quinta-feira, junho 08, 2006

Gestão Desportiva em debate

L.Rodrigues

Decorreu na noite de ontem, na sede da Ordem dos Economistas, um debate sobre Gestão Desportiva. Foi um serão de elevado interesse, onde foram abordadas diversas questões do fenómeno desportivo e suas repercussões económicas.

O painel de convidados era composto por Eng. José Lello (ex-ministro do Desporto e actualmente Deputado), Dr. Ernesto Ferreira da Silva (Presidente da BDO e Dirigente do SCP), Dr. Cunha Leal (Director Executivo da Liga) e Prof. Gustavo Pires (do departamento de gestão da FMH).

A primeira intervenção, pelo Eng. José Lello, foi muito "política", com um discurso bem elaborado mas com pouco "sumo". Seguiu-se o Prof. Gustavo Pires, que teve na minha opinião a melhor intervenção da noite. Um homem com conhecimento aprofundado do fenómeno desportivo como um todo e que deleitou a plateia ao pôr o dedo na ferida numa mão cheia de ocasiões.

O Dr. Ernesto Ferreira da Silva teve também ele uma intervenção interessante, agora sob outro prisma: o do Dirigente de um clube. Falou sobre as dificuldades com que se deparam os dirigentes desportivos e sobre a necessidade da razão se impor à emoção em termos de dirigismo desportivo. Mas desde logo deixou o aviso: "Se apenas me guiásse pela razão, não era dirigente desportivo. Aliás, ninguém seria."

A última intervenção coube ao Dr. Cunha Leal. Depois de mais de uma hora consecutiva de intervenções, a plateia estava já sequiosa de intervir, e o Dr. Cunha Leal pouco acrescentou ao debate, lançando apenas algumas ideias sobre a Liga e as diferentes formas de organização.

Numa plateia onde estavam nomes como Murteira Nabo (Bastonário da Ordem), Manuel Botto, Joaquim Evangelista (Sindicato dos Jogadores), Leonel Pontes (FPF) ou Vicente Moura (COP), coube ao Dr. Carlos Pereira Martins, conhecido adepto azul, o pontapé de saída nas intervenções da plateia.

Nesta altura de debate de ideias, acabou por se alargar a conversa a demasiados temas e, consequentemente, não foi possível uma abordagem mais ao permenor. Salientem-se algumas ideias:
- somos o país da UE com menor taxa de prática desportiva entre a popoulação (apenas 23%)
- se a razão prevalecesse sobre a emoção na gestão desportiva, os clubes portugueses não teriam dirigentes, pois aceitar dirigir um clube é um acto de amor
- necessidade de reformulação dos quadros competitivos
- ameaças dos novos "comunitários", resultantes do Tratado de Coutouneau, que passará a partir desta temporada a assumir como comunitários os naturais dos países ACP (África, Caraíbas e Pacífico), num total de 52 países
- modelo subsídio-dependente do desporto na Europa de Leste e suas implicações
- má gestão das infraestruturas desportivas

Da minha parte, na última intervenção da noite, tentei abordar a temática da falta de promoção da Liga, referindo a quantidade de jogos televisionados e seus horários, bem como a patente falta de interesse dos operadores que compram os direitos de transmissão em promover o "produto". Questionei se a Liga não deveria ter aí um papel controlador a desempenhar, preocupando-se no momento em que cede os direitos de transmissão com outras questões para além do valor pago pelo adquirente. Respondeu o Dr. Cunha Leal que os acordos de cedência de direitos desportivos são feitos pelos clubes individualmente, e que a Liga nada pode fazer. Para além disso, como a TV que compra os jogos fica com o monopólio, faz o que quer com as imagens que tem.

Era aí que eu queria chegar. Se as querem ter, não podem fazer o que querem com elas. Mas o caminho para o Desporto em Portugal percorrer até chegar a esse nível de preocupação ainda é tão longo...

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