quinta-feira, setembro 04, 2008

Vai um Pastelinho? III




Amigos belenenses,

E pronto, Fernando Sequeira lá se demitiu, ao fim de 5 meses de “enxovalhos, ameaças e tentativas de agressão”, segundo as palavras do próprio, e o nosso clube volta a estar à deriva, sem presidente, sem direcção, sem candidatos aparentes que lhe queiram pegar, sem basquetebol, sem pólo aquático, sem vitórias no campeonato, sem público nas bancadas, sem estrutura, sem gente nova, nada, nada, nada... A impressão que transparece é que isto já só lá ia com a compra do clube por algum magnata russo ou tailândes, alguém que injectasse não sei quantos milhões nos cofres do Restelo, capitalizasse a instituição e a tornasse apenas num vestígio aparente daquilo que para todos nós o Belenenses é, ou deveria ser.

Não conheço o Sr. Fernando Sequeira e não votei nele. É certo que ele foi o único candidato às últimas eleições, no entanto nada no seu discurso me apelou ao voto que confirmasse o meu apoio às suas ideias e às suas convicções. Tenho uma certa embirração por “salvadores da pátria” e então quando eles começam a manifestar tiques sebastianistas, quase messiânicos, a minha aversão torna-se verdadeiramente patológica. Quanto a mim, o Sr. Fernando Sequeira pode ter sido ameaçado, insultado, vilipendiado nos seus direitos de “cidadão comum” e, sendo isso verdade, e não padecendo essa queixa de qualquer exagero, todos nós belenenses deveremos sentir um pouco de vergonha; no entanto, que esta fuga parece ser isso mesmo, uma fuga, a fuga de alguém que em 5 meses desenvolveu um trabalho em que já não acredita, no qual talvez nem sequer se reveja, lá isso parece.

Sou um homem de letras e assumo nada perceber de gestão financeira. Talvez por isso a minha análise à presidência do Sr. Sequeira esteja ferida de alguma injustiça, na medida em que apenas me posso reportar ao que é aparente, ao que os meus olhos observam e o meu cérebro conclui. Não conheço os extractos bancários das contas do clube, não estou a par do dossier finanças do Belenenses, nem sei qual é o valor de mercado de uma caldeira. Mas sei que há 5 meses atrás o treinador da nossa equipa de futebol se chamava Jorge Jesus, sei que a defesa alinhava com o R. Alvim, o Hugo Alcântra e o Rolando, no meio campo jogava o Amorim, o Rafael Bastos e o Fernando e no ataque, quem marcava golos era o Weldon. Também sei que a nossa equipa de Futsal só não foi campeã porque foi roubada a torto e a direito, sei que fomos campeões nacionais de Rugby, sei que o Basquet e o Andebol com mais ou menos dificuldades representavam dignamente o clube, sei que só não nos qualificámos para a UEFA pelo 2º ano consecutivo porque dois ou três artolas meteram água, e sei que, devagarinho, as assistências aos jogos no Restelo iam crescendo, timidamente, mas iam.

O Sr. Sequeira pode ser um genial administrador de instituições bancárias, pode ser um mago das finanças, pode-se ter rodeado por pessoas competentíssimas para o ajudarem no seu árduo trabalho de garantir a sobrevivência do clube, mas claramente o Sr. Sequeira não percebe um boi de futebol. Claramente também, os tais dotadíssimos colaboradores do Sr. Sequeira, percebem tão pouco de futebol como ele; e, se a herança económica que herdaram poderia ser pesada, a herança desportiva que legam aos vindouros é absolutamente catastrófica. O mal, o que torna a coisa verdadeiramente preta, é que o Sr. Sequeira e os seus colaboradores nunca se deveriam ter candidatado à presidência de um clube de futebol se, pura e simplesmente, não se sabem mexer neste meio. Porque gerir um clube de futebol extravasa em muito a simples equação do deve e do haver, e se todos concordamos que nos dias de hoje é fundamental que um clube se encontre saneado financeiramente, também todos somos unânimes em considerar que um clube de futebol com uma equipa de futebol fraquíssima pode caminhar para todos os lados menos para o da saúde económica. Porque, meu caro Sr. Sequeira, se o seu devaneio presidencial teve algum resultado palpável foi o de transformar o que era bom no que é péssimo. Abaixo de péssimo, praticamente amador.

