quarta-feira, agosto 02, 2006

Coincidências...

Blog

Passamos a publicar um artigo da autoria de Manuel Benavente, sócio do Belenenses e que escreve um artigo mensal na revista Contabilidade e Empresas, suplemento do jornal Vida Económica, com sede no Porto. O título do artigo é "Superliga, Futebol 2004-2005: Alguns Números", e é uma breve análise às contas dos clubes portugueses.

A parte curiosa da questão é que este artigo, que supostamente teria sido publicado em 30 de Junho, ainda não foi publicado... O que se passou então?

O artigo foi publicado no dia 30 de Junho, mas curiosamente os últimos parágrafos não foram publicados. Exactamente a partir do ponto em que se fala do "Caso Mateus"...

Ao que parece, tal corte deveu-se a uma decisão do revisor, por falta de espaço para enquadrar todo o artigo na página a ele destinado, sem que para tal tivesse sido informado o autor. Ficou então a promessa de publicação do artigo, na íntegra, na edição do mês seguinte da revista Contabilidade e Empresas, que seria publicada em 28 de Julho.

Curiosamente, no dia 28 de Julho não foi publicado o suplemento Contabilidade e Empresas, ao que foi possível apurar por "problemas com a paginação", sendo que o mesmo suplemento deverá ser publicado em 11 de Agosto.

Parece-nos que não é minimamente verossímil que possa ter havido um corte propositado no texto no mês de Junho e, mais ainda, que o suplemento não seja publicado em Julho, por meia dúzia de linhas que se referem ao "Caso Mateus", enquadrando-o no caos geral do futebol português.

Nós, aqui pelo Blog do Belenenses, não acreditamos em bruxas...

(Clique em "Abrir artigo completo" para ler o artigo em questão)


SUPERLIGA, FUTEBOL 2004-2005:ALGUNS NÚMEROS


O jornal “A Bola”, a Liga Portuguesa do Futebol Profissional e a Deloitte , produzem um anuário financeiro, há já meia dúzia de anos, que sobressai pela forma metodológica como a informação respeitante ao fenómeno futebol é tratado. E é para esses números e concomitantes reflexões, que permitimos chamar a atenção dos leitores, que queiram fazer o favor de nos ler.

Associados - Benfica, Sporting e Porto, representam 70% de todos os associados –pagantes - dos clubes intervenientes na SuperLiga (248 mil em 347 mil). Logo a seguir, mas a bastante distância seguem-se, V.Guimarães, Belenenses e Braga (47 mil). Esta macrocefalia associativa dos três grandes, repercute-se depois em termos de mercado, o que por arrastamento transporta todo um universo naturalmente construído para manter o seu gigantismo.

Assistências - A média é cerca de 10 mil espectadores (bilhetes vendidos). Dois clubes aparecem sem bilhetes vendidos num jogo (Rio Ave e Estoril)! A taxa de ocupação média dos estádios foi de 43%. As receitas de bilheteira dos três grandes representam - só… -73% da Receita Total.

Receitas - Desceram quase 12% em relação ao ano anterior - de 278 milhões para 248 milhões -, não incluindo os Proveitos Extraordinários obtidos pelo Sporting, na alienação da participação financeira detida na DE-Desporto e Espectáculo S.A., à Sporting Comércio e Serviços. O estudo da Deloitte, isola este proveito, dado o seu peso e consequente influência na análise das contas. Destes 248 milhões, 51 milhões – pouco mais de 20% -, respeita a receitas de TV e 56 milhões, a mais valias – transferências de jogadores. Desagregando ainda os 51 milhões da TV, cerca de metade, é receita dos três grandes e desagregando os 56 milhões da receita das mais valias, 41 milhões são de Benfica, Sporting e Porto! Quanto às Receitas Desportivas (56 milhões), 44 pertencem só aos três grandes!

