Episódio #2: A «MEIA VINGANÇA» DE 1968
Muito se falou e falará daquele fatídico golo de Martins a quatro minutos do fim do Belenenses - Sporting da época de 1954-55. O Belenenses vencia então por 2-1 e se o jogo assim tivesse terminado, sagrar-se-ia campeão nacional pela 2ª vez na história, mas o Sporting empataria e ofereceria assim o título ao rival Benfica que ao mesmo tempo derrotava o Atlético por 3-0. Foi a última jornada do campeonato e, apesar de igualado em pontos com o Benfica, o Belenenses terminaria em segundo porque o desempate favorecia os encarnados. Foi talvez o mais amargo momento de toda a carreira desportiva de sempre do Belenenses, esse empate com o Sporting nas Salésias.
Treze anos depois, no dia 12 de Maio de 1968, na última jornada do campeonato nacional de 1967/68 voltaram a defrontar-se Belenenses e Sporting, desta vez já no Restelo.
O título de campeão 1967/68 foi disputado palmo a palmo por Benfica e Sporting até à última jornada. Antes da penúltima jornada o Benfica comandava com um ponto de avanço sobre o Sporting mas tinha de visitar o Porto e receber o Varzim, enquanto o Sporting recebia o V.Setúbal e viria ao Restelo. Em caso de igualdade pontual seria campeão o Sporting, que tinha fundadas esperanças no título devido á difícil deslocação do Benfica às Antas.
Na penúltima jornada o Benfica empatou 1-1 nas Antas e o Sporting perdeu inesperadamente 0-1 com o VFC. Assim, na última jornada o Sporting para ser campeão necessitava de vencer no Restelo e que o Benfica perdesse com o Varzim, o que parecia difícil.
Curiosamente o treinador do Varzim era o argentino Ricardo Perez, que jogou pelo Belenenses no fatídico jogo de 1955 nas Salésias. Nesse último dia do campeonato de 1967/68, Perez recordou o jogo de 1955:
- Nessa altura o Sporting «roubou» o título ao Belenenses e todos nós chorámos como crianças a quem tivessem tirado o mais apetecido brinquedo. Enfim, coisas do futebol...
Recorda-se como «aquilo aconteceu»? (jornalista do "Record")
- Como se fosse hoje! Eu marquei o segundo golo do Belenenses e passámos a ganhar 2-1. Ainda tive uma oportunidade de tento, mas sabe-se como é o estado de espírito dos jogadores de uma equipa que precisa de ganhar para ser campeã. Depois o Sporting cresceu e empatou e foi o fim das nossas ilusões...
Em 12 de Maio de 1968, as equipas alinharam:
BELENENSES - Serrano; Rodrigues, Quaresma, Cardoso e Esteves; Lua e Luciano; Adelino, Ernesto, Laurindo (Ex-Desportivo do Bié) e Sérgio.
SPORTING - Carvalho; José Carlos, Armando, Alexandre Baptista e Hilário; Dani e Gonçalves; José Morais; Lourenço, Márinho e Peres.
José Morais e Luciano lutam pela bola
Laurindo, vindo de Angola, estreava-se pelo Belenenses na última jornada. Só houve equilíbrio nos primeiros vinte minutos. Depois o Belenenses sentindo-se dono do jogo não mais parou de atacar. No último quarto de hora da primeira parte houve um autêntico assalto à baliza de Carvalho. À meia hora após falhanço de A.Baptista, remate pronto de Laurindo, defesa de Carvalho e recarga de SÉRGIO para o 1-0. Seis minutos depois, ERNESTO escapou-se à defesa contrária, aproximou-se da baliza e obteve o 2-0 com facilidade.
Após o intervalo o Sporting esboçou uma reacção mas os azuis embalados voltaram ao ataque e fizeram o 3-0 aos 16 minutos por ERNESTO com um pontapé de longe. Oito minutos decorridos, LUA empreendeu uma descida até à grande área do Sporting, Carvalho abandonou os postes e defendeu o remate do brasileiro, mas não pôde deter a recarga que fez o 4-0.
A crítica de Francisco Camilo do "Record", salientou que o Belenenses jogou alegremente ao ataque como nos bons velhos tempos! Os atacantes Ernesto, Adelino, Laurindo e Sérgio, provocaram o desnorte completo da defesa do Sporting.
Ernesto, Adelino, Laurindo e Sérgio os avançados azuis que destroçaram a defesa do Sporting
Treze anos após o "desastre" de 1955, o Belenenses obtinha uma «meia vingança», porque o Benfica também tinha vencido o Varzim treinado por Ricardo Perez...
Rectificação - No primeiro dos episódios da história do CF Belenenses intitulado «Os efeitos de uma bola caprichosa», escrevemos erradamente que o resultado tinha sido de 1-1, quando foi de 0-0. O jogo foi efectivamente repetido e voltou a terminar empatado, desta vez sim por 1-1.
1 comentário:
Bom post. Fiquei ao corrente da verdade dos factos :)
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