto dos benfiquistas não se descrevem.

Daí por diante, o ‘quarto de hora belenenses’ passou a ser temido e é pena – sem desprimor para os jogadores actuais – que já não o seja”.

quinta-feira, agosto 26, 2004

Palavras que foram ditas - 14


(Artigo de Eduardo Torres, que deveria ter sido publicado na 2ª feira, mas que por troca nossa - com o artigo "Palavras que foram ditas - 15" -, só é publicado hoje)

As Salésias

Como já várias vezes se escreveu, o Estádio das Salésias, mais tarde chamado José Manuel Soares (PEPE), foi não só uma obra magnífica de esforço e de dedicação do Belenenses, como ficou sendo, por muitos anos, o melhor estádio do país. Foi o primeiro a ser arrelvado, o primeiro a ter uma bancada coberta, o primeiro a ter um campo de treinos complementar… a que ainda acresciam pistas de atletismo / ciclismo, um ginásio e instalações condignas.

Em 15 de Dezembro de 1926, pelo Decreto nº 12.823, o Governo fez constar:

“Considerando que ao Governo da República não pode ser alheio o interesse pela causa desportiva do país;
Considerando que o Clube de Futebol ‘Os Belenenses’ por várias vezes tem pedido a cedência de terrenos anexos ao Asilo Nun’Alvares para ali instalar o seu campo desportivo;
Considerando que em nada o referido asilo é prejudicado por tal cedência:
Em nome da Nação, o Governo da República Portuguesa, sob proposta do Ministro das Finanças, decreta para valer como lei o seguinte:

Artigo 1º: É cedida a título precário ao Clube de Futebol ‘Os Belenenses’, com sede na Rua Vieira Portuense, nº 48- 1º, em Belém, desta cidade de Lisboa, uma faixa de terrenos, constante da planta anexa ao processo arquivado na respectiva Repartição, para nela serem instalados a sede e o campo de desporto do referido clube.

Artigo 2º: Reverterá para a posse do referido Asilo a referida faixa de terreno, com todas as benfeitorias ali feitas, e sem indemnização, quando deixar de ser utilizada para o fim a que agora é destinada.

Artigo 3º: O Clube de Futebol “Os Belenenses” entregará ao Asilo Nun’Álvares a percentagem de 6 por cento sobre a receita bruta de todos os desafios de futebol ou festas desportivas, ali realizadas, bem como a receita líquida duma festa desportiva anual.

Artigo 4º: Fica revogada a legislação em contrário.

Obviamente, os sublinhados são nossos. Destinam-se a que não se passe em claro realidades sem as quais é impossível fazer justiça ao belenenses:

* Construiu-se todo o excelente património das Salésias à custa do esforço do clube e não de subsídios, subsídios e mais subsídios. Não recebemos de graça!

* Durante anos a fio, o Belenenses contribui muito relevantemente para uma obra social

* Enquanto outros clubes, ao deixarem os seus campos, onde tinham feito obra muito inferior à realizada pelo Belenenses, receberam dinheiros públicos, nós nada recebemos pelos terrenos das Salésias.


Adiante. Logo em 5 de Abril de 1927, iniciaram-se as obras. E, aqui, damos a palavra a Acácio Rosa, que relata: “Após esforços e sacrifícios de toda a ordem, tendo como alma criadora o jogador Joaquim de Almeida, o Belenenses inaugura as Salésias a 29 de Janeiro de 1928, num encontro com o Carcavelinhos para o Campeonato de Lisboa.

A propósito do campo, Ribeiro dos Reis [várias vezes seleccionador nacional, treinador do Benfica e co-fundador de “A Bola”] diz que ‘o rectângulo de jogo é amplo e desafogado. O plano do peão é o mais vasto de todos os nossos campos e quando devidamente acabado deve produzir um magnífico aspecto’.

O campo ainda não possuía bancadas; provisoriamente foram utilizados bancos ao longo da linha lateral. Capacidade: 20 mil lugares”

Em 21 de Junho de 1931, é inaugurado o corpo central de bancadas. No ano seguinte (na presidência de José Rosa, pai de Acácio Rosa), em 25 de Maio, é construída uma bancada para os sócios, uma pista de atletismo (na altura a melhor do país) e um posto médico. Note-se que as bancadas eram em cimento – não em madeira, como as de outrios clubes, nomeadamente o Benfica, com a sua famosa “serração de madeira”.

Em 24 de Abril de 1937, inaugurou-se o relvado das Salésias, o primeiro de Portugal – não estranhando, pois que a imprensa classificasse o evento como “alguma coisa de grande no nosso meio desportivo”.

Nessa altura, escreveu-se no jornal “Stadium”:

“A inauguração do estádio José Manuel Soares foi caracterizada pela imponência e brilho que o público emprestou à pugna Belenenses - Benfica, na qual os donos da casa arrancaram a vitória. Tarde de emoção e de consagração, ao esforço dos que pelo desporto muito fazem”É imponente, tudo isto. O rectângulo verde, dum verde macio que faz bem à vista, que permite ver bem o que se passa em redor. Depois, um rectângulo complementar, cor de tijolo, que forma um contraste que realça ainda mais a mancha verde do tapete de relva. Em volta, como sulco aberto na cercadura de tijolo, a fita preta da pista de atletismo. O gradeamento, em branco e azul, dá ao terreno o aspecto curioso dum grande «ring» com o público debruçado sobre o campo de luta. Num dos lados, os gradeamentos limitam os alçapões de mágica por onde os jogadores aparecem e desaparecem…A toda a volta, mas especialmente do lado da geral, um mar de cabeças, um mar que ainda não entrou em animar-se… Tranquilo, por enquanto. Um vento de bonança que talvez não chegue a acompanhar a ventaneira desenfreada que sopra nos camarotes… No topo de nascente - uma nota de cor, cor de rosa… São os pequenos do Asilo Nun'Álvares, companheiros do Belenenses no aproveitamento da cerca do asilo. Há quem nos diga que o Belenenses vai oferecer bibes azuis à pequenada. Assim, estão melhor. A cor de rosa é a cor dos sonhos ainda ingénuos. E dá mais alegria ao campo quando os pequenos se agrupam para ver o jogo”.

Ainda em 1937, foi construído um campo de treinos.

Em 1938, o Presidente da Direcção, Dr. Coelho da Fonseca, já declarava: “A crise do clube envolve dois aspectos: financeiro e desportivo, porque as consequências de avultados investimentos no Estádio do Clube feitos pelas gerências anteriores, cercearam a tranquilidade administrativa e a possibilidade de valorizar a secção de futebol”.

Abençoada crise essa, porém! Se virmos os resultados entre 1937 e 1940 – época de crise, para a força que o clube tinha então – e os compararmos com os actuais… A pior classificação foi um 5º lugar. As outras, oscilaram entre o 2º e o 4º lugar!

Não obstante as dificuldades referidas pelo Dr. Coelho da Fonseca, continuou o investimento no estádio, aumentando a sua capacidade para mais 5.000 pessoas. Os novos lugares foram abertos em 12 de Fevereiro de 1939, data em que nas Salésias, então o melhor estádio do país, se realizou um jogo Portugal – Suiça.

Nas Salésias se construiu também um ginásio, um campo de basquetebol iluminado, etc. Era a casa querida e sempre melhorada dos belenenses. Um património que nenhum podia orgulhar-se, nem sequer por aproximação, de possuir.

Em 1947, porém, o Belenenses é notificado para abandonar as Salésias porque o Estádio “vai ser imolado às exigências do plano de urbanização da Capital do Império”. E assim, foi necessário recomeçar, face ao pouco reconhecimento pela obra realizada. E a urbanização… ficou nas intenções. Ainda lá estão as balizas…
Em boa hora a presente Direcção anunciou o seu propósito de ver devolvido o “espaço sagrado” das Salésias!

30.000 visitas mas, acima de tudo, um Belenenses maior

Gostaria de começar por agradecer a todos quantos tornaram possivel atingir, em apenas meio ano, esta marca de relevo no mundo dos Blogs.30.000 visitas... reactivei o Blog por empurrão dos amigos do Blog CF Belenenses, uma vez que quando o criei, em Setembro de 2003, pouco sabia de como fazer um Blog e não tinha qualquer feedback, dando por mim a pensar que estava a escrever só para mim mesmo. Sei agora que temos qualquer coisa como cerca de 150 a 200 pessoas diferentes a aceder ao Blog por dia, 20% das quais são utilizadores provenientes de motores de busca, ou seja, gente à qual o Blog "abre" as portas do Belenenses, gente que nos descobre por acaso. Aumenta, assim, a responsabilidade.

Mas o que me dá mais gosto é a sensação de que o Blog do Belenenses, bem como todos os outros alusivos ao nosso clube, contribui para o engrandecimento do nosso clube. A dinamização do Núcleo Ajuda/Belém, o "arregimentar" das tropas para o jogo com o Braga (de má memória), os muitos amigos Belenenses que tive o prazer de conhecer, entre muitas outras situações geradas ou relatadas pelo Blog, fazem de mim um homem mais realizado e, consequentemente, feliz.

O meu sincero obrigado a todos, em especial ao Luís Vieira e ao Rui Vasco, sem os quais este Blog não teria conseguido ganhar vida. Obrigado amigos, VIVA O BELENENSES!

Por último, como já vem sendo hábito nestas efemérides, um breve resumo estatístico da vida do Blog:
Dia com mais visitas - 11 de Maio de 2004 - 355 visitas
Semana com mais visitas - 1817 visitas
Mês com mais visitas - Maio de 2004 - 7066
Hora do dia com mais visitas - 16:00 às 17:00 - 6,68% das visitas
Dia da semana com mais visitas - Terças-Feiras - 16,5% das visitas
Visitas por países (por ordem decrescente): Portugal, EUA, Reino Unido, Roménia, Brasil, Espanha, Suíça, Holanda, França, Itália e outros
Visitas através de motores de busca - 20,28%
Motor de busca mais utilizado - Google, 86,58%

quarta-feira, agosto 25, 2004

A DÉCADA DE 80 (CONTINUAÇÃO) PARTE V - CONCLUSÕES / SECÇÃO II - O Esmorecer da Alma

Penso que foi para o fim da década de 70, que uma certa "mornice", um determinado modo de cinzentismo, foi invadindo o clube. Esse processo intensificou-se muito na década de 80 (a que nos estamos a referir, lembremo-nos), continuou a crescer na década de 90 e conduziu ao actual estado de coisas, em que são já relativamente poucos os que sabem o que foi o Belenenses, e em que proliferam os produtos híbridos: uma mescla de belenensismo (nem sempre maioritário...) e de outras coisas....

