terça-feira, março 22, 2005

Entrevista de Sequeira Nunes em "A Bola"

O presidente Sequeira Nunes concedeu ao jornal "A Bola" uma extensa entrevista, da qual apenas publicamos as secções disponíveis na versão on-line do jornal. Creio que vale a pena ler.

Sinto-me compensado e respeitado

SEQUEIRA NUNES vai deixar a presidência do Belenenses em Abril. Mas recusa-se a abandonar o clube. Promete, aliás, continuar a ser observador atento. Para trás, ficam cinco anos no cargo de maior responsabilidade directiva e 43 de dedicação à causa do clube da cruz de Cristo. E aqui fica o balanço de dois mandatos e a perspectiva de um dirigente que se orgulha da obra feita. As mágoas de que nos fala nesta entrevista não ensombram o trabalho realizado.

Por que motivo decidiu deixar a presidência?
— Cinco anos são suficientes. Há que dar lugar a pessoas com novas ideias, com novas tecnologias, mantendo a credibilidade do clube. Mas também me sinto cansado. É preciso não esquecer que foram cinco anos como presidente, três como vice e mais a história antiga que tenho.

— Mas sai num momento crucial, quando deve avançar o projecto imobiliário de importância vital para o clube...
—Candidatei-me porque me apetecia ser presidente do clube. Neste momento, acho que é altura de estar atento ao que acontecerá nos próximos dois anos. E, estando noutras funções, continuarei a colaborar com o Belenenses da mesma maneira que faço desde 1962.

— Como observador?
—Serei observador atento ao desenrolar de todos estes assuntos. Faço parte de uma lista. Mesmo que ela não ganhe, ficarei atento, como sempre estive.

—Que balanço faz dos cinco anos em que esteve à frente da Direcção do Belenenses, o último dos quais com acumulação do cargo de presidente da SAD?
— Quem, sinceramente, tem de fazer essa apreciação é a massa associativa. No entanto, penso que os objectivos que quisemos atingir o foram em cerca de 80 por cento.

— Pode fundamentar a opinião?
—Porque o objectivo número um, que era a remodelação do complexo desportivo se concretizou; porque, paralelamente — e muita gente dizia que era difícil— mantivemos uma actividade desportiva forte, coesa e de dimensão igual às anteriores, e até crescemos com o futsal e o voleibol feminino; conseguimos aumentar o capital da SAD de 200 mil para um milhão de contos [de um milhão para cinco milhões de euros]; incentivámos a formação e tivemos vários atletas em diversas selecções nacionais; mantivemos o equilíbrio financeiro, que era outro dos principais objectivos e conseguimos dar credibilidade ao Clube de Futebol «Os Belenenses », tanto em termos de instituições bancárias como de parceiros do fenómeno desportivo.

— E o que não foi alcançado?
— Naturalmente, não conseguimos tudo. Não conseguimos aumentar a massa associativa, não conseguimos ter um programa para a juventude, não conseguimos aumentar as presenças no estádio, as quais subiam fugazmente, quando as entradas eram feitas por convites distribuídos por empresas e não conseguimos transformar as piscinas em exploração rentável. Como vê, isto é tudo claro.

— Em que estado deixa o projecto imobiliário e o centro de treinos?
— O centro de treinos está parado. Espero que os vindouros consigam concretizar a obra. Sabe que isto é uma actividade dinâmica e, quando há prioridades e estas se tornam mais complicadas, há que concentrar atenções e dedicarmo-nos mais a uma do que a outras. O projecto imobiliário, por motivos burocráticos, está enterrado na Câmara de Lisboa. Mas lembro que, das duas vezes em que tomei posse, disse aos sócios o seguinte: se continuarmos a ter a vossa confiança e, quando errarmos, o vosso respeito, estamos recompensados. Neste momento, sinto-me recompensado e respeitado.



