No final de mais uma brilhante temporada dos Conquistadores, fomos entrevistar o nosso director desportivo Nuno Lopes.
Blog: O que é que nos tens a dizer sobre estas três, fantásticas, épocas do Belenenses?
Nuno Lopes: No término desta terceira época chegamos ao final, daquilo que eu tenho vindo a dizer, de um ciclo projectado, em que nada foi deixado ao acaso.
Quando o futsal se iniciou no Belenenses, a direcção pediu-nos que em dois anos se atingisse a 1ª divisão, ao que acrescentamos mais um ano, que foi o da consolidação na 1ª divisão. Penso que além dos objectivos estabelecidos pela direcção, a análise que se pode fazer é que tudo isso foi obtido com distinção, pois para além das subidas de divisão, o clube e os adeptos foram presenteados com dois titulos nacionais. As presenças na taça de Portugal, nos dois anos iniciais, foram brilhantes, por isso a nivel desportivo penso que todos os objectivos foram cumpridos com distinção.
Este ano fomos considerados pela imprensa da modalidade a equipa revelação, por todas as razões, por ser uma equipa que ia no seu terceiro ano de formação, por ser uma equipa vinda dos escalões secundários, por não contar com atletas profissionais, por ter também sobre si o peso de uma camisola que pesa muito, porque um clube com a grandeza do Belenenses teria de estar no futsal da mesma forma, com grandeza. Eu penso que tudo isso foi obtido com muita distinção.
Blog: Nesta época de estreia na 1ª divisão, alguma vez vos passou pela cabeça não atingirem os objectivos?
Nuno Lopes: Na minha cabeça e na deste grupo de trabalho não. Obviamente que não te vou mentir se disser que nesta época houve alturas complicadas, em que, em função dos resultados obtidos no imediatos, porque num clube como o Belenenses, o imediato conta muito, isso tivesse mexido com o interior do grupo de trabalho mas nunca ao ponto de se instalar a descrença ou por em causa os objectivos.
Posso destacar que houve alturas muito importantes nesta época. A temporada foi muito complicada em que durante a pré-época e a própria planificação da mesma, embora os resultados sejam o menos importante, e aquilo que nos interessava era dotar esta equipa de experiência de competição com equipas melhor preparadas e melhor apetrechadas que a nossa, independentemente dos resultados não interessarem muito, não deixa de ser desprestigiante para um clube como o Belenenses, sofrer resultados como aquele que sofreu no torneio do Freixieiro e em função disso e por também o clube não estar preparado para alguns dissabores que daí pudessem advir por competir com equipas mais experientes, esse resultado fez com que se iniciasse o campeonato, não digo sobre brasas, mas com a necessidade de termos de provar a nós próprios que poderíamos ser uma equipa com bases fortes de 1ª divisão.
O 1º jogo com o Piedense como a 1ª deslocação para jogar com o Rio Ave foram jogos em que a equipa não estava totalmente tranquila, fruto da inexperiência como grupo e não como jogadores, foi uma altura importante da época. Houve outras duas em que após um período menos conseguido em termos de pontos, foram 5/6 jornadas seguidas que culminou na 1ª vitória obtida fora, no campo do Sassoeiros, arrancada a ferros por muitas razões, fruto da intranquilidade vivida, não da descrença, criada interna e externamente, porque ninguém no Belenenses gosta de perder, mas que foi uma fase em que o grupo se uniu mais e quem viu esse jogo em Sassoeiros ficou bem patente que essa vitória só foi conseguida em função do valor do grupo de trabalho, da sua união e do acreditar neles próprios.