Perdeu-se a garra e o orgulho, a PAIXÃO forte mas LÚCIDA. E o clube foi sendo minado de pessoas afectas ao Sporting e sobretudo, ao Benfica. Estão um pouco por todo o lado... É terrível e assustador! Não me refiro, é claro, nem por sombras, a altos dirigentes como o Dr. Sequeira Nunes, ou o Engº. Cabral Ferreira, etc; mas refiro-me, claramente, a sectores intermédios.Já anteriormente contei o choque que tive quando, há anos atrás, num dia de um jogo com o Benfica, vi alguém que era presença assídua (e cheia de opiniões) no Restelo, equipado a rigor à Benfica, na paragem de autocarro, ao pé de uma das embaixadas...

Por isso, eu continuo a pensar que os nossos verdadeiros adversários são o Benfica e o Sporting. Não são o Porto (embora também), nem o Boavista, muito menos o Moreirense ou o Penafiel. Os nossos adversários são aqueles que nos sufocam e cujos tentáculos penetram até em órgãos do corpo belenenses, embora, felizmente, ainda não no seu coração vital. Mas pouco falta! Sim, pouco falta! É uma doença muito grave...O BELENENSES SÓ RECUPERARÁ OS QUE SE VÃO AFASTANDO por não aguentarem mais tristeza e humilhações, só recuperará pessoas que viram um Belenenses grande, que sabem que ele pode ser grande, que querem que ele seja GRANDE mas não aguentam mais vê-lo encolhido, QUANDO RECUPERAR O SEU ORGULHO E O SEU ATREVIMENTO e, com os meios que tiver, ENFRENTAR COM NOBREZA; DIGNIDADE, AUDÁCIA E PAIXÃO ESSES SEUS ADVERSÁRIOS, OS SEUS VELHOS RIVAIS. Meus amigos, nós precisamos do Benfica e do Sporting, não para nos protegerem e ajudarem, como às vezes tolamente (na minha opinião) se diz mas, sim, para serem os rivais que, ao enfrentá-los, nos devolvem a dignidade, a identidade, o fio condutor da nossa luta para resistirmos e nos afirmamos diante desses clubes.

Pelo contrário, cada vez que recorremos à sua ajuda (empréstimos ou o que seja), nós damos-lhes um sinal de submissão, nós desferimos mais um golpe no orgulho belenenses, nós fazemos mais alguns belenenses afastar-se. E não só damos ao Benfica e ao Sporting um sinal de abdicação, de capitulação, como emitimos para todo o meio desportivo sinais da nossa fraqueza. E quando se sente que é mole, há logo quem, há logo muitos quem venham pisar.

Nunca repetirei demais: fico siderado e estupefacto quando vejo as aclamações aos empréstimos; e siderado e estupefacto fico quando vejo pessoas cuja preocupação parece ser a que o Porto ganhe o campeonato, em vez de ser o Benfica e o Sporting. E o Belenenses, para onde vai?

Estamos num país latino e, nestes, é antes de tudo a paixão que move e faz crescer os clubes - mais a mais, num país como Portugal, que nunca teve uma estrutura empresarial forte de que os clubes sejam subsidiários (como em grande medida se verifica em Itália). Se há paixão, isso leva à conquista de muitas coisas, até de recursos financeiros, obtidos por uma imaginação e uma criatividade sempre operante, por uma vontade forte e determinada, por uma ambição e aspiração sempre presente; se ela morre, o clube naturalmente definha em todos os seus aspectos.

Os exemplos desse deficit de paixão clubística a que assistimos nos anos 80, foram muitos e tremendos. Recapitulemos aqui alguns a que já aludimos em artigos anteriores, e acrescentar-lhes-emos alguns outros, mais uma vez em forma de tópicos, para não nos alargarmos demasiado:

* A espantosa afirmação de Mário Rosa Freire (Presidente do clube entre 1982 e 1990) de que o bingo era o maior sucesso da história do Belenenses. A resposta de Acácio Rosa foi contundente: acusou-o de ser ignorante da história do clube. Na altura, isso deu origem a um confronto que, a vários de nós, muito nos doeu (tendo, na altura, justiça lhe seja feita, Alexandre Pais publicado no jornal do clube um belíssimo editorial apelando à reconciliação). A esta distância, não posso deixar de manifestar estima por Mário Rosa Freire, que tenho por homem de bem, e em cuja presidência se verificaram os últimos sucessos significativos do clube em termos futebolísticos; mas a sua afirmação foi bastante infeliz. Seria compreensível, se lhe tivesse acrescentado “em termos económicos”. Pena foi que o sentido integral de um clube com (então) 70 anos não estivesse mais vivo nesse tempo, apesar de tudo promissor. E isso traduziu-se em muitas coisas, até no esquecimento de continuar a prestar apoio a velhas glórias do clube, apoio esse que era não só um acto de justiça e humanismo mas, também, de inteligência em preservar esse precioso capital anímico do clube.

* A já anteriormente mencionada senhora que, na triste época de 90/91, durante um jogo em que o Belenenses se encontrava a perder e, assim, a deslizar ainda mais para a descida de divisão, estava em êxtase por, na rádio, ouvir que o Benfica havia chegado à vantagem num outro jogo (e, assim, era capaz de ganhar o campeonato ao Porto, etc…); que, num outro jogo que igualmente perdemos, passou metade do tempo a falar das guerras Benfica-Porto, e a repetir que estava desejosa que o (empresário) Manuel Barbosa “despejasse o saco” contra Pinto da Costa.

* Na antepenúltima jornada da mesma época, sabendo-se que precisávamos de ganhar esse e os dois restantes jogos para nos salvarmos da descida, e estando nós a perder por 1-0, ver um grupo de sócios completamente alheios ao que se estava a decidir e, a escassos minutos do fim, perante o nosso desespero, estarem entretidíssimos porque “o Belém talvez ainda chegue ao empate !!!”

* A inqualificável tentativa de expulsar Acácio Rosa de sócio, de que já falámos no artigo anterior.

* O completo desaparecimento da noção de amor à camisola. Poder-se-á dizer que isso desapareceu por completo em todo o lado, dando lugar a um profissionalismo puro e duro. Mas não é completamente assim. No Porto, no Benfica, no Sporting, ainda há essa referência. Pode ser que em alguns casos seja falso mas, ao menos galvaniza. Entre nós....

*Entre nós.... eu sorrio tristemente quando oiço falar de amor à camisola. Foi algo que desapareceu por completo a meio da década de 70. Os últimos exemplares terão sido Godinho e Quaresma. Amor à camisola? Não brinquemos! Amor à camisola tinham-no Artur José Pereira, Augusto Silva, Pepe, os heróis do quarto de hora à Belenenses; tinham-no Amaro e Feliciano, Matateu e Vicente, que recusavam contratos milionários para continuarem fiéis ao seu Belenenses. Agora? Nas últimas décadas? Amor à camisola?! Não brinquem connosco! Já é muito bom e louvável quando há brio e dignidade profissional, o que, de qualquer modo, merece o nosso respeito. Mas... amor à camisola?! Eu, que seria incapaz de vestir uma camisola e envergar um emblema contra o Belenenses, fosse por que preço fosse, não entendo os supostos “grandes belenenses” que, ganhando bem no clube, se transferem para os nossos rivais, aí permanecem uma carreira inteira, e até fazem parte dos clubes de fãs desses clubes, enchendo-lhes algumas páginas dos livros da sua História – essa mesmo que no Belenenses, desde os tempos de Acácio Rosa, já não é escrita, nem contada, nem publicada e, pior que tudo, nem já respeitada!

* E, aqui, interrogo-me: porque os dirigentes não intervinham no sentido de evitar que os nossos atletas estejam tantas vezes a falar em transferir-se para outros clubes portugueses (os “tais”)? Porque é que os responsáveis permitem tal coisa? Gostava, para não ser mal interpretado, de reproduzir aqui o que escrevi há tempos, no artigo “Perfis”: “...claro que queremos jogadores ambiciosos e claro que sabemos que há clubes com mais trunfos que nós mas isso não quer dizer que seja bom que um jogador que ainda nem sequer jogou no clube já esteja a dizer que está a pensar noutros… que disputam o mesmo campeonato que nós. A expressão do pensamento é livre mas acho que os responsáveis do Belenenses devem, desde o primeiro contacto com os jogadores, deixar claro que o Belenenses não é uma coisa qualquer e que, sendo legítima a ambição pessoal, não é muito respeitoso (começar logo a) falar noutros clubes, que disputam o mesmo campeonato. De resto, eu acho que, tendo o Belenenses sido e querendo voltar a ser (eu, pelo menos, quero) um dos clubes grandes, devemos todos evitar a expressão “três grandes” (eu, por uma questão de orgulho, nunca a utilizo) e fazer perceber a quem nos representa que nos fere e magoa essa alusão. Julgo que não é pedir muito. Se eu estiver a almoçar num restaurante, acho que não é muito correcto nem educado estar a declarar que queria era estar noutro restaurante ali ao pé. O que não tira o direito de, eventualmente, ir a esse outro restaurante para uma refeição futura. O que toda a gente sabe que é possível, sendo desnecessário eu estar a proclamá-lo. Além disso, põe algum travão aos ‘jornaleiros’ que, quando escolhem algum jogador nosso para entrevistar, conseguem que, mesmo assim, se fale mais tempo noutros clubes (“mas qual dos grandes é que preferia representar”, é a pergunta inevitável, às vezes repetida 3 ou 4 vezes…) do que no Belenenses”.

