sexta-feira, junho 16, 2006
Belenenses é o 4º grande
Entrevista de Bruno Pires, publicada no site Sportugal:
Tacticamente, é considerado um dos melhores treinadores portugueses. Sérgio Conceição, Miguel, Jorge Andrade e João Paulo, entre outros, devem-lhe o ingresso em equipas de topo. Assinou neste defeso pelo Belenenses, até 2009, um dos dois objectivos a que se propôs no início de carreira. Falamos de Jorge Jesus, um homem crítico sobre quem manda no futebol português, mas radiante por estar num emblema que sempre venerou. Primeira Liga ou Liga de Honra? Jesus só equaciona um cenário…
Estava na U. Leiria, parecia que ia permanecer, mas optou pelo Belenenses e pela Liga de Honra. Porquê?
Não foi uma decisão fácil, tinha tudo projectado para a próxima época da U. Leiria e já tínhamos, inclusivamente, estipulado fazer uma temporada melhor. Classificámo-nos em sétimo, e, em face das condições e da qualidade que a equipa tinha, e com mais quatro ou cinco reforços, podíamos atacar a Europa. Tínhamos a ambição de ficar entre o sexto e o quinto.
Mas depois surgiu o Belenenses…
O convite do Belenenses levou-me, uma vez mais e como é apanágio meu, a assumir o risco. Eu só coloco a hipótese de jogar na I Liga, mas a verdade é que estava num projecto definido e arrisquei. Por outro lado, o Belenenses tem uma projecção maior, um passado histórico só superado pelos três grandes. O Belenenses é o quarto grande. Volto a dizer que não foi fácil decidir. Claro que, se o Belenenses não ficar na I Liga, para mim e para o clube, desportivamente falando, a situação não é a ideal.
O facto de já ter jogado no Belenenses mexeu consigo...
Quando assinei, pensei que estava a assinar com um clube grande, não me importava se era na I ou na Liga de Honra. O que me importava mais era o sentimento, porque já tinha representado o Belenenses. Aliás, quando comecei a minha carreira de treinador propus-me a treinar, um dia, duas equipas: uma era a do Belenenses, a outra não digo.
Também já representou o Sporting… A outra não digo.
Sente-se uma grande emoção da sua parte quando fala do Belenenses… O Belenenses é um clube enorme, vou com uma vontade muito grande de transportar as minhas ideias para a prática, tentar acompanhar a grandiosidade do Belenenses em termos desportivos. O clube tem muitas janelas, precisa de uma estrutura desportiva sólida.
Na Liga de Honra, a meta é, logicamente, subir ao escalão maior.
Não, não é, porque o Belenenses vai ficar na I Liga.
Dá como certa a manutenção na I Liga. Se isso acontecer, a Europa pode ser um desafio real?
Não. O Belenenses não tem estrutura para atingir a Europa. Precisa de uma dinâmica colectiva que ainda não tem. O objectivo será estabilizar, e para o ano vamos tentar abraçar esse projecto. O Belenenses tem de estar sempre nos primeiros seis, sete lugares. Também estive no Belenenses dois anos e era para essas posições que a gente andava. No futebol, o passado não conta.
"Aconselhei-me com Couceiro e Carvalhal"
O Belenenses teve, na época transacta, dois treinadores. Talvez as pessoas com melhor perfil para traçarem a radiografia a Jorge Jesus
Chegou a falar com José Couceiro?
Falei com o José Couceiro e com o Carlos Carvalhal. Telefonei para ambos e pedi-lhes conselhos, porque eles conhecem o Belenenses melhor do que eu. Fiz esses contactos, no sentido de ficar mais esclarecido e consciente da realidade e do valor da equipa. Dialogámos sobre o Belenenses na sua globalidade. É importante aconselharmo-nos com pessoas que estiveram lá dentro.
As conversas foram agradáveis?
Claro, tenho uma amizade desportiva boa com os dois, e é assim que tem de ser quando há seriedade e respeito recíproco.
"Redução foi pensada por quem não percebe nada de futebol"
Um dos veteranos do futebol português tem uma visão muito crítica sobre a redução de clubes. Quem decide é criticado por Jorge Jesus, um técnico preocupado com o facto de algumas cidades históricas ficarem sem futebol de primeira.
Concorda com a redução da Liga de 18 para 16 clubes?
Não, com 16 a Liga não fica mais competitiva. A redução foi pensada e analisada por pessoas que não têm conhecimento nenhum do que é a qualidade do futebol em Portugal. Pensam que vai ficar mais forte e com mais qualidade. Estão enganadas. Estamos a falar de pessoas que se sentam nas secretárias mas que não percebem de futebol. Foi uma decisão errada, e tenho a certeza do que estou a dizer. O futebol é um desporto que pode unir e juntar povos, é uma modalidade do povo, ao tirarem duas equipas da I Liga estão a tirar futebol a algumas cidades de Portugal. Quando se reduz, está-se a pensar na vertente financeira e a defender as equipas grandes. Há países da Europa que não aceitam esta deliberação da FIFA. A FIFA quer é ter mais tempo para os seus campeonatos e com isso tira identidade aos campeonatos nacionais. Infelizmente, Portugal não bate o pé.
"Conto com todos os jogadores com contrato"
O Belenenses tenta a todo o custo reduzir encargos. Nessa linha, alguns futebolistas de renome têm sido sondados para renegociarem os seus contratos. Entre eles, existem três que já envergaram as quinas ao peito.
Rui Jorge, Romeu e Silas, três internacionais portugueses, arriscam-se a jogar na Liga de Honra. Conta com eles?
Conto com todos os jogadores que têm contrato com o Belenenses. Não posso mandar jogadores embora com contrato. Em termos desportivos, qualquer deles pode ajudar o clube.
O presidente Cabral Ferreira tem enveredado por uma política de optimização de custos, que passa por tentar reduzir os vencimentos dos jogadores. Como é que esse processo está a decorrer?
Isso tem passado pelo presidente, não tenho muito que ver com isso. Quero é organizar uma estrutura desportiva. O presidente está a negociar e, segundo me tem dito, há alguns jogadores que têm apresentado muita dignidade ao entenderem as dificuldades de tesouraria. É necessário ajustar as coisas à realidade e, em simultâneo, procurar o melhor para o jogador e para o clube.
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