Depois, há que recuar 10 anos até 1994, a um jogo da Taça contra Benfica. Foi a estreia de José Romão a treinador. Ele começou bem mas acabou e saiu mal; aquele jogo foi exactamente ao contrário, ou seja, começou mal e acabou em beleza.
Não me lembro já porquê, cheguei atrasado ao jogo. Quando ia a passar junto ao “Maracanãzinho”, ouvi um bruá. Era um golo do Benfica. Logo aos 5m, salvo erro pelo João Pinto. Nessa época eles ganharam o campeonato (último até hoje e oxalá que por muitos anos… acho que só deveria poder haver um vencedor: o Belenenses!) e tinham ainda o Rui Costa, entre outros excelentes jogadores. Apeteceu-me voltar para trás e nem entrar no estádio. Felizmente, entrei (nesse jogo, fiquei na bancada do lado do Tejo, então aberta aos sócios): ainda na 1ª parte, demos a volta ao jogo com dois golos, um deles um autêntico portento de execução do Luís Gustavo. Na 2ª parte, o Benfica pressionou mas o Belenense jogou com muita alma e vencemos 2-1 (o pior foi que, na eliminatória seguinte, fomos perder a… Lourosa). Bela tarde, essa no Restelo, e uma grande assistência, que terá superado as 30.000 pessoas. Só um facto triste: fora do estádio, três jovens belenenses que festejavam a vitória foram cercados e selvaticamente agredidos por um bando de bestinhas de uma das claques do Benfica. Não foi a primeira nem a última vez… Revoltante!
(Já agora, recordo que nessa época ganhámos o Campeonato de Andebol, empatando na última jornada, por 21-21, contra o Benfica, no nosso Pavilhão, cheio como um ovo, e quase todo de azul. Sofreu-se bastante… Precisávamos de ganhar ou empatar; se ganhasse o Benfica, ia o título para ele. Estivemos quase sempre em vantagem, às vezes folgada, mas na 2ª parte deixámo-nos empatar e eles até chegaram a ter um golo de vantagem (18-19). Voltámos a recuperar, a uns 2 minutos do fim ganhávamos 21-20, eles fizeram o empate a escassos segundos do fim e depois… contámos esses segundos até à explosão de alegria. Foi a última vez que ouvi gritar no Restelo: “Campeões! Campeões! Nós somos campeões!”)
As outras duas grandes assistências nos anos 90, a dizer a verdade, até podiam ser incluídas na década anterior, visto que tiveram lugar na 2ª parte da época 89-90. Em jogo contra o Benfica, o Restelo recebeu 35.000 pessoas, para assistir a um empate 0-0 (perdemos grande oportunidade de ganhar mesmo a acabar o jogo). A poucas jornadas do fim, estiveram cerca de 25.000 espectadores na nossa vitória por 1-0 sobre o F.C. Porto que nessa época foi campeão e ainda ia invicto no campeonato. Foi um grande golo de Macaé, na baliza do topo Norte, já na 2º parte. Estávamos outra vez a jogar muito bem, com o treinador Moisés Andrade (o “Xerife”) e parecia que iríamos repetir a vitória na Taça de Portugal, que alcançáramos no ano anterior. Nos quartos de final, fomos ganhar 2-0 a Setúbal, no célebre jogo em que os responsáveis sadinos de então resolveram apagar a luz a 10m do final, tentando (em vão) que o jogo fosse repetido. Estive no Bonfim, com muitos outros Belenenses (julgo que cerca de 5.000), numa 4ª feira à noite. Que grande exibição fizemos! Na altura, estávamos a usar uma táctica curiosa, com três centrais, ladeados por dois jogadores (Paulo Monteiro e Zé Mário (havia saído no início da época mas voltou a meio), que tanto recuavam para defesa, como faziam de médios ala, como avançavam até à baliza adversária ou até à linha para cruzar. Naquele dia, alinhámos: Mihailov; Paulo Monteiro, Edmundo, José António, Oliveira e Zé Mário; Jaime, Juanico e Gonçalves; Chiquinho e Saavedra. Os golos foram de Chiquinho e Gonçalves. Curiosamente (há coisas assim…), no Domingo seguinte, em jogo a que não assisti fomos outra vez jogam ao Bonfim, ganhámos outra vez por 2-0, outra vez pelos mesmos autores de golos, outra vez pela mesma ordem, outra vez um em cada parte, outra vez exactamente nas mesmas baliza!
Na meia final, no Restelo, ao intervalo, vencíamos o Farense por 1-0...mas então, em plena campanha eleitoral aterrou de pára-quedas o Major Ferreira Matos no relvado. A partir daí, foi uma série de desgraças: logo nesse jogo acabámos por perder. O Major Ferreira Matos, boa pessoa mas completamente incapaz para o cargo, foi tristemente eleito Presidente, apesar de o seu “programa” (se é que assim podia ser chamado) ser ridículo e patético, uma péssima escolha, reveladora de conformismo e falta de ambição e dignidade belenense, de que sofremos tristes consequências, entre as quais, a nova queda na Divisão de Honra em 90-91, uma grave crise em todos os aspectos, etc. Voltarei a falar um pouco mais sobre isso lá mais para a frente.
(Artigo da autoria de Eduardo Torres, com continuação na próxima semana.)
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