* Um pequeno espectáculo com raios laser (na altura, ainda quase uma raridade entre nós), a anteceder o jogo da 2ª mão com o Bayer Leverkusen. Pouco antes, acho que num encontro de apresentação do Sporting, segundo vi na televisão, no meio da encenação, surgia o nome daquele clube e o seu símbolo do leão. No caso do espectáculo naquele jogo do Belenenses, surgiu o nome e o símbolo... da Philips. Alguns poderão achar que não quer dizer nada; para mim, foi muitíssimo sintomático!

* Várias vezes víamos, nas fotografias que acompanham entrevistas de dirigentes do clube, nas instalações do Restelo, bandeirinhas e galhardetes não do Belenenses mas, sim, de outros clubes (frequentemente o Benfica...)! Felizmente, esse é um dos aspectos que foi corrigido.

* Confessos adeptos de outros clubes (mas que “também gostam do Belenenses”) a dirigir secções do clube (para depois irem fazer o mesmo no seu “clube a sério”...).

* Ver que, muitas vezes, para ilustrar situações, receios ou opções tomadas, se dão exemplos de outros clubes (o que o Artur Jorge fez no Benfica, etc.) e nem parece haver memória de idênticos exemplos no nosso Belenenses – exemplos que seria muito mais lógico utilizar, não fosse o facto de irmos perdendo a nossa identidade, repito, de irmos perdendo a nossa identidade.

* As bancadas muito desfalcadas em jogos importantes e que nos poderiam catapultar para mais altos voos (exemplos: jogos com o Bayer Leverkusen, com o Velez Mostar, com o Mónaco), porque dá na televisão e sócios (que só o são para ver os jogos com menos gastos de dinheiro...) a preferirem ficar em caao para poupar uns tostões (ressalvo aqui, claro, os que têm reais carências económicas; mas, tantas vezes, esses são os mais assíduos e generosos!).

* As bancadas dos sócios com muita gente de braços cruzados, mesmo nos melhores momentos, porque fazem gala nisso, porque acham que não têm que aplaudir, porque julgam que isso não conta, porque não batem palmas àqueles.... dos jogadores (como se estivesse em causa os jogadores e não o clube), etc. Lembro-me de alguém que fazia questão de proclamar que, em 35 anos, só tinha aplaudido um golo do Belenenses, e foi só por uns segundos...num acto instintivo e irreflectido.

* Sócios e adeptos preocupados porque, “assim”, o Benfica e o Sporting “infelizmente”, nunca mais ganham um Campeonato.

* As tristes, miseráveis celebrações dos nossos 70 anos (como, mais tarde, das Bodas de Diamante)...

* Um Presidente recém-eleito a festejar na rua a vitória do Estrela da Amadora na Taça de Portugal...

... e tantas, tantas outras situações, que seria fastidioso e exaustivo referi-las todas.

A isto, natural e inevitavelmente, vem ligada a falta de orgulho e de ambição. De tal, falaremos no próximo artigo...

Antes de acabarmos, porém, gostaríamos de repetir algumas palavras que um grande belenense proferiu, justamente no fim da década de 80: “Desejamos um Belenenses fiel à mística com que nasceu. (…) Estes dirigentes não têm sensibilidade. Deixaram o Amaro e o Serafim dois anos em total abandono. Quanto tive de lutar! Novos ricos… pobres de espírito. O que mais me confrange é que a maioria dos beléns só pensa na bola que vai à trave, no “penalty” marcado ou deixado por marcar. Pensem na “Cruz ao Peito”. Pensem que nascemos pobres, num banco da Praça Afonso de Albuquerque, que não temos a petulância das campionites. Pensem como foram construídas as Salésias, como surge o Restelo. Vendiam-se as melhores pedras, para se ter um campo. Hoje temos dinheiro. Não temos gestão. Pensem que o Bingo não é eterno. (…)

Estamos a ser ultrapassados por clubes que têm menos de metade do que nós temos. Não podemos ser subservientes. Temos a nossa independência. Respeitamos e exigimos igual reciprocidade a todos os clubes (…)

Belém: ACORDA. Pensa que o clube está em perigo”.

terça-feira, agosto 24, 2004

Boa disposicao no Restelo

Para quem acompanhava de perto o ambiente do plantel azul na epoca transacta, e perfeitamente claro um novo e desanuviado ambiente, de tranquilidade e vontade de que a epoca comece, para que todos tenham oportunidade de demonstrar o seu valor.

Este bom ambiente nao e alheio ao pleno de vitorias na pre-epoca e a confianca com que se encara a epoca que se apresta a comecar, fruto de uma escolha criteriosa do plantel e de uma equipa tecnica que mostra confiar nos jogadores que tem a sua disposicao e que tao boa conta de si tem dado.

Uma nota de realce para uma situacao de pormenor, mas que me apraz registar: a porta de acesso aos gabinetes da SAD esta agora fechada e todos, jogadores e tecnicos incluidos, tem de tocar a campainha e comunicar ao que vao para que lhes seja franqueada a entrada. Em contra-ponto com a politica de porta aberta, com os empresarios a circular, que existia nos anos anteriores. Gostei de ver.

Todos, adeptos, jogadores e equipa tecnica estao confiantes. Ladies and Gentlemans, start your engines...

Palavras que foram ditas 13: Os Dias Dramáticos de 1982


Mergulhado numa crise e num descalabro terríveis, o Belenenses sofreu a sua primeira e dolorosa descida de divisão em 1982. Coberto de dívidas, sem quase um tostão, como um fidalgo arruinado. Horas negras… Durante meses, não se conseguia encontrar uma Direcção. E no entanto, era ainda um clube cheio de prestígio, tratado com imensa reverência, que para quem é mais jovem quase custará a acreditar. A sua descida de divisão foi abertura de noticiários, capa não só de jornais desportivos mas de jornais generalistas.

Um exemplo desse conceito em que o nosso clube era tido pode ser encontrado neste excerto do “Diário de Lisboa”, quando já as nuvens se adensavam:

“É uma pena, Belenenses, se a situação do clube não ficar aclarada e horizontes desanuviados não surgirem rapidamente. O passado de um clube respeitado de chapéu na mão, não merecia o descalabro para que foi atirado”.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Palavras que foram ditas - 15

(artigo da autoria de Eduardo Torres)

Os alertas de Acácio Rosa

Na edição do jornal “A Bola” de 3 de Fevereiro, de 1990, quando se começavam a aproximar no horizonte as eleições de Maio seguinte – de tristes consequências -, publicaram-se excertos de alguns depoimentos de belenenses ilustres.

Um deles, foi o de Acácio Rosa, a alma belenenses, que viveu sempre apaixonadamente atento ao seu clube, e activo nas mais diversas frentes. Sobre ele, na mesma edição, escreveu Manuel Bulhosa: “O Acácio Rosa tem o direito de dizer tudo e, mesmo que alguma vez dê um’pontapé’, merece ser desculpado. Ele é o Belenenses, um grande homem do clube da Cruz de Cristo”.

Passados quase 15 anos, as suas (de Acácio Rosa) palavras de então – que muitos, na altura, terão considerado excessivas e sem nexo – permanecem perturbadoramente actuais. Dizia ele:
“Desejamos um Belenenses fiel à mística com que nasceu. (…) Estes dirigentes não têm sensibilidade. Deixaram o Amaro e o Serafim dois anos em total abandono. Quanto tive de lutar! Novos ricos… pobres de espírito. O que mais me confrange é que a maioria dos beléns só pensa na bola que vai à trave, no “penalty” marcado ou deixado por marcar. Pensem na “Cruz ao Peito”. Pensem que nascemos pobres, num banco da Praça Afonso de Albuquerque, que não temos a petulância das campionites. Pensem como foram construídas as Salésias, como surge o Restelo. Vendiam-se as melhores pedras, para se ter um campo. Hoje temos dinheiro. Não temos gestão. Pensem que o Bingo não é eterno. (…)

Estamos a ser ultrapassados por clubes que têm menos de metade do que nós temos. Não podemos ser subservientes. Temos a nossa independência. Respeitamos e exigimos igual reciprocidade a todos os clubes (…)

Belém: ACORDA. Pensa que o clube está em perigo”.

Repito, passaram-se 15 anos… Não podemos dormir!

Palavras que foram ditas 12: A Vitória sobre o Bayer Leverkusen


No início da época de 1988, o Belenenses cometeu uma bela proeza, ao eliminar o Bayer Leverkusen, vencedor no ano anterior da Taça UEFA, e que tem continuado a mostrar a sua força no futebol europeu, ainda há bem poucos anos tendo sido finalista da Liga dos Campeões. O Belenenses venceu ambos os jogos por 1-0, primeiro na Alemanha e, depois, na 2º mão, no Restelo.

Seguiu-se, na mesma época, um período de menos fulgor, mas que culminou em grande, com a magnífica campanha que nos levou à conquista da Taça de Portugal.

Já falei disso em artigos da série “Entre o Passado e o Presente”, pelo que não me vou repetir. Apenas gostava de referir algo de curioso, de que me acabo de lembrar:

Na final da Taça UEFA anterior (na altura, em duas mãos), o Bayer Leverkusen defrontou o Espanhol. Quando a 2ª mão estava quase a iniciar-se, o comentador televisivo forneceu alguns dados sobre o Espanyol, e eu comentei com o meu pai: “afinal é um clube com as mesmas condições que o Belenenses, porque é que não podemos chegar lá?!” (nota: na altura, não havia uma tão grande distância entre o campeonato espanhol e o português). Curiosamente, passados mesaes, saía-nos o Bayer no sorteio.

Gostava de destacar que o treinador dos alemães era um grande senhor do futebol mundial, Rinus Micheals, pai do grande Ajax e da laranja mecânica dos anos 70.