Custos - Desceram para 271 milhões (menos 3%), devido à diminuição dos custos do Porto (despesas com a vitória na Liga dos Campeões). Os Custos com Pessoal, são a mais pesada rubrica de Custos (consomem cerca de 83% das receitas ditas tradicionais - desportivas, quotizações, televisivas, comerciais e merchandising) e representa 135 milhões de Euros, dos quais 84 milhões são dos nossos três “gigantes”. Porém se juntarmos esses 135 milhões às amortizações do plantel, representam cerca de 113% dessas mesmas receitas! O custo médio por jogador vai no Benfica, de 613 mil euros, até aos 45 mil do Penafiel! Cada golo marcado custou ao Porto 1 milhão e 9oo mil euros - o mais caro -, enquanto ao Penafiel – o mais barato - custou 68 mil! O clube que mais gasta com a formação é o Sporting – um milhão de euros, seguindo-se o Benfica e ocupando aqui o Marítimo, o 3º lugar – com 589 mil euros, ficando o Porto em 4º lugar com 404 mil euros, sendo o Guimarães 5º -278 mil euros - e o Belenenses 6º - 267 mil euros.

Resultados - Passam de 1 milhão negativo na época anterior para 22 milhões negativos – expurgando o “efeito Sporting” -, o que quer dizer uma perda de Capitais Próprios de 133%. Saliente-se ainda que sem transferências os Resultados Correntes apresentavam um prejuízo de 81 milhões!

Balanço - O Activo Líquido cifra-se nos 536 milhões de euros, o Passivo em 444 milhões e os Capitais Próprios em 92 milhões. Expurgando o chamado “efeito Sporting”, obtém-se nos Capitais Próprios, o valor de 27 milhões de euros, que representa uma autonomia financeira de apenas 6%! A rúbrica de Imobilizado Líquido - 44% do Activo - inclui os direitos sobre os jogadores, dando o V.Guimarães o maior contributo ao incremento verificado de um ano para o outro - 29 milhões de reavaliações do Estádio. No Passivo, a rubrica com maior peso é a de Empréstimos Obtidos – 33%. Os Capitais Próprios - não contando com o “efeito Sporting” - teriam uma evolução negativa de um ano para o outro, de 19 milhões de euros e 8 das 18 equipas, apresentam mesmo Capitais Próprios negativos (situação de falência)!

Bolsa - O PSI-20 cresceu 13%, enquanto as acções do Porto e Sporting no fim de 2005 tinham crescido só 5%, em relação a 2004. Mas a evolução de longo prazo é ainda mais adversa, pois o valor das acções está abaixo do seu valor nominal desde… 2000 e isto diz quase tudo !

Conclusões
a) o gigantismo de Benfica, Sporting e Porto, seca financeiramente tudo à sua volta. Será bom correr o risco de vencer uma taça europeia, de 20 em 20 anos, à custa da falência técnica das 18 equipas e do deserto competitivo em redor?
b) as Receitas da TV, que já hoje representam cerca de 20% das Receitas, têm um alto preço a pagar: Estádios vazios.
c) a chamada – e emperrada - “indústria do futebol”, apela a que os clubes sobrevivam graças aos mais diversos expedientes, desde empresariar jogadores, explorar bingos, alugar imobilizados financeiros para posterior venda em época de aperto, permutar estádios por terrenos, para futuras permutas de terrenos por…estádios, até à cosmética pura e simples das reavaliações de Imobilizados Corpóreos…

Numa palavra: o futebol que é a alma do negócio, não faz funcionar o negócio…
Pessismista? Talvez, mas como querem que pense de outra forma, quando vejo
a Comissão Disciplinar da Liga decidir -segundo os jornais-, numa semana que o Gil Vicente desce de Divisão, por recorrer a tribunais civis, e uma semana depois o voto sai ao contrário e o Gil Vicente já fica na SuperLiga, porque um seu vice-presidente demitiu-se num dia, para o filho que é advogado e faz parte da dita Comissão, votar em consciência no dia seguinte, a favor do Gil Vicente, claro?


Onde estamos? Na SuperLiga dos Capitais Próprios negativos, com certeza, mas pior, muito pior ainda, no Paleolítico Inferior das éticas mais cavernícolas…

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