Senão vejamos: a direcção do Sr. Sequeira, em nome da saúde financeira do Belenenses, deixou escapar todas as mais-valias desportivas que tinhamos. O que é assustador, e aqui reafirmo que não percebo nada de gestão financeira, é que não sei quantos arrozes e não sei quantos Mateus e não sei quantos Edimilsons e não sei quantos Vanderleis se calhar correspodiam a um Hugo Alcântra ou a um Rodrigo Alvim ou mesmo a um Devic, com a diferença de que os últimos mesmo com as pernas partidas valiam mais do que os primeiros completamente inundados em speeds. Por outro lado, o contentor que veio para o meio-campo, os Organistas e os Pachecos e os Juliões e sei lá mais quem, se calhar correspondiam a um Fernando, ou a um Rafael Bastos ou mesmo, a um Hugo Leal, que ainda que passasse meia época lesionado punha toda esta cambada a um canto. Temos ainda o ataque, ou como eu gosto de afirmar, o grupo de baile da primeira liga portuguesa, para o qual o Sr. Sequeira mandou vir um Marcelo, um Maykon, um Negão ao que se juntam, qual jogada de génio, alguns dos maiores coxos que têm passado pelo Belenenses, casos de João Paulo Oliveira, Evandro Paulista ou mesmo Roncatto. Oiça Sr. Sequeira, antes de nos atirar com números para as fuças, o senhor deveria ter feito uma equação simplicíssima, daquelas que até eu que não percebo um boi de gestão financeira sei fazer: era pegar nas oito bostas que nós lá temos, subtrai-las, e adiccionar às continhas um Weldon e um Meyong, nem que tivesse de fazer subir um júnior para completar o ramalhete. Assim, temos 31 jogadores inscritos na Federação, qual Chelsea de Belém, e o senhor ainda teve que andar à pesca de mais duas “trutas” mesmo a terminar o prazo de inscrições. Graças a Deus que o Jesus deve ter ficado pastel e dispensou para cá o Wender, que mesmo estando prestes a acabar para o futebol, sempre é melhor que a fantochada que por lá anda a fingir que sabe jogar à bola.

Contudo Sr. Sequeira, o que mais me custa é a atitude de mártir que tomou: “vou-me porque tenho medo de levar no focinho!”. Então o Senhor, tão ciente e sabedor das dificuldades do Belém, tão «azul» como se apregoa, tão competente como se vê, abandona o barco completamente à deriva antes mesmo de dar uma oportunidade à tripulação? Que rico belenensismo esse! Antes o Ramos Lopes e o seu suicídio desportivo! Antes o Matias e a sua megalomania! Antes até o Carlos Janela que nem do Belenenses é, que levou mesmo no focinho, que foi corrido a pontapé e que apesar de tudo assumiu os seus erros e se bateu por nós na comunicação social. O senhor, pelo contrário, ainda não se tinha demitido e já parece que tinha marcado uma entrevista com “A Bola” a enterrar o pouco que ainda restava de pé...

Todos sabemos que ainda tentou o brilharete de bater com a porta depois de assinar com o Adriano, mas quer que eu lhe diga porque é que o Adriano não veio? Não veio porque qualquer jogador de qualidade que se preocupe com a sua carreira, prefere a bancada do Estádio do Dragão à ponta da lança da equipa que o Senhor e os seus colaboradores reuniram. Prefere o Porto B ou C ou Z do que aquela miséria de trapalhões, treinados por um “cara” que quer substituir não sei quem no jogo com o Paços e se deixa levar por um erro na exibição das placas, tirando o Gomez e consequentemente perdendo o meio-campo, perdendo a equipa, e só não perdendo o jogo porque o milagre soou ao cair do pano. E digo mais Sr. Sequeira, se calha a equipa ser tão má como parece, nós vamos mesmo bater com os costados na 2ª Divisão e aí... bem, aí o senhor há-de estar descansadinho em sua casa, a curtir uma bela reforma, enquanto quem sente e ama este clube há-de estar desesperado e lavado em lágrimas a tentar perceber o que foi que nos aconteceu.

Viva o Belenenses!

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