quarta-feira, junho 09, 2004

Década de 90: Parte II



Embora não tenha dado lugar ao que propriamente se possa chamar grandes assistências, mas apenas razoáveis, gostava de lembrar o início da época 92/93. Regressámos pela segunda vez da 2ª Divisão e entrámos muito bem no campeonato. A um ano da incúria, caída a direcção de Ferreira Matos / Joaquim Cabrita, seguiram-se excelentes contratações, de que destaco o Emerson (com o qual acho que fizemos péssimo negócio com o Porto), o Mauro Airez (que o Benfica nos rapinou, numa chico-espertice género Paulo Madeira) e o Luíz Gustavo. Estivemos várias jornadas em 2º (mas acabámos em 6º). Houve algumas boas assistências no início dessa época, por exemplo em jogo contra o Guimarães (então treinado por Marinho Peres; o nosso treinador era Abel Braga). Ganhámos por 3-0, após excelente exibição, com cerca de 15.000 espectadores. O Topo Norte estava bem composto, e as bancadas dos sócios também estavam bastante razoáveis.

Nessa altura, a televisão começou a transmitir cada vez mais jogos, e mesmo nos embates contra os clubes mais populares (que passaram a ter lugar ao Domingo à noite, à 2ª feira, etc.) as assistências diminuíam em flecha. Por exemplo, num Domingo à noite dessa época, em jogo com o Benfica, não terão estado mais que umas 10/12 mil pessoas (mesmo assim, quase o dobro do Belenenses-Benfica desta época). Então, porque aludo aqui a esse jogo? Porque ele foi bem sintomático. Foi um jogo vivamente disputado, de “faca na liga”, como disse um jornal na altura, que terminou empatado 1-1. Mas os incidentes justificam referência. Fizemos uma excelente 1ª parte e ao intervalo ganhávamos 1-0. Durante o intervalo, uma horda de animais das claques do Benfica atiraram-se ao senhor (com 60 ou 70 anos!) que tomava conta do marcador, agrediram-no e “emendaram o resultado” para 1-10. Perante a correcta indignação dos sócios do Belém na respectiva bancada, resolveu a mesma matilha investir, com todo o tipo de armamento bélico, caras vendadas e símbolos neo-nazis. Após alguma passividade, a polícia lá interveio, quando muitos deles já subiam redes separadoras. São assim, os nossos amigos do Benfica! (Eu digo isto, mas não confundo aqueles arruaceiros, de qualquer forma uns milhares, com as muitas pessoas de bem, entre as quais alguns amigos, que são do Benfica. Felizmente, pois se todos os adeptos do mais popular clube português fossem como aqueles energúmenos, então isto era a selva total).



A seguir ao intervalo, o terrorismo chegou dentro do campo. Logo nos primeiros minutos, interpretando (?) mal a recém-criada regra de penalizar certos tipos de atraso para o Guarda-Redes, o senhor árbitro inventou um livre quase dentro da nossa baliza, de que resultou o golo do Benfica. E resolveu também expulsar o nosso jogador Taira. Em seguida, o jogo descambou para contínuas picardias entre os jogadores. De ambos os lados, note-se. As equipas acabaram ambas reduzidas a 9. No plano técnico, o árbitro continuou a acumular decisões duvidosas contra nós (pelo menos uma dentro da área do Benfica). Mesmo no fim da contenda, Luís Gustavo, a passe de Mauro Airez, enviou a bola estrondosamente à trave da baliza do Benfica (na 2º parte, como é mais habitual, atacávamos para o lado do Tejo). Seria um golo sensacional… O incrível, é que o capitão do Benfica, Veloso, meses mais tarde, teve a desfaçatez de referir-se ao árbitro dizendo que já os tinham prejudicado no Restelo! Maior lata, só a do Mozer sobre o nosso 1º golo na final da Taça que ganhámos em 89, e que contarei adiante…Arbitragens piores, houve muitas, bastando lembrar duas delas: a da 1ª jornada do ano da nossa 1ª descida (81/82), em que saímos de Alvalade com um empate 2-2 e com …8 jogadores, mais um penalty inventado contra nós, a escassos minutos do fim, tão escandaloso que os sócios do Sporting, justiça seja feita, gritavam ao Jordão para atirar a bola para fora, na concretização (o que ele, claro, não fez, nem tinha que fazer, com profissional que era); ou a da última descida (97/98), aquele jogo no Restelo, também contra o Benfica, em que perdemos 2-1, com uma bola que não entrou e com um fora de jogo aí de uns 10 metros. E tantas outras, tantas outras, quase sempre contra os mesmos…

(Artigo da autoria de Eduardo Torres, com continuação na próxima semana.)

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