(Artigo da autoria de Joaquim Nunes, que gentilmente nos enviou este artigo para publicação)
Acho melhor começar pelos aspectos positivos.
Em primeiro lugar, temos um Presidente em que nos podemos rever com satisfação. O seu belenensismo é incontestável e comprovado ao longo de épocas. Não será, talvez, uma figura que se imponha na comunicação social – e vale a pena aqui perguntar se seria chamado, caso tivesse outros talentos como comunicador – mas é uma pessoa digna, que se distingue pela sua correcção e por uma evidente seriedade. Não é nem um “mafioso”, nem um arruaceiro, nem um pacóvio, como vemos em tantos casos, noutros clubes.
Em segundo lugar, adquiriu-se estabilidade e credibilidade financeira, que nos faz seres pagadores escrupulosos, honestos e pontuais, coisa de que muitos não se podem orgulhar.
Em terceiro lugar, precisamos de aplaudir o excelente património que se tem vindo a construir, a conservar ou a renovar no Restelo. O exemplo máximo, mas não único, é obviamente as obras no Estádio, de que cada vez mais nos orgulhamos, e que foi uma resposta digna aos estádios construídos para o Euro. Um sinal de resistência!
Finalmente, e em especial na última época, algumas excelentes prestações nas modalidades amadoras, de que a equipa de Basquetebol foi o expoente máximo, que tanto mais nos alegra e aquece a alma quanto é certo que se caracterizou por um espírito de luta magnífico e exemplar. Acresce, também, o bom arranque do Futsal, o título de rugby do ano passado e as boas prestações dos escalões jovens do futebol – apesar do mal esclarecido processo de saída do treinador dos juvenis.
Mas nem tudo são rosas. Pelo contrário, houve muitos espinhos e, além disso, o caminho para a frente parece ter muito mato cerrado.
Todos nos lembramos do que foi a última época futebolística. Mas já a de 2002/2003 tinha começado a adensar nuvens, apesar de um bom começo, que uma série de arbitragens incríveis que sobre nós se abateram não permitiu traduzir em mais pontos. Marinho Peres vinha insistindo que precisava de defesas, de mais defesas, porque era claro que a dupla Filgueira / Wilson já apresentava uma acentuada veterania. Toda a gente via mas deixou-se esticar a corda até ao limite. E quando vieram Odaír e Orestes, Manuel José resolveu dispensá-los. Fez-se-lhe a vontade. E deu no que deu…
Mas nós não somos dos que pensamos que as épocas anteriores de Marinho Peres (nesta sua mais recente passagem pelo Belenenses) foram gloriosas e correspondentes quase ao máximo a que podemos aspirar. Trouxeram apenas resultados razoáveis atendendo às circunstâncias (reequilíbrio financeiro), e assentes em três vectores: a sagacidade de M. Peres, os jogadores que ele descobria no Brasil em condições comportáveis, e um núcleo duro herdado de anos passados, basicamente o que resultou do esforço de novo regresso do purgatório da Divisão de Honra: Marco Aurélio, Wilson, Filgueira, Tuck, Cabral, Neca…
O facto é que há 15 longos anos que os inconformados adeptos belenenses (isto é, aqueles que ainda não estão por tudo) esperam e desesperam por um motivo para festejar no final da época. E quanto mais tempo passa, mais difícil se torna. Fomos, durante anos a fio, dos 4 únicos clubes que nunca haviam descido…perdemos esse estatuto. Fomos, durante quase 60 anos, um dos 4 únicos clubes a serem campeões nacionais…recebemos a companhia do Boavista. Já nem somos vistos como um clube candidato às competições europeias mas, sim, como um clube do sobe-e-desce.
Quem espera…desespera! Bem sabemos que ser do Belenenses exige uma têmpera especial… mas não abusemos! Todos os dias esperamos ansiosamente notícias para a próxima época. Está tudo ainda muito indefinido mas confiemos… dentro de limites. É preciso compreender o sentido da assobiadela do último jogo do triste campeonato 2003/4. É preciso compreender que queremos uma equipa que lute, que respeite e ame a camisola azul, que mostre um mínimo (“mínimo” é maneira de dizer) de qualidade de jogo. É preciso compreender que estamos fartos de tiros de pólvora seca, de conformismos, desorganizações e barracadas. É preciso compreender que estaremos ao lado dos responsáveis sempre que (mas só se) houver garra, determinação, ânimo inquebrantável. É preciso compreender que queremos ver as coisas bem feitas. É preciso compreender que já se devia estar a pensar na época de 2005/2006 (sim, não é engano), criando um sistema de prospecções a sério para preencher as debilidades que não possamos colmatar imediatamente e para construir uma equipa que, ano após ano, se torne mais forte, seja treinada por quem for. É preciso compreender que queremos olhar para cima e não para baixo, jogar para ganhar e não para empatar, para os lugares de topo e não para fugir ao abismo. É preciso compreender que estamos fartos de humilhações perante outros clubes, que achamos que a honra e a dignidade não têm preço. É preciso compreender que queremos ver o estádio cheio, mesmo que por causa do louvável acordo com a Digás, mas não para esperar um milagre de não descer, e sim para se verem boas exibições e conquistas, que façam vir mais público em vez de o afastar. Para que um dia não tenhamos o estádio totalmente vazio, mesmo com bilhetes oferecidos…
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