No jornal “A Bola” de 13 de Outubro, Aurélio Março escreveu alguns belos parágrafos, referindo-se à vitória do Belenenses, e aos minutos derradeiros do 2º jogo, a seguir a termos chegado ao golo:

“O público, nesses minutos finais esqueceu o sofrimento que foi aquele ‘pressing’ dos alemães, a meio da segunda parte, antes da entrada de um jogador fresco, com toda a equipa a carregar sobre a grande área do Belenenses, até já nem se lembrava do bom futebol jogado pelos portugueses, daquele ‘sprint’ admirável de Jaime, a que faltou um pouquinho de força, de um outro lance de Mladenov, que já não foi capaz de bater o guarda redes, nem se lembrava já do polémico lance de Carlos Ribeiro, aparentemente derrubado pelo guarda redes para um penalty – lá não me pareceu mas agora, aqui, na madrugada vêm dizer-me que foi. Vê-se tudo na TV.

Em boa verdade, os últimos cinco minutos foram disputados em êxtase por uma superequipa do Belenenses, que já no Domingo jogara muito bem contra o Benfica, exibindo ontem, como há tres dias atrás, uma condição fisica impecável, uma organização de jogo impossível de ultrapassar, uma concentração que não deixou aos alemães qualquer hipótese de aproveitar um erro.

UM PÚBLICO INEBRIANTE DE ALEGRIA, DA VITÓRIA, DA SEDE E DA MEMÓRIA DO PASSADO, QUANDO O BELENENSES DISCUTIA COM O BENFICA E O SPORTING, MAIS TARDE COM O F.C.PORTO, A SUPREMACIA DO FUTEBOL PORTUGUÊS.

QUE BELA VITÓRIA A DO BELENENSES, QUE BEM QUE JOGOU A EQUIPA, COMO ELA TENTA CHEGAR AO PEDESTAL QUE JÁ FOI SEU! Que bela história para os belenenses contarem mais tarde!”.

E já agora, em declarações ao mesmo jornal, a seguir ao jogo, exclamava Mário Rosa Freire, então Presidente da Direcção: “O Belenenses está, sem dúvida, a viver um momento histórico, é o regresso do velho Belenenses! O nome do clube vai ecoar pela Europa fora!”.

Mas a nossa carreira europeia não duraria muito. Tristemente, como já algures escrevi, perante a satisfação de alguns sócios, sempre de horizontes pequeninos…

Parabéns, Obikwelu!

Em nome da equipa do blog do Belenenses, aqui deixo os nossos mais sinceros parabéns ao atleta português Francis Obikwelu, pela sua brilhante prestação na prova dos 100 metros. Obikwelu, que já foi atleta do Belenenses, é um exemplo de força e dignidade que merece o respeito de todos. Desejamos-lhe ainda toda a força do mundo, na sua prova dos 200 metros!

sexta-feira, agosto 20, 2004

Palavras que foram ditas 11: Onde é que já ouvimos isto?


António Moita foi Presidente do clube entre 1991 e 1993. Fez uma presidência digna, ainda no rescaldo do grande descalabro de 90/91, e é uma figura que merece grande estima e respeito de todos nós.

No jornal “O Público” de 26 de Outubro de 1991, deu-se á estampa a sua seguinte afirmação:

“O Belenenses está hoje a trabalhar de maneira diferente”.

Foi há 13 anos. “O Belenenses está hoje a trabalhar de maneira diferente”… Tenho a impressão que ouvi isto várias vezes desde então. Até hoje…

E no entanto, sem dúvida que por vezes se tem trabalhado bem. Só que não tem chegado. Ou não tem tido continuidade. Ou é apenas numa vertente. Ou há graves acidentes de percurso…

Seja como for, procuremos todos fazer melhor!

quinta-feira, agosto 19, 2004

A época que aí vem

Académica - Apesar do orçamento contemplar 1,1 milhões de contos (para quem deve tanto a tanta gente, é estranho...), é um sério candidato à descida. Perdeu Lucas no meio-campo e José António na defesa, bem como Marcelo na frente, que apesar de mal-amado marcava golos importantes. Os adeptos acreditam muito no regresso de Dário, mas poderá não ser suficiente.

Beira-Mar - O acordo com o Stellar Group (empresa de reputação duvidosa...) parece estar a levar o Beira-Mar para a 2ª Liga. Veio um contentor de jogadores (Australianos, Checos, Uruguaios, Ingleses, Escoceses, Sul-Africanos) "estragar" um plantel que até tinha dado boa conta de si. Para além disso, perderam Levato, um pilar do meio-campo, e a situação de Kingsley está indefinida. Podem ser a surpresa, mas inclino-me mais para a decepção. É um melting pot demasiado imprevisível

Belenenses - Teremos uma época tranquila, com um plantel equilibrado e com bastantes soluções ofensivas. Entraram nomes como Juninho Petrolina ou Cristiano e muito se espera dos miúdos da "cantera". Com um pouco de sorte, podemos sonhar com algo mais.

Benfica - Lutará com o Sporting pelo 2º lugar, numa corrida pela qual à partida estará em vantagem, uma vez que tem melhor 11. O problema é que a época é longa e as soluções... um enigma. Perdeu Tiago, e as diversas entradas não parecem trazer nada de novo, à excepção de Manuel dos Santos, que em princípio relegará Fyssas para o banco. Os 2 guarda-redes contratados são talvez a anedota das contratações deste verão (talvez Pinilla ganhe a corrida... ou outra boa aposta são os reforços do Beira-Mar): o Benfica tem o melhor guarda-redes da época passada, contrata o titular do Alverca (na minha opinião, um guarda-redes banal, muito espectacular, mas que leva o seu franguito amiúde) e logo de seguida o suplente da selecção, ou seja, 2 jogadores de nível e 1 suplente com valor para um lugar específico... e o resto da equipa com tantos remendos

Boavista - Os "caceteiros-da-rotunda" estão de volta, para desespero dos amantes do futebol. É escusado gastar palavras com a forma súcia, baixa e repugnante com que praticam futebol, pelo que interessa referir só que houve uma pequena revolução no plantel, com 16 entradas, nas quais se destaca, claramente, João Pinto. Destaque também para a saída de alguns "históricos" da conquista do título de há 3 anos atrás. Ah, e claro, mantém-se o jogador mais influente... o "sistema".

Braga - Com um passivo assombroso e em grande crescimento, mais um plantel dispendioso para uma época mediana, talvez coroada com a Europa, pouco para quem tanto fica a dever. Entraram jogadores como Cândido Costa ou João Tomás, e atenção especial a Cesinha, no lado esquerdo.

Estoril - A equipa do todo poderoso da Luz, José Veiga, e presidida pelo ex-presidente da Luz, Manuel Damásio terá muitas dificuldades em ficar na SuperLiga, na medida em que o plantel é muito fraco. Espera-se que faça a vida negra a Sporting e Porto...

Gil Vicente - O Gil apresenta um orçamento de 3 milhões de euros (ai como é bom ter uma Câmara Municipal a "meter" dinheiro) e reforços de peso, onde destacaria Jorge Ribeiro e Júlio César. No entanto, a pré-época está a correr mal para os homens de Barcelos. Destaque para a saída de Gaspar para o Ajaccio, de França.

Marítimo - Tem mostrado grandes dificuldades em marcar golos o Marítimo, sem um goleador e criando poucas oportunidades. Destaque para o regresso de Danny a Alvalade e a saída de Pepe. Deverá ficar na 1ª metade da tabela.

Moreirense - O principal candidato à descida, após ter sido abandonado pelo Presidente e treinador. Só 3 contratações, entre as quais João Manuel, de 37 anos, não auguram nada de bom. Terá muita dificuldade para fugir aos 4 lugares da descida.

Nacional - Quando se pensava que o surpreende, luxuoso e esbanjador Nacional ia perder Rossato, Adriano e Serginho Baiano, eis que só perdeu o 1º. Reforçou-se com jogadores de clubes brasileiros de topo, e prepara-se uma nova época de sucesso, tudo dependendo dos pontos que fizer fora do "campo de concentração" onde jogam. Especial destaque para a entrada de Rondinelli, um bom lateral-esquerdo.

Penafiel - Contratou Drulovic (no ocaso da carreira) e um brasileiro com carreira feita de seu nome Sidney. Lutará para não descer, mas é um forte candidato. No entanto, o facto de ser presidido por António Oliveira (sim, o das praias no Mundial) deve ser suficiente para o sistema dar "tudo por tudo" para a sua permanência.

Porto - Penso que será campeão, na medida em que a oposição não mostra armas capazes de "beliscar" o Porto. Perdeu Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira e Deco, mas compensou com as entradas de Seitaridis, Pepe, Hélder Postiga, Raúl Meireles e de um génio chamado Diego. Ah, e não esqueçamos a manutenção do Maniche. É o grande favorito. O único senão é a "estória" do treinador que não o chegou a ser e que poderá ser aproveitada pelos adversários para enfraquecer a posição quer de Fernandez, quer da direcção.

Rio Ave - Sob a batuta de Carlos Brito (um treinador que dá estabilidade ao clube), o Rio Ave terá uma época mais complicada que a anterior, lutando para não descer. Gaúcho é um bom jogador "resgatado" da Coreia do Sul, mas a perda de Evandro é significativa.

Sporting - Tal como o Benfica, não deverá ter capacidade para "atingir" o Dragão. Com um guarda-redes com lugar cativo (e com suplentes do mesmo nível ou mesmo melhores), uma defesa que abana (Rui Jorge acabado, mas Paíto é bom jogador ; Beto não foi, não é nem nunca será o que o pintam ; na direita, Miguel Garcia não é lateral e Mário Sérgio continua sem vingar), um meio-campo com meia-dúzia de bons jogadores, mas todos para o centro (Rochembach, Rogério, Tinga, Custódio, Hugo Viana, Carlos Martins), sem ninguém que saiba jogar pelas alas (Tello, o pouco que rende ainda é ao meio, e Douala ou Danny não são médios-ala). Na frente, o exemplo claro do amadorismo de quem gere o futebol em Portugal: tendo um jovem com valor (Lourenço) e um ponta-de-lança experiente, apesar de vir de uma época fraca (Silva), dispensam ambos para ir buscar a Leiria Douala (que quer no Boavista, quer no Aves, quer no Leiria, só jogava a sério 6 jogos por ano) e um ponta-de-lança que nas últimas 2 épocas fez 7 jogos em clubes como o Celta de Vigo e o Chievo, e que nada tem mostrado. De resto, Niculae ou está lesionado, ou fora-de-forma, ou lento, ou trapalhão, não se afirmando. Resta Liedson para salvar a honra do convento... e dar continuidade ao bonito trabalho de JVP na arte de bem mergulhar.