A partir daí criou-se de novo uma harmonia grande e o acreditar que o trabalho iria dar frutos. O acreditar nesta equipa técnica foi uma constante, independentemente dos boatos vindos do exterior que esta equipa técnica estava em perigo, mas tive sempre uma confiança cega neles pois nunca duvidei do seu valor, nem sequer admitia qualquer questão que fosse posta nesse sentido, tanto que depois desse jogo em Sassoeiros seguiram-se duas inequívocas vitórias em casa frente ao Sporting de Braga e ao Alpendorada e que demonstraram o valor do trabalho efectuado. O resultado do jogo do Piedense fora, acho que ainda hoje podíamos lá estar a tentar marcar golos que não conseguiamos… E depois vêm 2/3 jogos em que veio ao de cima o trabalho realizado, para além da vitória caseira frente ao Rio Ave, seguiu-se a vitória no terreno do Sporting de Pombal, com muita garra, luta e amizade deste grupo de trabalho, frente a um grupo com tradições, obrigações e responsabilidades no panorama do futsal, vitória essa que tentaram camuflar porque fomos sempre superiores e vulgarizamos o Sporting de Pombal, coisa que causou sempre muita azia aos seus responsáveis. Para finalizar esta série, ganhamos em casa ao Olivais, uma equipa fantástica, conforme demonstrou neste play-off, uma equipa muito bem construída, muito sólida e que nós, fruto do nosso trabalho diário, intenso, em que sempre acreditamos que iria dar frutos, conseguimos aqui vencer o Olivais, coisa que nem todos conseguiram e a partir daí foi o continuar, mas com muita serenidade e com todo o apoio quer interno quer externo, as pessoas acreditaram que estes atletas tinham muito valor e que iria conseguir a permanência na 1ª divisão.
Blog: Qual o momento mais negativo desta época?
Nuno Lopes: O mais negativo foi a derrota no pavilhão Açoreana Seguros, há jogadores que nunca tinham perdido por aqueles números, não há muito para explicar, como disse um sócio, essa derrota só acontece com uma equipa que quer ganhar o jogo, embora isto pareça paradoxal, é verdade. Se assumissemos uma postura de perder por poucos, perdiamos por poucos, mas nós fomos jogar esse jogo como sempre jogamos contra equipa profissionais, sendo ousados, em que alcançámos resultados bastante nivelados, nomeadamente frente ao Sporting, em que demonstramos que poderíamos ter sido mais felizes, mas é óbvio que perder por aqueles números deixa sempre marcas, no bom e no mau sentido.
Vi lágrimas na cara do grupo de trabalho e depois vi lágrimas de comoção, que é um momento que eu nunca mais esquecerei na minha vida, que foi na 2ª feira seguinte, durante o intervalo de um jogo de futebol, dezenas e dezenas vieram manifestar-se, e quando os atletas pensaram que era em protesto, foi sim, apoiá-los. Isso é demonstrativo da união existente. A derrota foi um momento marcante pela negativa. Pela positiva foram aqueles que eu já referi, a vitória no terreno do Sassoeiros e as duas vitórias seguidas frente ao Sporting de Pombal e ao Olivais.
Blog: Que tens a dizer sobre o apoio dos adeptos ao longo destes três anos?
Nuno Lopes: Foi fantástico, ainda hoje me é dificil explicar o apoio. Relembro que no início destes 3 anos, a equipa fez um treino contra o GROB que depois originou o Odivelas, para esses atletas era surreal ter cerca de 20/30 pessoas a assistir ao jogo no polidesportivo com faixas e com tambores a incentivar os jogadores. Isso foi um indício para o começo da modalidade no clube. Na altura havia duas claques muito representativas, enquanto agora há só uma, mas o apoio das duas nesse ano foi muito importante. Todos os jogadores que já representaram o Belenenses em futsal nunca foram elitistas, ou seja, nunca viveram com saltos altos, foram jogadores que sempre gostaram de conviver com adeptos, que sempre gostaram de conversar com adeptos, para quem era importante o incentivo e um abraço dos adeptos, para quem era importante um aperto de mão e um tomar de café para conhecerem os adeptos. Eles sabem o nome dos adeptos. É comum ver-se em todos os jogos os jogadores saudarem sempre os adeptos, seja qual for o resultado. Há jogos marcantes neste pavilhão.
Blog: Queres destacar algum jogo?
Nuno Lopes: Não mais esquecerei o jogo contra o Coimbrões, foi electrizante. São momentos que só de pensar provoca pele de galinha porque quem está sentado naquele banco e a jogar contra uma equipa de 1ª divisão recheada de bons valores, o resultado era desfavorável para nós, em termos de condição física estavamos a anos-luz do adversário, portanto, a recuperação no marcador só foi possível com o apoio do público e com a força que os atletas tinham. Foi emocionante ver tanta gente a apoiar o clube.
