Carlos Carvalhal: «Quem eu vir acomodado não fica no Belenenses»
Satisfeito com o "ano zero" da sua equipa, o treinador prepara a luta por um lugar europeu na nova época, mas avisa que vai estar muito atento aos próximos jogos.
RECORD – Quando faltam seis jornadas para terminar a SuperLiga, estão cumpridos os objectivos principais do Belenenses?
CARLOS CARVALHAL – Para responder, importa primeiro recuar no tempo. Fomos contactados pelo clube no defeso, depois de o Belenenses não ter descido de divisão por um golo. Os jogadores estavam desvalorizados, num clube onde é difícil recomeçar o trabalho. Depois, é preciso ver que o mercado no defeso é muito limitado, para além das limitações do próprio orçamento. O que nos pediram foi estabilidade, criando uma estrutura e um modelo que identificasse o futebol do Belenenses. Recrutámos jogadores na Liga de Honra, prometemos lançar jovens e cumprimos. Não havia estrutura, não havia forma de jogar; basicamente, foi preciso começar do zero. A oito jornadas do fim, havia esta época uma assimetria acentuada em relação à anterior.
RECORD – Podemos concluir, então, que é positiva a resposta à pergunta anterior?
CARLOS CARVALHAL – Os objectivos a que nos propusemos foram atingidos. Isto não quer dizer que não queiramos ganhar o maior número de pontos nos jogos que faltam. Exijo jogadores ambiciosos, que aceitem ganhar com naturalidade e que fiquem tão chateados como eu quando não ganham. Por estranho que pareça, este é um momento importante da época, porque vou poder avaliar a motivação individual e colectiva, e estarei em condições de conhecer melhor os jogadores, para tomar decisões. Não gostei do último jogo e não quero jogadores acomodados. Quem eu vir acomodado, não fica no Belenenses.
RECORD – Isso é um aviso?
CARLOS CARVALHAL – Não. O que quero é perceber quem é intrinsecamente ambicioso e não apenas motivado pelo ambiente exterior. O que fizeram até hoje foi importante, talvez determinante, mas há uma faceta por descobrir: a da motivação/acomodação.
RECORD – O novo presidente quer a equipa a disputar as competições europeias regularmente. É possível cumprir este objectivo?
CARLOS CARVALHAL – Há duas formas de colocar a equipa na Europa. Uma passa por contratar jogadores consagrados, descapitalizando o clube. Conseguia-se o objectivo talvez logo no ano zero, mas no ano seguinte podia descer de divisão. A postura do Belenenses é diferente, com equilíbrio financeiro, para criar estabilidade no primeiro ano e tornar depois a equipa mais competitiva. Quem segue esta via não pode querer as coisas em dois dias. Certo é que vamos partir para a nova época já com uma estrutura e um modelo, e essa é uma vantagem.
RECORD – Já tomou decisões sobre o futuro plantel?
CARLOS CARVALHAL – Tenho ideias na cabeça, e já transmiti algumas, mas as coisas continuam em avaliação. Vamos aproveitar o núcleo duro desta época e reforçá-lo.
RECORD – É possível chegar a um lugar europeu na próxima época?
CARLOS CARVALHAL – Estamos em oitavo, e é claro que na próxima época queremos terminar melhor. E fazer melhor é terminar num dos chamados lugares europeus. Acredito que vamos conseguir. Aceitei este projecto porque sou ambicioso e acredito que há margem para fazer melhor. Há condições para acabar com o sofrimento dos adeptos.
RECORD – Já conhece o orçamento para a próxima época?
CARLOS CARVALHAL – Pelo que sei, não será aumentado. Por isso há que confiar no meu trabalho, mas também no Rui Casaca e no eng. Barros Rodrigues, que são as pessoas mais próximas para preparar o futuro. Aliás, é bom ter pessoas do futebol como o Casaca, o Godinho, o Medeiros e o Zé António, que falam a mesma linguagem que eu.
RECORD – Que opinião tem sobre o novo presidente?
CARLOS CARVALHAL – Não temos falado muito, mas a opinião é excelente. É um trabalho de continuidade. Houve uma relação fantástica com o dr. Sequeira Nunes mas poucas conversas tivemos sobre questões menores do futebol. Os assuntos foram sempre tratados pelo Rui Casaca, que é o director desportivo, e cumpre muito bem esse papel. Confio que também será assim no futuro.
«Quero subir passo a passo na carreira»
Carlos Carvalhal é ambicioso, quer chegar longe, mas vai fazer tudo com calma: "Quando vim para o Belenenses tinha mais opções. Tive resultados na II Divisão B e na Liga de Honra. Apesar de jovem, tenho currículo, e cheguei à SuperLiga por mérito próprio. Hoje sinto que sou melhor que ontem. O tempo tem sido o melhor aliado. Quero subir passo a passo na carreira. Prefiro isso a uma ascensão meteórica. Sou ambicioso, tenho objectivos, e sei que um dia vou lá chegar. Estou muito bem no Belenenses e gostava de sair com obra feita. Há ainda uma época difícil pela frente."
«Foi certamente o ano mais difícil»
Carvalhal vê enormes diferenças entre as equipas que desenvolvem um trabalho de continuidade e as que são forçadas a começar de novo. E recorre a exemplos: "Trapattoni que me perdoe, mas o trabalho dele foi de continuidade, enquanto tarefa diferente tiveram os treinadores do FC Porto". E isto mostra a dificuldade do seu próprio trabalho, quando antevê a nova época: "Este foi certamente o ano mais difícil, e a tendência é que o próximo seja melhor". E qual terá sido o ponto alto da época? "O que me deu mais gozo foi recuperar jogadores desvalorizados, que eram assobiados. Alguns são hoje muito aplaudidos."
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