União de Leiria - Há confiança entre os adeptos da equipa do Lis, pois mantém-se a estutura da última época e entraram jogadores com Krpan ou Fábio Felício. A presença na final da Taça Intertoto mostra que o Leiria está forte. O único senão é a fraca base de sustentação do clube, que o pode arrastar para baixo.

Vit. Guimarães - Praticamente fizeram uma fusão com o Moreirense. Parece ser uma época de transição, mas as promessas eleitorais poderão levar o Guimarães para o fundo da tabela, pela pressão exercida. Afinal, só Luís Mário está a ganhar 8 mil contos por mês...

Vit. Setúbal - Prepara-se para lutar contra a despromoção, podendo fazer uns "brilharetes". Aposta em alas rápidos e bons tecnicamente para servir o temível Meyong, que atrás de si conta com Jorginho. A defesa será o sector mais debilitado.

Palavras que foram ditas 10: Ainda o Drama do Restelo


Continuamos, sem grandes comentários, por serem desnecessários, a dar a palavra a Acácio Rosa, recorrendo ao seu livro “História do Clube de Futebol os Belenenses”:

“O Belenenses, que transformara uma pedreira numa zona chique de Lisboa, terrenos que com a construção do Estádio do Restelo se valorizaram nos negócios da Câmara para a construção de embaixadas e vivendas, face à exigência draconiana e insensível do presidente da Câmara, França Borges, é obrigado a pedir o resgaste.

Os sócios reúnem a 12 de Junho na Casa das Beiras. ‘Uma Assembleia Histórica’, assim classifica o jornal ‘A Bola’. A Câmara havia atirado para a rua os nossos troféus, os nossos equipamentos. A sua atitude é condenada por toda a imprensa. Homero Serpa, em artigos e entrevistas sucessivas, esclarece pormenorizadamente as injustiças e vexames a que o Belenenses estava sendo sujeito. Pessoalmente, assumi luta sem tréguas na defesa do meu clube, facto que me leva a ser vigiado nos meus passos pela PIDE (…)

O Estádio passou a estar sujeito a uma avença mensal de 16.000$00 e todas as instalações sujeitas a taxas, de modo semelhante ao que hoje se verifica nos táxis: contadores a marcar verbas, mesmo no nosso posto médico! (…)

Perante a situação criada Clube-Câmara, o Belenenses é forçado a negociar jogadores. Yaúca ingressa no Benfica. O Dr. Vale Guimarães regressa à presidência em 1964 e fixa então com a Câmara um novo contrato pelo valor mensal de 22.000$00 que engloba toda a utilização do Estádio, com excepção do ringue de patinagem e do consumo de energia eléctrica, e ainda com a condição dos campos de ténis e de golfe continuarem sujeitos ao regime de avença, permanecendo em regime de inquilinato o posto clínico e a arrecadação. Sempre que o Clube se atrasasse nos seus pagamentos, haveria que pagar juros de mora”

E, em seguida, Acácio Rosa lembra as suas declarações de então ao jornal “A Bola”: Nunca desistiremos, todos teremos de lutar pela Justiça da nossa causa. São quase 50 anos ao serviço do Desporto Nacional que exigem – temos o direito de exigir, gritando, que no mastro de honra do Restelo suba a gloriosa bandeira do Clube de Futebol os Belenenses”.

Cita ainda uma revista da época, “A Flama”: Apressadamente tudo quanto era património do grupo de Belém mudou de lugar. Mil e duzentas taças foram encaixotadas, amontoando-se em salas da secretaria. Mobiliário, material do posto clínico e equipamentos, tudo é agora uma amálgama dispersa por aqui e além. Até quando? – pergunta a História do desporto nacional, rico de factos rubricados pelos Belenenses”.

Pela nossa parte, só deixamos três notas:

* Se não nos enganamos, França Borges era um adepto do Sporting;
* Há mais de 40 anos, o valor de 16 ou 22 contos mensais (acrescidos de tudo o resto) era uma enormidade. Talvez ilustremos isto, se lembrarmos que a construção do Estádio custara 34.200 contos.
* E foi assim que o Belenenses foi perdendo capacidade de competir de igual para igual com Benfica, Sporting e Porto!

quarta-feira, agosto 18, 2004

A Década de 80 (cont.) - Parte V: Conclusões - Secção I: O(s) Grande(s) Problema(s)


Sei que a primeira e fundamental conclusão que vou tirar, nestas reflexões sobre a década de 80, não é politicamente correcta. Eu deveria dizer que não houve uma gestão rigorosa, que falhámos em termos de marketing, que não se apostou na formação (o que é verdade!), que não se explorou o merchandising, que não se profissionalizou (o que acabo por concordar ser uma necessidade… infelizmente!), que não se criaram estruturas, que vivemos agarrados ao passado, que se está sempre a criticar e no bota-abaixo, etc. É isso que fica bem dizer, não o ignoro; mas o que me interessa é vislumbrar as verdadeiras raízes dos problemas e não dizer o que está em voga dizer (e que tantas vezes é o que determinados poderes e interesses querem que nós acreditemos!).

Pois bem: na década nuclear de 80, que começou e terminou em “desgraça”, com a primeira e a segunda descida de divisão da nossa equipa de futebol, mas que nos trouxe uma grande oportunidade entre 84 e 89, com o regresso à 1ª Divisão, o regresso ao pódio, o regresso às competições europeias, duas presenças na final da Taça de Portugal, uma das quais vitoriosa, bem como as receitas do bingo, o que nos faltou foi PAIXÃO (PAIXÃO, e não uma paixãozinha sem horizontes e sem inteligência), OUSADIA (não confundir com aventureirismos eleitoralistas), INCONFORMISMO, RAIVA (no bom sentido da palavra), ALMA, VONTADE INQUEBRANTÁVEL, SENTIDO DE DIGNIDADE e PRESERVAÇÃO DA IDENTIDADE.

Tudo o que sucedeu de mal, e tudo o que de bom podia ter ocorrido e não aconteceu, teve, e continuou a ter, estas questões de princípio por raiz.

Nesta altura, não resisto a reproduzir aqui algumas das análises mais lúcidas eu tenho lido ao longo dos anos e que, com uma ou outra ligeira diferença do que eu penso, retratam muito bem essas questões.

Assim, no site oficial do Belenenses, podemos algures encontrar estas afirmações do Sr. Carlos Costa e Silva (que não faço ideia quem seja, só me importando a valia do que escreveu:

“(…) Não resisti a procurar um espaço onde debitar o que me vai na alma.

Vi ontem o Belenenses - Nacional quebrando com o coração uma ‘jura’ que tinha feito com a cabeça após os 0-5 contra a Académica - não mais ir ao Restelo enquanto esta direcção e administração da SAD permanecessem no poder. Porém, não obstante o conformado cinzentismo das Antas e o ponto heróico contra o Boavista, o coração empurrou-me ainda assim para o Restelo, vício ininterrupto de 27 anos (tenho 30).
Saí como previ que sairia: conformado e rendido a uma realidade - o Belenenses morreu! Já vivi 3 descidas, incluindo a da ‘estreia’, altura em que a descida do Belém era ainda, para muitos, um facto "extra terrestre". Por essa altura e nos anos seguintes o Restelo tinha 4.000 militantes fanáticos. Na 2ª ou na 1ª, os tempos de sobressalto geravam comoções violentas ao pé da estátua do Pepe, para onde as tertúlias militantes acorriam para aclamar os jogadores, fustigar os árbitros ou demolir direcções. Lembro-me desses tempos ainda não muito longínquos em que o Belém ainda tinha alma. Hoje já não a tem. As poucas centenas de resistentes que ainda acorreram à bancada (esqueçam o topo norte cheio das borlas do Montepio que para gozo já basta o que se passa em campo) abandonaram rápida e silenciosamente o estádio, rangendo entre dentes a mesma "jura" que eu fiz com a Académica e que desta vez não vou desfazer.

As causas do fim são múltiplas e precisaria de um dia para as descrever. As mais óbvias e contemporâneas são fáceis de identificar. Sabia-se no final da época passada que a equipa não existia e renovou-se com ela. Vigorou a incompetência, a falta de iniciativa, o medo, o não saber mais, o não querer mais, ou tudo ao mesmo tempo. (…) Não há milagres e cada um tem o que merece. Não adianta vilipendiar a sorte, culpando as lesões ou os árbitros. Comprar 8 jogadores a meio de uma época, dos quais 5 são convocados e 3 são titulares no 1º jogo, só significa que quem escolheu ficar com esta equipa estava condenado à descida antes de a época começar. É uma prova empírica indestrutível. Fazendo apelo aos conceitos de ‘dolo’ que vêm previstos na nossa lei (…), vê-se que esta descida, mais do que indesculpável, é intencional, na forma de dolo eventual ou mesmo dolo necessário. Dizer que a ‘fase da asneira’ acabou é só meia verdade. A meia verdade corresponde à aceitação de que a asneira se fez. O resto da verdade que não se disse é que a asneira não acabou. A asneira esteve plasmada em campo contra o Paços, a Académica e o Nacional. A ‘asneira’ sobe aos relvados semanalmente de azul e cruz de cristo ao peito.
Mas se descer em si já é dramático, a forma como se vai descer é letal. O Guimarães corre risco de descer, mas pulsa, arrastando milhares para casas emprestadas. Se vier a descer, regressa que nem uma mola à primeira liga logo no 1º ano; o Belém desce para se afundar na lama. Portugal é um país latino, de jogadores latinos e balneários latinos. Nesses balneários, presidentes e administradores de SAD’s que não percebam de futebol descem de divisão e apagam clubes. (…)