Houve outros, tal como em Marinhais, em que o pavilhão se encheu de Belenenses, a festa aqui com o Marinhais, a festa em Braga em que os jogadores comemoraram com os adeptos, mesmo com algumas derrotas este ano, os adeptos viam em nós aquilo que gostariam de ver no clube no seu todo, uma equipa ganhadora, com mística, com garra, com alma, que respeita os pergaminhos do clube e que respeita os seus valores, com gente que gosta de estar no Belenenses, e que não era pelo pequeno subsidio que era dado pelo clube que lutava como lutava para engrandecer aquela camisola, as pessoas gostavam de nós por tudo isso e isso merecia, acima de tudo, o nosso respeito. Houve muitos momentos marcantes, se calhar estou a ser injusto ao não referir outros, mas pessoalmente, estes foram os que me marcaram mais.
Blog: Queres acrescentar mais alguma coisa a estas três épocas?
Nuno Lopes: Estas três épocas foram marcantes e eu não posso deixar de enaltecer aqui, e fi-lo no principio desta época, quando acabaram os dois primeiros anos, mas não posso deixar de agradecer mais uma vez, do fundo do coração, a todas as pessoas que trabalharam comigo e para o clube a título gratuito, não me posso esquecer de todos os seccionistas, é dificil ter aqui pessoas todos os dias desde as primeiras horas da tarde até perto da meia-noite, mas não podia deixar de agradecer ao Paulo Pereira, ao António Silva, ao Eduardo e a todos os que tornaram isto possível porque isto não é fácil, assumir que é sempre para subir, tudo isto obriga a muitas horas, não me posso esquecer de muitos jogadores que já cá não estão, outras estão no clube ligados às equipas técnicas, o capitão do 1º ano Carlos Teixeira foi muito importante para o Belenenses, estando actualmente ligado à equipa junior onde dá continuidade á mística do futsal do Belenenses.
E eu gostava que esta mística fosse do clube, transversalmente, em todas as modalidades, adorava, enchia-me de orgulho e só iria deixar satisfeitos os adeptos pois era sinal de que as equipas do Belenenses lutavam até ao último minuto pelo melhor resultado, porque se se tiver valor e estivermos unidos, os resultados aparecem, seja em que modalidade for, não quero com isto dizer que nas outras modalidades isto não acontece, eu sei da minha, não quero opinar sobre as outras, concerteza que numas acontece, noutras acontece menos e os resultados estão à vista.
Sem qualquer tipo de bajulação, quando este projecto se iniciou foi construído à volta de uma pessoa, porque não é fácil trazer jogadores para a 3ª divisão, quando estes têm categoria de 1ª divisão, o clube conta muito, o engrandecimento dos atletas quando vestem a camisola do Belenenses é enorme, mas que ninguém duvide que não é fácil, quando não havia um orçamento muito grande e o valor oferecido aos atletas como subsídio para os seus gastos era mais baixo em função daquilo que tinham noutros clubes, e aí funcionou sempre e até a própria credibilização do projecto beneficiou com isso, este foi um projecto que funcionou sempre à volta de uma cabeça, cabeça essa era o nosso treinador Manuel Jorge, era e irá continuar a ser, pois mostrou a toda a gente que o critica por despeito e inveja, que sempre acreditou no seu trabalho, valorizou-se em termos académicos a custos próprios, lutou muito por aquilo em que acreditava, transformou muitos jogadores, porque havia jogadores em quem ninguém acreditava e este técnico a uns recuperou, a outros deu tudo aquilo que eles são hoje e eu sei que esses jogadores lhe estão agradecidos, se não houvesse essa figura, dificilmente o projecto tinha tido o êxito todo que tem agora, por isso, o seu a seu dono, foi a pessoa mais importante deste projecto todo.
Fim da primeira parte. Segunda parte sobre o futuro do futsal do Belenenses irá ser publicada em breve.
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