terça-feira, março 01, 2005

Objectivo... TAÇA!

Temos vivido um campeonato sem objectivos, seguindo à risca a velha máxima de “pensar jogo a jogo”. Parece-me que nunca alguma equipa levou tão à letra o “participar” ao invés do “competir”, sem com isto querer tirar qualquer mérito aos resultados alcançados pelo Belenenses esta temporada que, apesar de curtos para um clube com os pergaminhos do Belenenses, têm afastado o fantasma da despromoção que nos atormentou até aos últimos minutos da temporada passada.

De facto, o grande fantasma do Belenenses nesta Superliga chama-se falta de objectivos, ou se quisermos ser mais analíticos, o estabelecimento de um objectivo que não é carne nem peixe. Com um plantel com algum valor, capaz de aspirar a muito mais que a manutenção, obviamente o nosso objectivo não poderia ser a fuga à despromoção, pois essa no início da temporada, excepto um cataclismo (como o da temporada passada), estava já afastada do horizonte. Então, se em 18 equipas claramente 7 ou 8 estabelecem como objectivo não descer, qual será o nosso papel no seio das 10 equipas restantes? 3 assumem claramente o ataque ao título, restando então comente 7 equipas. Dessas 7, pelo menos 4 definem como prioridade o acesso às competições europeias. Restam portanto 3, na minha óptica Belenenses, União de Leiria e Nacional da Madeira. São equipas com plantéis com algum valor, que possuem alguns dos melhores jogadores da Superliga (Antchouet, Edson ou Adriano, por exemplo), capazes de jogar em qualquer equipa do campeonato, mas que por um motivo ou outro estabelecem o objectivo do campeonato tranquilo e o resto “logo se vê”.

A situação do Leiria facilmente se compreende dada a sua falta de bases de apoio que só uma gestão rigorosa e interessante do ponto de vista desportivo é capaz de manter ano após ano entre a primeira metade da tabela, com algumas “gracinhas” pelo meio. Atente-se só em alguns dos jogadores do Leiria e perceba-se que há claramente inteligência: Helton, internacional A Brasileiro, um guarda-redes de bom nível, é de há alguns anos a esta parte, mais birra menos birra, o guardião da baliza ; no lado esquerdo, Edson vive o drama de jogar na Superliga, já que é preferível contratar um Fyssas, um Dos Santos ou um Leandro, completamente desenquadrados da realidade nacional e cujo valor futebolístico é duvidoso, a contratar aquele que tem sido um dos melhores jogadores do campeonato nos últimos anos. Mas todo o mérito vai para a sua contratação por parte do Leiria, que o conseguiu trazer para Portugal depois de ter passado um ano no Brasil após uma passagem não muito bem sucedida pelo Marselha, onde mesmo assim jogou durante toda a temporada com regularidade, numa equipa que atingiu a final da Taça UEFA nesse ano ; na frente, Krpan vem para o Leiria após ser o melhor marcador do campeonato Croata. Apesar de pessoalmente não o considerar um grande jogador, é claramente um jogador de classe e que tem vindo a ser importante na manobra Leiriense ; João Paulo continua esquecido em Leiria e faz dupla com Renato que passou uns meses no Leixões a pensar que ficaria rico tendo depois percebido que rico só no papel, que em termos monetários era complicado “ver” o prometido ; Otacílio é um experiente trinco brasileiro, que fez a carreira em clubes de topo e dá uma óptima consistência ao meio-campo defensivo, onde tem a seu lado Paulo Gomes, mais um a viver o tal “drama de jogar na Superliga”. Há ainda outros jogadores no plantel com bastante interesse, mas só estes já dão para formar uma equipa interessante e não seriam de desdenhar por um qualquer candidato ao título. É pelo menos esta a minha opinião. E Mourinho também disse que com 3 jogadores do Leiria (ou de qualquer Leiria deste campeonato) conseguiria ser campeão. Foi campeão, nacional, da Europa e do Mundo (porque o título mundial é mais dele que de qualquer outro treinador) com Valentes, Ferreiras, Tiagos, Macieis, Derleis e outros que tais… Compreendo que, apesar deste plantel recheado de valores, o Leiria tenha sempre ambições modestas. Porque como já foi referido, assenta numa base de apoio inexistente.