O problema já não é de agora. O mal do Belenenses tem raiz histórica na forma como cedo se ‘afidalgou’. A tenacidade dos heróis dos anos 30 e 40 fundou um grande clube. As gerações que se lhe seguiram viveram dos rendimentos e... gastaram-nos. Décadas de apagamento cavaram uma erosão profunda na massa associativa e deixaram o clube nas mãos de uma elite dirigente que recusa o envolvimento com o futebol que instintivamente associa a um pouco próprio ‘fanatismo’ e enleva-se com o culto de uma certa ‘forma de estar’ na sociedade Portuguesa, acatando o ‘bom rapazismo’, a inércia, a falta de ambição e uma ideia pateta de que se constroem equipas com cassetes de empresários e dezenas de jogadores à experiência a meia de uma época. A camisola do Belenenses, sozinha, deixou de ganhar jogos no final da década de 70, depois de alguns avisos na década de 60. Vamos em 2004! A reiteração do mérito das ‘continhas certas’, do ‘ecletismo’, dos ‘serviços à sociedade civil de Lisboa’ seria de louvar se não implicasse a MORTE de uma equipa de futebol, no fundo, o coração e a alma do clube. Um respeitável ecletismo (que se deve manter e renovar) não dispensa que se identifique com clareza a prioridade das prioridades. Não dispensa a necessidade de ter à frente do Clube alguém que perceba de futebol e seja ambicioso, alguém que queira construir uma equipa, que chore quando perca, que sonhe em ganhar, que se entusiasme, que faça sentir aos adeptos que dentro de campo existe trabalho e devoção. Para a elite dirigente do Belenenses, porém, vigora a tal "forma de estar" a que aludi, sentimento que passa para o balneário, somando à patente incapacidade em jogar futebol a falta de garra, a falta de amor próprio, a falta de ambição.

(…) a erosão demográfica do clube já dita as suas regras. Não há ninguém que se vislumbre no horizonte para romper com aquilo que mata o Belenenses. A tal elite dirigente, não obstante os ‘ranger de dentes’ dos que fogem como eu fugi para os carros nos últimos dois jogos do Restelo, está sozinha e incontestada por falta de alternativa e oposição.
É provável que esta direcção caia, mas será a mesma elite dirigente a absorvê-la e a tomar conta do clube. A culpa, no fundo, não é dela é minha, é nossa que nada podemos fazer a não ser ‘ranger os dentes’.

Gostaríamos de pedir que não se dê relevância à situação pontual da última década (e ao desânimo de achar que a descida era inevitável) e possíveis comparações com a actual. Tudo isso são micro-questões. Nem, por favor, se despache com um “temos que ser optimistas” esta visão tão profunda do Sr,. Carlos Costa e Silva.

[Nota: há dolo eventual quando alguém pratica (por acção ou omissão) um facto danoso, e prevendo o resultado que ele pode originar, mas confiando que ele não se verificará. Há dolo necessário quando alguém pratica um facto e sabe que essa prática trará necessariamente um facto danoso. Em ambos os casos, o agente não quer o resultado em si, mas a sua prática é consciente, admitindo (no primeiro caso) ou estando certo (no segundo caso) dos resultados advenientes.]

À mensagem que atrás citámos, respondeu, com igual eloquência, o amigo Pedro Patrão, habitual frequentador dos blogs, nos seguintes temos:

“Numa palavra: FANTÁSTICO!!! O que é pena, conforme o Carlos tão bem entende, é que essa mesma classe dirigente aburguesada, que se utiliza do poder no CFB de modo a aparecer colunavelmente em certos meandros da sociedade civil e política, mas que ao mesmo tempo desdenha o futebol, recusa-se a aparecer por causa e tem vergonha desse mesmo futebol, dito do povo, é a mesma, dizia eu, que mantém este site (…)

O meu pai, Oliveres do Nascimento Lopes Patrão, foi sócio do Belenenses durante 65 anos, de 1933 até 1998, data da sua morte. Na altura era o sócio nº100. Foi o seu último número no Belém. Foi tesoureiro, 2º cargo mais importante da época a seguir ao Presidente, na gerência de 1948, dois anos depois de sermos campeões. Não reconheço nos actuais e mais recentes dirigentes a mesma estirpe destes homens de antigamente, perdoem-me a imodéstia.

Este definitivamente não é o nosso Belenenses. Direcção, SAD e treinador não são o meu Belenenses. Porque são pequeninos nas suas ambições, nos seus sonhos, nos seus desejos, na sua raiva de diariamente quererem fazer melhor do que no dia anterior, porque fogem das suas responsabilidades, porque arranjam sempre desculpas para os seus insucessos, porque não dão a cara nos momentos difíceis, porque são incapazes de dar um murro na mesa na altura certa. Porque jogam para empatar, em vez de querer vencer. Porque jogam para não perder, quando deviam jogar sempre para tentar ganhar. Porque em vez de querer subir, só tentam não descer.

Mas, é verdade Carlos, os culpados não são eles, somos nós. Somos nós todos que não nos assumimos como alternativa a este conjunto de instalados, cujo único objectivo é o poder, as colunas sociais, os convidados de elite em certos jogos por forma a justificar mais um "beberete" junto do camarote da Direcção, mas que ao mesmo tempo têm vergonha de se misturar com o ‘povo’ a ver um jogo de futebol, de aparecer na Televisão para dizerem que são Presidentes de um Clube de Futebol.

A culpa é nossa, Carlos, mas esteja certo de uma coisa que eu já aprendi em 37 anos de sócio, desde o dia em que nasci. Eles não se importam que nós deixemos de ir ao Estádio, se os tais ‘fanáticos’ deixarem de ser os 4.000 de há vinte anos e passarem a ser só os 200 ou 300, conforme bem vimos nos jogos da Taça. Isso apenas lhes vai dar mais uma desculpa para a sua incompetência, como são os árbitros, as lesões, o ‘azar’, a chuva, o sol, o vento, o relvado, etc... Até quando, Carlos? Cabe a nós e apenas a nós respondermos.

Saudações azuis, sócio nº 1771”.

A propósito ainda da mesma mensagem, reproduzimos igualmente um comentário não assinado, que merece a nossa plena concordância:

“É de facto uma mensagem profunda, rigorosa e verdadeira. Com coração - paixão - e com cabeça - lucidez - ao mesmo tempo. Retrata exactamente os factos, e não os que aconteceram nos últimos meses mas os de décadas. O pior é, sim, isto mesmo: a morte progressiva da Alma Belenense. A subserviência, o qualquer coisa serve. A falta de paixão, de ambição, de orgulho no que fomos. É por isso que o Restelo, ano a ano, fica mais deserto. Tudo isto é triste... mas é verdade e fico contente por, enfim, alguém o ter exposto tão bem, fora das análises superficiais e imediatistas”.

E, na mesma esteira, que coliga factos passados com consequências presentes e, provavelmente futuras (e tão mais duradouras e nocivas, quanto mais tempo se passar até se começar a anular e inverter as causas), citamos também uma parte de um e-mail que um amigo nos enviou, a seguir ao recente jogo com o Celta:

“O aspecto das bancadas do nosso lindo Estádio, estava desolador. Mas se calhar, parte da resposta para que tal acontecesse, esteve naquele lamentável (para ser simpático...) erro do locutor no final da partida.

Já no último Belenenses-Braga, o meu pai, que para estas coisas do Belém tem um ‘faro’ apuradíssimo, se tinha insurgido pelo facto de o locutor de serviço no Estádio (por sinal o mesmo) ser ‘demasiado mole’ a puxar pelo público. Dizia ele, que o nosso grito era "Belém! Belém! Belém!" e não "Beleeeeeem, Beleeeeeem" (nem lhe ponho os pontos de exclamação, porque aquilo realmente não tem alma nenhuma...).

Entre tantos belenenses, não haverá um, com boa colocação de voz, para nos dar as informações sobre o jogo, para puxar pelo público com alma azul, para lembrar e pedir o apoio no último quarto-de-hora à Belém (…)?

Já agora acrescento-lhe que, depois do jogo com o Braga, o meu pai me disse ‘não me convides outra vez para ir ver o Belenenses". E olhe que no início, até elogiou bastante as melhorias do Estádio e chorou (é um ‘defeito’ de família, quando se trata do Belenenses...) ao aplaudir o grande Di Pace. Mas ele viu o seu Belém ser campeão em 46, e aquilo a que tinha assistido, para ele não era o Belenenses...

(…)

O que aconteceria, se no Estádio do Dragão o locutor pedisse ‘... e agora uma salva de palmas para a nossa equipa do Benfica!’? (…) Mas nós não... Para quê preocuparmo-nos, se o Benfica ‘até nem é um dos nossos maiores rivais", afinal"os nossos rivais são o Boavista, o Marítimo, o Guimarães...", para não dizer ‘o Alverca, o Moreirense...’”.

Mais uma vez, se tocam em pontos fundamentais. E não é apenas o simples adepto inconformado (mas cuja memória não se confina às últimas semanas ou épocas) que faz estas observações. Assim, quase a terminar o seu livro “História do Clube de Futebol Os Belenenses”, em 1991, escreveu Acácio Rosa:

“O Clube corre um risco imenso, nos dias de hoje. Não será um risco mortal, mas é certamente o de ficar longos anos em situação de triste subalternidade a clubes que já acompanhou em décadas contínuas.

Tem-se clara impressão (da minha parte certeza) que nos últimos anos, a grande maioria dos nossos dirigentes (sem mística clubística), apenas desejam ser directores, misturando-se de apoiantes e colaboradores em campanhas eleitorais ou em séquito de aduladores do presidente para deambularem nas sessões solenes… nos camarotes (…) são estes ‘beléns’, os culpados da inércia”.