Estádio, estabilidade e credibilidade

— E, em termos de futebol — por norma, para os adeptos, o instrumento de aferição da actividade de um presidente e da sua Direcção—, que balanço faz?
— De 1990/91 até agora , olhando para as três primeiras épocas, verifica-se que alcançámos um sétimo, um quinto e um nono lugares, o que dá uma imagem nítida de uma certa estabilidade, mas, como não há bela sem senão, a época passada foi um desastre, o que, logicamente, faz com que o que era bestial passasse a ser besta. Mas a estabilidade e a unidade da massa associativa sem passividade devem ser algo que, nos próximos anos, têm de acontecer. O Belenenses tem de crescer com uma base sustentada em credibilidade, e a credibilidade não se vê só através da vertente financeira, mas também do diálogo com os parceiros desportivos. Os sócios, que se lembrarão, certamente, do que era este estádio há cinco anos, verificam hoje que houve um salto qualitativo para a vocação que está destinado, a juventude e a sua prática desportiva, bem como para a comodidade do utilizador. Se não tivéssemos tido como objectivo número um a remodelação do complexo desportivo, o Belenenses era, hoje, um clube medíocre, sem dimensão internacional e nem sequer teria do estádio aprovado para as provas da UEFA.

— Que deseja, então, na hora da partida?
—Só quero que tudo isto tenha continuidade, embora defenda que cada um deva ter as suas ideias. Espero que o futuro presidente consiga fazer o que eu não consegui e que corrija o que fiz mal. Só assim poderemos crescer sobre uma base sustentada. Aliás, estou certo disso. Se o eng. Cabral Ferreira, que é meu vice-presidente e que convidou quatro vice-presidentes actuais para a sua lista, também é verdade que o outro candidato [Mendes Palito] convidou igualmente cinco vice-presidentes da minha Direcção. Isto é sinal de que aDirecção a que presido com bons vice-presidentes fica na história, por termos alcançado objectivos que muitos outros não conseguiram concretizar. O próprio Mendes Palitos disse, em entrevista recente, que pretende dar continuidade à obra.

— Os dois candidatos já afirmaram que darão continuidade ao seu trabalho. No entanto, para muitos, Cabral Ferreira é visto como sucessor dinástico...
— Não é verdade. Se o outro candidato também convidou outros vice-presidentes, não se pode inferir que Cabral Ferreira seja o meu sucessor dinástico, como disse. Cada vez se torna mais difícil conduzir homens. Mas, para gerir um clube, torna-se necessário orientar vários grupos de indivíduos com opiniões diferentes e concepções próprias. Hoje, é assim que vejo quem me censura. Dizer isso de Cabral Ferreira é denegrir as suas qualidades. Ele tem a sua maneira de estar e de ser e até temos feitios completamente diferentes.

— De que se orgulha e que mágoa leva?
— Orgulho-me de ter remodelado o estádio, a par de termantido uma actividade desportiva tão boa como em anos anteriores e até melhor, como se verificou no basquetebol, e até criámos novas secções, como o futsal. A mágoa mais recente foi termos sido eliminados pelo Estrela da Amadora para a Taça de Portugal. A anterior foi o ano passado, pelo facto de ter batido palmas ao Moreirense, clube que respeito muito, porque a sua vitória sobre o Alverca [3-1] nos permitiu permanecer na SuperLiga. Mas, apesar disto, não nos podemos esquecer das boas classificações nas três épocas anteriores, o período de maior estabilidade da equipa.

— A equipa actual é ponto de partida ou ponto de chegada?
— O Belenenses teve um dos melhores técnicos de futebol que possa ter existido [Marinho Peres] e temos todas as condições para dar estabilidade a qualquer treinador: equilíbrio financeiro. Devemos, aliás, ser dos poucos clubes com os salários e os impostos em dia. Repito: e os impostos também! Ora, tudo isto e ainda êxitos alcançados em diversas modalidades fazem com que me sinta orgulhoso. Somos um clube efectivamente grande, com adeptos espalhados por todo o mundo. Depois de entrarmos em funções, abrimos filiais nos EstadosUnidos, em Angola, em Cabo Verde e em Timor. Mesmo assim, sentimos que falta atrairmais juventude ao estádio.

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