(Artigo de opinião de Carlos Gustavo Rodrigues)
Todas as selecções têm a sua sina. Por vezes essa sina é quebrada, mas estatisticamente não falha. A Alemanha, por exemplo tem como sina não ser apontada como favorita e chegar á final. A Holanda tem como sina jogar bem e não ganhar nada. O destino da Itália é sofrer a bom sofrer e morrer na praia. Portugal tambem tem a sua sina. E a sua sina é jogar razoavelmente bem contra equipas “boas” e inexplicavelmente mal contra equipas “menos boas”. Basicamente, não nos damos bem com a responsabilidade de vencer. A pressão. Infelizmente esta conclusão não abona mesmo nada a favor de uma competição realizada em solo luso... mas a ver vamos.
Intimamente ao exigirmos mundos e fundos desta selecção, ainda vivemos na ideia de que esta é a “geração de ouro” de Riade e Lisboa. Simplesmente não é. Essa selecção assentava num guarda redes claramente acima da média (Vitor Baía), na melhor dupla de centrais do mundo (Fernando Couto, Jorge Costa), num médio defensivo de classe mundial, com uma visão de jogo como mais ninguem (Paulo Sousa) e num tridente atacante de luxo composto por um virtuoso (o Rui Costa), um carregador de piano (o Figo) e um baixinho com muita garra que era uma mistura dos outros dois, ainda que especificamente não fosse tão bom como nenhum deles (o João Pinto).
Ora bem... Esta selecção contem apenas três desses elementos, todos eles veteranos. Quem substituiu os outros? Na baliza temos um homem psicologicamente em baixo, que nesta época mais não foi que um dos piores guarda redes do campeonato (Ricardo). Sim, um dos piores. O que faz ele na selecção? Não sei. Sei que ainda hoje levámos mais um golo em que ele teve claramente responsabilidades. O mistério para mim é o facto dos jornalistas se apressarem a “esclarecer” os telespectadores que não, que não havia responsabilidades dele, mas apenas do lateral direito. Já estou mais descansado. No meio da defesa temos dois homens que não se entendem um com o outro. Um, que era da tal “geração de ouro” está no ocaso de uma grande carreira. O outro estará ainda a crescer, mas ou eu me engano muito ou não passará de um defesa central mediano ao nível de selecções. No meio campo defensivo está um bom jogador (Costinha), muito útil a destruir, com garra, mas que não tem nem de perto nem de longe a classe de um Paulo Sousa. Á frente, o trio atacante ainda é composto por dois dos três elementos da “geração de ouro”, só que bastante envelhecidos. Se no caso do Figo isso mal se nota (ele continua a ser fundamental na manobra da selecção), o Rui Costa, por muito boa pessoa que seja, é uma sombra do que foi a jogar futebol. O outro elemento do trio (Simão) é um bom jogador, perigoso, lutador, mas nada mais do que ligeiramente acima da média ao nivel de um campeonato europeu, e certamente muito menos influente do que era o João Pinto. Á frente, está um dos nossos actuais craques (Pauleta) que é assim como o homem invisível. Só se dá por ele quando marca golos, de outra forma nem vemos que ele existe. Estatisticamente, ele “existe” num em cada três jogos... é suficiente? É discutível, atendendo a que nos restantes a equipa joga praticamente com dez.
Assim, e friamente, percebe-se que esta selecção não pode ser avaliada pela mesma bitola da “geração de ouro”.
Mas nem tudo são más notícias. Ao ver a segunda parte, ao ver o Figo a endossar em profundidade a bola ao miúdo que entrou lá para dentro, vi nisso muito mais do que um simples passe, vi antes uma passagem de testemunho. Sim, porque o Cristiano Ronaldo mostrou que é realmente um “fora de série”. Não apenas “acima da média”, não, nada disso, um “fora de série”. E são os “fora de série” que fazem normalmente a diferença nestes jogos. Alem disso, temos um bom defesa central no banco. O Ricardo Carvalho é de longe o melhor central a actuar em Portugal actualmente. Temos um excelente médio no banco tambem, Deco claro. Outra excelente notícia é que temos dois guarda redes “normais” a suplentes! Um deles é mais experiente, o outro será muito inexperiente mas porventura melhor, mas, e isto é que é importante, são guarda redes “normais”!
Quanto ao treinador, é claro que é fácil depois de se perder com a Grécia criticá-lo por esta ou aquela opção. Dou-lhe carta branca, excepto numa situação. É inadmissivel que o Ricardo seja titular da baliza da selecção. Se calhar acham que tenho um quid pro quo qualquer com o homem, mas olhem que não, olhem que ele deveria ter sido o titular no mundial de 2002. Simplesmente, desde aí tem sido verdadeiramente transparente nos clubes onde jogou e na selecção. E se o Sporting sacrifica o Nelson e porventura o segundo lugar do campeonato para o tentar empandeirar para um clube estrangeiro que queira meter o gorro, o selecionador não tem que ter dessas preocupações comerciais...
Para finalizar, e como sou um optimista, quero partilhar convosco o seguinte pensamento: Ao perder com a Grécia, meus amigos, apurámo-nos para os dezasseis avos de final!
EXACTO! Já lá estamos! Já passámos os grupos! Agora todos os jogos que aí vêm são para nós a eliminar. Como (esperemos) faltam cinco, já chegámos aos dezasseis avos!
P.S. – Já agora, quem é que diz áqueles rapazes que um canto deve ser marcado directo e não curto? No único canto “normal” que vi Portugal marcar, deu golo. Eu estou farto de ver jogos e avaliando a eficácia (ou antes, a falta dela!) dos ditos, parece-me espantoso como é que se continua a insistir em marcar cantos curtos.
domingo, junho 13, 2004
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