quinta-feira, setembro 18, 2008

Vai um Pastelinho? V



Amigos Belenenses,

Esta semana ocorreu um acontecimento que me descansou em relação ao futuro imediato da nossa equipa de futebol. Entre treinos e jogos de treino só com derrotas, entre um treinador que afirma que a equipa joga a um nível de 2ª divisão, entre as entrevistas do Wender onde se profetiza a repetição de uma dose que ele já soube servir à lagartagem ao mesmo tempo melancolizando sobre os meses que lá passou; entre o cascar incessante dos jornais desportivos, entre os que pedem a cabeça do treinador já, e entre os que preferem esperar por domingo; entre todos estes lapsos, a nossa estrutura técnica, a directiva e os activos mais activos deste clube, que são os jogadores, foram para a patuscada!

Uma excelente ideia! Que outro de entre os vãos prazeres mundanos, contribui de forma mais activa para o estabelecimento de laços entre homens de barba rija? Que males ou que desmoralizações não se curam com a sardinhita a estalar sobre uma fatia de pão, as batatinhas e a salada de pimentos? Por outro lado, foi esta também uma excelente oportunidade para o nosso demissionário presidente eleito, abandonar a sua torre de marfim de contemplação e vir dizer aos jogadores, olhos nos olhos, aos técnicos, fraternalmente, o quanto neles confia quem neles tanto apostou. O momento parece-me tão mais de assinalar quanto dele saiu realmente uma conclusão: “os jogadores querem ir ganhar a Alvalade!” Mas então não haviam de querer?

Contudo, e pelo que me foi dado observar na única fotografia a que tive acesso do Jornal Record, o intercâmbio cultural ainda não é o prato forte do plantel do nosso clube. Como o nosso excelentíssimo Presidente da Assembleia Geral tão pertinazmente observou, a patuscada serviu para “cimentar a amizade e a confraternização entre o grupo”, no entanto observa-se que essa coesão se obtém em separado: os portugueses para um lado, os brasileiros para o outro. Não que exista mal nenhum nisto, cada um deve sentar-se onde bem entende, não transmite é o mesmo sinal de coesão que é sintonizado para a massa associativa. E que jeito dava, digo eu, que o Cândido Costa se sentasse com o Baiano e dissertasse sobre a ala direita, que o Zé Pedro aflorasse a técnica de passe com o Arroz, que o Silas traduzisse ao João Paulo onde vão cair as assistências...

Quem deve andar atónito é o Dominguez. Ele que, parecendo que não, já foi adjunto de Belenenses e Sporting no passado, sob a égide de São Marinho Peres, ele que, por muito que desconfiemos, já deu instruções a jogadores como Mladenov, Dudu, José António, Sobrinho, Jaime, Mapuata, Chiquinho Conde, para falar dos do Belenenses; Douglas, Silvinho, Careca, Damas, Carlos Xavier, Oceano, para falar dos do Sporting, ele que já treinou o Pescadores, que até se deve ter sentido em casa na almoçarada, ele que no seu regresso à Primeira Liga – grande jogada dos nossos dirigentes!!!- cheio de passado e de feitos, bem que podia ter bebido uma cervejola a mais no repasto, e ainda calhava ensinar aos debutantes do nosso plantel como é que as lendas do passado tratavam a redondinha e a faziam trepidar as redes. Era um favor que prestava pelo menos a mim. Isto claro, e estou em crer que não, se os debutantes não se assemelharem à rapaziada que ele treinava nos pescadores. Aí, o remédio é pedir outra imperial.

Ou degustar um leite creme. Os doces são um óptimo paliativo para as dores e eu, à cautela, já providenciei o frigorífico. Não vou a Alvalade, atitude que de resto sou o primeiro a censurar. Num mundo ideal todos nós lá estaríamos a sofrer, mas nem o mundo é ideal nem o Belenenses tem sido exemplo de aglutinações de associados. Estou a tornar-me, decididamente, um adepto de sofá nos nossos jogos fora, o que não me impede de antecipar o seguinte: a tónica dos comentadores estará focada na nossa última vitória em casa do Sporting, em 54-55; seremos roubados de certeza absoluta, principalmente se o Sporting não marcar cedo; haverá penalties e eles só serão a nosso favor se estivermos a perder pelo menos por três; se a meio da segunda parte estivermos empatados passaremos a jogar com dez; se ganharmos, o Mior é o maior! É também provável que acertemos no poste mas só nos lembraremos disso se perdermos pela margem mínima. Como também é provável, se acontecer perdermos, que contra o Leixões o Dominguez reocupe um posto provisório que, aliás, já foi seu provisoriamente, nos tempos em que ainda se atrasava a bola ao pé para o guarda-redes: a de treinador interino.

Vamos embora Belém!

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