Visto o essencial, tentaremos explicitar aspectos mais particulares nos próximos artigos.

terça-feira, agosto 17, 2004

O sistema "contra-ataca"

Dois pesos e duas medidas, eis tudo!
Segundo notícias divulgadas hoje, é muito provável que Rodolfo Lima seja castigado e se veja impedido de representar a sua nova equipa no jogo inaugural da SuperLiga 2004/2005, que coloca frente a frente o Belenenses e o Marítimo.
A medida não surpreende. É aliás reveladora daquilo que se perspectiva para a nova temporada, ou seja, nada de novo! Os jogadores dos clubes que se encontram fora do sistema são sistematicamente colocados num plano inferior aos 4 grandes clubes da ordem instituída - Benfica, Porto, Sporting e Boavista... não é engano: é que mesmo os que se queixam do "sistema" acabam por ser beneficiados por ele. Um exemplo: leiam o artigo sobre a forma escandalosa como a CS os beneficia em número de páginas, todos os dias. O sistema vai muito além das comissões de arbitragem e dos órgãos sociais da Liga e da Federação...
Começamos mal. Como no ano passado, lembram-se?
Nota. Eliseu joga a esta hora o amigável com Malta, no 11 inicial da selecção sub-21. António Fidalgo fez questão de mencionar, no início da emissão da RTP, alguns nomes de jogadores mais conhecidos ou com maior visibilidade dos 11 em campo. Falou de alguns nomes que não me dizem nada, apesar de até acreditar que são jovens promissores. Sobre Eliseu nem uma palavra. Enfim... é o "sistema".

Discriminações da comunicação social: estamos fartos!


Vive-se no nosso país, no que diz respeito à actividade desportiva, uma situação que dia a dia se agrava, ultrapassando todos os limites admissíveis. A Comunicação Social praticamente só fala de três clubes. Mesmo em jornais desportivos, esses 3 clubes ocupam muito mais páginas diárias do que Todos os outros clubes JUNTOS.

Nós, belenenses, estamos fartos, fartíssimos de ser tratados como uma coisa qualquer; de ver amesquinhada a nossa história, pretendendo-se apagar o FACTO OBJECTIVO de que rivalizámos ombro a ombro com esses clubes, durante décadas, e sem as benesses e os privilégios de que beneficiaram e continuam a beneficiar cada vez mais; de não vermos anunciados e noticiados condignamente os eventos que realizamos ou em que tomamos parte, quando não são pura e simplesmente ignorados; de não ser referida a ligação ao nosso clube de atletas que brilham no estrangeiro, contrariamente ao que se passa quando pertencem àqueles três clubes; dos contínuos erros na identificação dos nossos dirigentes, treinadores e atletas; do espaço exíguo que nos é reservado; da habitual colocação aos nossos atletas, muitas vezes ocupando a maior fatia da referência, de perguntas sobre esses três clubes, nomeadamente se gostariam de neles ingressar, o que acharam dos tempos em que os representaram, etc; estamos fartos da prodigiosa ignorância com que jornalistas destacados para a nossa cobertura demonstram relativamente ao Belenenses. Sim, disso e de muito mais, estamos FARTOS, FARTOS, FARTOS!

Tendo, ao longo da sua existência, passado por fases de glória, de força e de pioneirismo, que nos fizeram ser não só DOS primeiros como, em muitas coisas, OS primeiros, e por fases de infortúnio, de enfraquecimento e de falta de recursos, as características dos Belenenses ajudam os seus adeptos a não ser unilaterais na sua visão dos acontecimentos, a compreender diferentes pontos de vista, e a exigir tratamento e justiça igual para todos!

Por isso, manifestamos aqui a nossa solidariedade para com todos os outros clubes que igualmente são desprezados, ignorados ou mal tratados pela Comunicação Social! Basta do domínio oligárquico de três clubes nos media! Basta de tanta discriminação! Basta de querer fazer crer que só esses três clubes têm adeptos, e que em todos os outros clubes, os adeptos só o são em 2ª linha, como 2º clube da sua preferência e paixão. NÃO É ASSIM! Para um belenenses, é impensável que o seu clube, o BELENENSES, não seja o 1º clube. E há em Portugal, certamente mais de uma centena de milhar de Belenenses, provavelmente, aliás, cerca de 200.000. E há muitos adeptos do Vitória de Setúbal, do Vitória de Guimarães, da Académica, do Beira-Mar, do Salgueiros... de tantos outros. São centenas de milhares de adeptos destes clubes que não os três a que se dá todo o realce, que são desconsiderados, tratados como adeptos e cidadãos de 2ª classe, ofendidos todos os dias na sua dignidade e na sua paixão clubística! Basta! Basta! Basta!

Sim, basta! Como é possível que o novo penteado de um jogador do Benfica, uma vitória do Sporting contra uma equipa dos Distritais (respeitável, sem dúvida) ou o discurso de um dirigente do F.C.Porto numa das suas filiais seja capa de jornais desportivos, e objecto de transmissões televisivas, e não o seja a presença do União de Leiria na final da Taça Intertoto? Como é possível que um daqueles clubes possa ocupar 12 páginas seguidas de um jornal, quando, por exemplo, 15 clubes da Superliga de Futebol, todos juntos, ocupam 2 páginas do mesmo jornal? Como é possível que se conceda 13 páginas, a um clube da Superliga, e 12 linhas, a outro? Como é possível que se relate com muito mais pormenor e destaque uma peladinha num treino desses clubes, do que jogos para a 1ª Divisão entre outros clubes? Como é possível que, ao anunciar-se os convocados para a selecção olímpica de futebol, se tenham referido os jogadores que pertenciam a clubes estrangeiros, àqueles três clubes portugueses e, depois, acrescentado: “e mais três jogadores pertencentes a outros clubes nacionais”? Como é possível que tudo isto seja a regra e não a excepção?

Esta atitude da Comunicação Social justifica a revolta, que deve ser manifestada de modo pacífico mas inequívoco, de todos os que desta forma são desprezados, ignorados, aviltados e, além do mais, dificultados em construir ou em reconstruir a sua grandeza, face à imensa pressão dos que pretendem entronizar para todo o sempre o SISTEMA de domínio e privilégio de três clubes. ESTAMOS FARTOS! PASSOU TODOS OS LIMITES DA DECÊNCIA! CHEGOU A HORA DE DIZER “BASTA!”.

segunda-feira, agosto 16, 2004

Palavras que foram ditas 9: O “Resgate” do Estádio



Há algum tempo atrás, por causa das afirmações de uma Associação de Moradores, contei algo do que sei sobre a história dolorosa, sofrida e heróica da luta do Belenenses para construir e conservar o Estádio das Salésias e o Estádio do Restelo. Para quem, porventura, de outro modo não entenda o sentido do que hoje vamos reproduzir, remeto para esse artigo, que está nos arquivos deste blog, e a que dei o título “O Estádio do Restelo – Como o Belenenses o Merece”.

Ora, voltando ao tema, vamos transcrever excertos de actas da Direcção e do Conselho Geral do Belenenses à data do resgate do Estádio (1961), com a narrativa de Acácio Rosa:

“As condições postas [pela Câmara] eram severíssimas. Não quis por isso a direcção prosseguir nas negociações sem ouvir o Conselho Geral, no qual têm assento muitos dos belenenses que mais ajudaram a enraizar e engrandecer o clube. (…) Reuniu este órgão consultivo em 14 de Junho [de 1961] e por unanimidade e votação nominal aprovou a seguinte moção: ‘O Conselho Geral manifesta o seu profundo desgosto pelas condições em que o Clube se vê desapossado do Estádio que com tanto interesse e entusiasmo fez construir’. Mas perante a realidade dos problemas económicos e financeiros, louvando a acção da direcção, dá-lhe o seu inteiro apoio para a aceitação do resgate (…).

Depois, foi convocada reunião conjunta dos corpos gerentes: Mesa da Assembleia Geral, Direcção e Conselho Fiscal. Igualmente por unanimidade, foi deliberado aceitar as condições apresentadas pela Câmara por não se descobrir outra forma de assegurar a continuidade do clube. Em 29 de Junho de 1961, em sessão pública, deliberou a Câmara resgatar o Estádio. Na tarde desse mesmo dia foi celebrada a respectiva escritura.

FOI COM PROFUNDO DESGOSTO, COM A ALMA ENLUTADA, QUE SE ASSINOU A ESCRITURA DE RESGATE SEM A GARANTIA DE ARRENDAMENTO, MESMO PARCIAL, DO BELO ESTÁDIO QUE NAS SUAS ENTRANHAS GUARDA O SUOR HONRADO DE MIHARES DE BELENENSES. NESSE ACTO NÃO FOI PROFERIDA UMA SÓ PALAVRA”.

O último parágrafo foi por nós propositadamente reproduzido em maiúsculas, não só pela sua beleza comovente, não só por respeito aos que dessa forma sofreram e mostraram o seu amor pelo clube mas porque não as devemos esquecer, como signo de todas as desventuras porque o nosso clube já passou.

E, relendo-as, ocorreu-me aquela cena, que é quase um ex-libris do cinema, do filme “E Tudo o Vento levou”, quando a heroína, tomando um pedaço de terra do solo amado, o ergue ao alto e exclama (mais ou menos isto): “Tomo Deus por testemunha de que nunca mais haverei de ter fome! Não importa o que tenha de sofrer e lutar, haverei de viver para, quando tudo tiver passado, poder dizer que sobrevivemos!”

Rui Casaca em entrevista ao Record

O novo "homem-forte" do futebol do Belenenses é Rui Casaca. Trazido para Belém pela mão do "pesetero" Manuel José, por aqui ficou depois da fuga do referido treinador para a Ásia. Auxiliou Bogicevic na sua difícil passagem pelo Restelo e foi, ao longo da penosa temporada 2003/4, um dos alvos da incompreensão de muitos sócios. Vi com os meus olhos Casaca sair do relvado do Restelo de lágrimas nos olhos, depois de uma vitória na Taça, ao som dos mais incríveis insultos, vindos das bancadas.

Todavia, depois da tempestade vêm sempre tempos mais felizes, e Casaca é hoje um homem respeitado por todos. A coordenação do futebol foi-lhe entregue, e o ex-jogador que se notabilizou ao serviço de um dos nossos mais directos concorrentes (o Boavista) vai somando pontos junto dos sócios e adeptos do Belém. Ficou famoso o episódio em que Casaca meteu fora do Complexo Desportivo do Restelo 2 ou 3 empresários que se preparavam para impingir ao clube mais "craques" dos seus...