Já o Nacional da Madeira é um caso diferente: graças aos impostos de todos os portugueses, chega ao Brasil e compra, troca e destroca jogadores de topo como lhe apetece. Se os outros vão ao Ipatinga ou à Portuguesa Santista buscar o ponta-de-lança suplente, o Nacional vai ao Palmeiras ou ao Cruzeiro buscar o tal ponta-de-lança suplente. Surgem assim na Madeira alguns bons valores Brasileiros que, mesmo assim, têm dificuldade em dar alguma consistência ao Nacional, o que não poderá ser dissociado do peso da insularidade, situação igualmente vivida pelo Marítimo, que no entanto já se conseguiu libertar um pouco dessa situação.

Temos então o nosso Belenenses, com um plantel equilibrado, alguns bons jogadores, uma base de apoio interessante do ponto de vista nacional, situação financeira estável e que, numa análise a frio, parece ter condições para aspirar a muito mais. Então porquê tão pouco? Tem-se falado que este, mais que um ano zero (que é normalmente o que temos ano após ano, nunca chegamos ao ano 1 e, a única vez que chegámos nos últimos anos, com Marinho Peres, fomos escandalosa e deliberadamente “empurrados” para o meio da tabela), é até um ano menos um. Não um ano de transição, mas um ano de transição na renovação. A construção da tal “espinha dorsal” para os próximos anos parece estar a ser feita, restando-me desejar que o trabalho efectuado não seja destruído já no próximo Verão. A renovação com o treinador, apesar de eu ser assumidamente contra contratos prolongados (mais de uma temporada) com treinadores, pois na minha óptica eles são meras “peças” do projecto e não os “mentores” do projecto, deixa algumas garantias que há um trabalho que está a ser feito com continuidade. Mantendo a base deste plantel e contratando não mais que 3 jogadores que façam a diferença, poderemos aspirar a um dos 5 ou 6 primeiros lugares na próxima época. Aliás, justiça seja feita, se houvesse honestidade na Superliga, o Belenenses teria neste momento mais uns 8 pontos e em vez de estarmos com a “boca seca”, estaríamos a lutar pelo título… mas apesar de tudo, temos de ser também nós honestos e perceber que este Belenenses não tem “estaleca” para tão altos voos. Mas será que os assumidos candidatos têm? Ou não passam de bluff e uma “boa imprensa” que lhes dá toda a cobertura?

Resta-nos então a Taça, da qual se disputam os Quartos de Final já amanhã, na Amadora, ante o Estrela da Amadora. Quais serão os objectivos na Taça? Serão os mesmos dos adeptos? Será que a equipa e dirigentes têm a mesma noção dos adeptos, que temos este ano uma boa oportunidade de levantar a Taça (tal como o ano passado, onde infelizmente falhámos penosamente)? Como iremos jogar à Amadora? Jogar jogo a jogo, calmamente, esperando o desenrolar do jogo e que a sorte nos sorria? Ou entraremos demolidores, com vontade de resolver o jogo com 2 ou 3 golos logo na 1ª parte, pois a ambição de levantar a Taça sobrepõe-se ao respeito por uma das melhores equipas da 2ª Liga? E os nossos jogadores emprestados ao Estrela, jogarão contra nós? Mauro e Rui Borges, apesar de não serem fundamentais na manobra do Estrela, são jogadores com valor e que nos podem complicar a vida. Ora se nós somos “anjolas” quando jogamos contra quem nos empresta, será que também seremos “anjolas” quando jogamos contra aqueles a quem emprestamos?

Amanhã, na Amadora, espero sinceramente que haja uma invasão azul. Espero que pelo menos os adeptos Belenenses ainda sejam ambiciosos e desejem ganhar a Taça. Espero que com bilhetes a preços razoáveis (honra seja feita à Taça), um mar azul inunde a Reboleira, independentemente do frio, da chuva, do dia ou da hora.

Porque o Belenenses tem história, mas precisa urgentemente de fazer ainda mais história! Porque a história vale o que vale, e sempre há-de relembrar as conquistas do passado. Mas dos fracos não reza a história. E se ontem éramos fortes e inolvidáveis, não continuemos neste marasmo de ambição e a fazer correr o tempo, correndo para o esquecimento. Porque há que marcar o golo da vitória o mais cedo possível, sob pena da derrota final ser inevitável. E perpétua.

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