Hoje, o jornal Record publica uma entrevista de página inteira ao Rui Casaca:

RECORD – Como surgiu o convite para director-geral?
RUI CASACA – Com o final do campeonato foi-me pedido pelo presidente, porque ia haver uma reestruturação na SAD, para tomar conta do futebol profissional. No fundo, voltei às funções que já exerci, mas mais alargadas, porque atravesso o futebol na horizontal: desde a formação até ao futebol profissional. E pelo presidente – foi uma pessoa muito importante para mim – que fez com que eu aceitasse, primeiro pela vontade que tinha de fazer algo útil pelo clube, e segundo porque acho que as pessoas mereciam que tentássemos melhorar um pouco.
RECORD – O que é que pretendem alterar no Belenenses?
RUI CASACA – Podemos melhorar a nível da organização. Há um tipo de modelo orgânico que queremos alterar, colocando um cunho pessoal. Essencialmente para que os resultados desportivos sejam bons e que surjam com frequência. Queremos montar uma estrutura técnica que nos garanta sucesso durante várias épocas. Vamos tentar trabalhar com rede para evitar situações como a que encontrámos este ano, de ter que fazer a equipa rapidamente.
RECORD – O facto da SAD ter o Casaca como responsável pelo futebol é uma vantagem?
RUI CASACA – Há uma fluidez no discurso, porque há pouca gente a tratar dos assuntos do futebol. Digamos que há um triângulo que passa por mim, pelo presidente e pelo Carvalhal, o que simplifica as coisas e permite que estas se resolvam rapidamente. O ter sensibilidade é importante, mas nós vamos é tentar vencer pela competência, porque o ter só sensibilidade não chega. Temos que fazer a ponte entre a vontade de ter equipas e as dificuldades de tesouraria.
RECORD – No estágio foi dito que o plantel estava fechado, mas contrataram ainda Juninho e Cabral...
RUI CASACA – Nós tínhamos uma situação mais ou menos prevista, que era a entrada de um jogador criativo. Era uma questão que estava pensada desde o início, mas são situações que não são fáceis. No entanto, conseguimos resolver todas as situações que havia de excedentes no plantel. Dentro da planificação que fizemos para o equilíbrio do plantel, sentimos necessidade de tirar três jogadores e conseguimos colocação para eles. Nesta altura, o plantel está equilibrado. A situação do Juninho tem a ver com a tal vontade de ter um jogador, que não sabíamos se conseguíamos ou não. O Cabral é diferente, porque vem de uma necessidade face à lesão grave do Sousa. Penso que fomos felizes, não só pelo pelo passado do atleta no clube, mas pela sua valia.
RECORD – O plantel está fechado?
RUI CASACA – Temos um plantel equilibrado. Mas eu considero que os plantéis nunca estão fechados. Há sempre a vontade de ter mais...Tudo depende da tesouraria e da disponibilidade do presidente, pois ele quer uma equipa cada vez melhor.
RECORD – O Belenenses pode reforçar-se, então, em Janeiro?
RUI CASACA – Não. É possível ainda nesta primeira inscrição até Setembro. Se aparecer uma situação que seja boa para nós e se acharmos que é boa para o Belenenses...

«Objectivo é estabilizar jogadores e clube»
R – A meta do nono/décimo lugar não é pouco face ao plantel que têm?
RC – Todos gostaríamos de ficar numa posição mais acima. Nesta altura, o discurso é um pouco mais moderado, porque vimos de uma época atribulada, difícil, de maus resultados, e que deixou marcas em muitos dos jogadores que estão aqui. Penso que a primeira situação é estabilizar esses jogadores, o clube numa posição confortável e depois aliar a isso duas situações: tentar vencer todos os jogos e fazer bons jogos.

«Treinador não foi uma escolha feita ao acaso»
R – Há uma simbiose entre o Casaca e a equipa técnica?
RC – São pessoas a quem reconheço capacidade para fazerem um excelente trabalho. A escolha não foi feita ao acaso e esperemos que eles estejam aqui por muito tempo, e consigam solidificar as suas ideias e elevar a fasquia. Não gosto de dizer que há épocas zero, mas esta é de transição. O clube é histórico e tem um presidente apaixonado, que merece retribuição.

«Se o FC Porto quis contratar Carvalhal é uma satisfação»
R – Carvalhal foi falado para render Del Neri no FC Porto. Pensou que tal era possível?
RC – Nunca fomos contactados. O treinador, nas conversas que tínhamos tido, nunca me referiu isso. Não estávamos preocupados. A ser verdade, é o reconhecimento de que escolhemos bem. Se o campeão europeu coloca o seu nome numa lista de candidatos, é um motivo de satisfação.

sexta-feira, agosto 13, 2004

Carvalhal, uma aposta com o aval dos adeptos

Com a epoca a aprestar-se para comecar, e depois de 7 vitorias em 7 jogos de preparacao, decidimos encerrar a votacao sobre a opiniao dos adeptos azuis sobre a contratacao de Carlos Carvalhal, e apresentar os resultados finais.

Assim, os resultados finais, num universo de 197 votantes, foram:
Muito Boa - 44,67%
Boa - 30,45%
Razoavel - 18,27%
Ma - 3,55%
Muito Ma - 3,04%

Facilmente concluimos que esta opcao da administracao e do agrado dos adeptos azuis, sendo que mais de dois tercos estao contentes com a sua contratacao e, quase metade, acham mesmo que foi uma contrataao muito boa. Ate agora, os resultados da pre-epoca e a composicao do plantel estao a deixar os adeptos confiantes e a reiterar a sua opiniao expressa no Inquerito. Ainda bem.

Surge agora um novo inquerito, cujos resultados serao apresentados antes da 1a jornada, e que se prende com quais as ambicoes que os adeptos projectam na equipa para a epoca que se avizinha.

Palavras que foram ditas 8



No Relatório apresentado pela Direcção do Clube relativo ao ano de 1956, escreveu-se:

“Na verdade, é extremamente agradável e honroso falar sobre o exercício em que se ofereceu à massa associativa e ao desporto nacional esse monumento agradável que é o Estádio do Restelo. Agradável, por podermos salientar, mais uma vez, a abnegação e o carinho que a essa grandiosa obra consagraram um punhado de homens ilustres de boa vontade e grande amor clubista; honroso pela satisfação que dá aos corpos directivos de um Clube poderem registar o seu imperecível reconhecimento aos milhares de associados que, de todas as classes e dos vários cantos do mundo, souberam responder à chamada dando o seu contributo valioso, sem o qual nada poderia fazer-se.

(…)

Produto de admirável lição de amor clubista, fruto de mil trabalhos e canseiras, o Estádio fica a marcar como padrão imperecível o mais notável esforço produzido no Desporto Nacional. A construção daquele tão harmonioso conjunto, de beleza arquitectónica sem par, demonstrou insofismavelmente como são vastas as possibilidades do Clube quando todos os que lhe querem resolverem unir-se e lutar por um ideal nobre, confiantes do que podem e do que valem”.

O pior, viria depois….

quinta-feira, agosto 12, 2004

Pretérito Mais Que Perfeito... - Dia 40


Acabamos hoje, com este nº 40, um pouco mais alargado do que o costume, uma série de 126 notas demonstrativas da grandeza do nosso Belenenses. Claro que essa grandeza não se esgota nisso; mas outros, melhor que nós, deixaram o seu contributo à história gloriosa do nosso clube. E, noutras rubricas, mais factos notáveis foram já e continuarão a ser referidos.

1. Durante muitas décadas, a prova de ciclismo Porto-Lisboa foi de grande importância, a mais popular a seguir à volta a Portugal. O nosso ciclista Militão Antunes ganhou a 1ª edição e João Francisco voltou a triunfar 10 edições depois. Este último, obteve ainda um 3º lugar na Volta a Portugal de 1931.

2. Em Ginástica Rítmica, as praticantes belenenses Maria José Falcão e Margarida do Carmo estiveram presentes nos Jogos Olímpicos de 1984. Maria José Falcão participou ainda em 3 Campeonatos Mundiais e Margarida do Carmo num Campeonato Mundial.

3. Matateu foi o melhor marcador do Campeonato Nacional de Futebol em 1952-53 e 1954-55. E foi o 2º melhor em 55/56 e o 3º melhor em 56/57, 57/58 e 58/59.

4. Por quatro vezes, o Belenenses foi a única equipa a derrotar um campeão nacional de Futebol. Foi em 35/36, 37/38, 42/43 e 59/60. Curiosamente, sempre contra o Benfica!

5. No primeiro jogo que disputou contra o Benfica, o Belenenses venceu por 2-1.

6. E no primeiro jogo contra o Sporting, o Belenenses ganhou também, no caso por 1-0.

7. A Selecção Nacional de Futebol iniciou a sua actividade em 1921. Até 1935 (i.e., durante os primeiros 14 anos), o Belenenses foi o clube com mais participações de jogadores a defender as cores nacionais; até meados de 1951 (i.e., durante os primeiros 30 anos), foi o 2º; até meados de 1957, o 3º; desde então para cá, o 4º. No final da época 1929/30, o Belenenses oferecia 59 participações, seguido do Sporting com 53, do Benfica, com 38, do Casa Pia, com 28, do Vitória de Setúbal, com 21 e do F.C.Porto, com 16; No final da época de 39/40, o Sporting tinha 103, O Belenenses tinha 84, o Benfica, 82, o F.C.Porto, 73, o Vitória de Setúbal e o Casa Pia, 30. Em meados de 1950 (fim da década), os números eram os seguintes: 1º Sporting – 209; 2º Belenenses – 139; 3º Benfica – 138; 4º F.C.Porto – 105. A meio da década de 50, ou seja, em 1955, tínhamos: Sporting – 261; Benfica – 168; Belenenses – 161; F.C.Porto – 143. No fim da época de 59/60, Sporting – 323; Benfica – 249; F.C.Porto – 229; Belenenses – 190 (Boavista…13). A seguir ao Mundial de 66: Benfica – 497; Sporting – 452; F.C.Porto – 264; Belenenses – 214.