O guarda-redes Marco Aurélio, há 6 épocas no Belenenses, é actualmente um símbolo do nosso clube, para além de ser considerado por muito o melhor guarda-redes a actuar em Portugal. Fomos conhecê-lo melhor e descobrimos um homem sereno, bem-disposto e em que se nota, a cada frase, um enorme carinho por este clube que também já é o seu.
Como surgiu a hipótese de vir para Portugal? Era um campeonato aliciante?
A oportunidade surgiu quando estava no Santa Cruz, do Recife, os dirigentes do Rio Ave foram assistir à final do campeonato Pernambucano e depois do jogo convidaram-me a vir para cá. Tinha 26 anos, achei muito interessante o convite, resolvemos as questões com o Santa Cruz (tinha contrato até ao fim da época) e vim com muita expectativa. Fiquei muito contente.
Os primeiros tempos em Portugal, foram positivos?
Sim, foram positivos. Na primeira época no Rio Ave, não fizemos uma época muito boa, fiquei só meia época e transferi-me para o Farense, onde fiquei época e meia. Desportivamente aí as coisas correram melhor, financeiramente é que não, pois o Farense tinha algumas dificuldades. Depois, surgiu o convite do Belenenses, já lá vão 6 épocas, e até cá as coisas têm corrido bem, tirando a época anterior. Mas penso que dentro daquilo que tinha traçado para a minha carreira as expectativas estão satisfeitas.
Está há tantos anos no Belenenses, quais os aspectos positivos e negativos que tem encontrado?
Bom, há mais aspectos positivos que negativos. É um clube completamente diferente de todos os outros, a empatia que há com sócios e direcção, é um clube que tem marcado a minha vida não só profissional, mas também social, e estou realmente muito satisfeito em estar aqui. Já estou cá há 6 épocas, pretendo continuar por cá enquanto me quiserem, e pretendo dar o melhor ao clube para retribuir o que têm feito por mim, porque sem dúvida que o Belenenses é o responsável por todo o ênfase que consegui na minha carreira desportiva. Por isso, quero ajudar o Belenenses cada vez mais e elevar cada vez mais alto o nome do clube.
Já teve propostas para sair? Não acha o Belenenses um clube limitado para a sua categoria?
Propostas houve muitas coisas, mas nada oficial, muita especulação, nunca nada foi concretizado. Eu estou muito satisfeito no Belenenses. Acho que a carreira de um profissional é curta, temos de aproveitar as oportunidades, especialmente a nível financeiro que possam dar um futuro melhor à nossa família, mas para sair do Belenenses tinha de ser uma coisa que valesse muito a pena, não trocava o Belenenses por uma pequena diferença em termos financeiros. Estou bem em Lisboa, a minha família também, e isso é importante. E o clube tem-me mantido satisfeito. Para sair tinha mesmo de ser uma proposta muito aliciante, o que nunca aconteceu. Penso que o Belenenses é um clube grande, estou a cumprir os objectivos que tinha traçado para a minha carreira, e não me sinto minimamente diminuído por nunca ter jogado num dos “chamados” 3 grandes. Estou satisfeito e motivado, isso é importante e enquanto me sentir assim quero continuar a carreira aqui no Belenenses.
Depois de uma época para esquecer, o clube está a entrar no rumo certo?
Penso que sim. Fizemos duas épocas boas, ficámos em 5º e 6º, mas no futebol há ciclos que terminam e começam, e o ano passado não correu realmente bem. Tivemos muitas dificuldades para ficar na Superliga, e todos temos de assumir responsabilidades: jogadores, direcção, todos tiveram erros. É importante que os erros não se repitam. Esta época começámos bem, o grupo é forte, o treinador tem colocado uma mentalidade vencedora, que procura sempre o ataque, a vitória, o golo. Temos assimilado bem isso, os jogadores têm características para jogar da forma como o treinador gosta. Fizemos uma boa pré-época, e o primeiro jogo também foi bom, acho que a equipa vai subir de produção ao longo do campeonato e há a preocupação de jogar bem, pois assim é mais fácil chegar à vitória.
E os objectivos para esta época, quer no campeonato, quer na taça?
Bom, esta é uma época de transição, o objectivo é ficar nos 10 primeiros, mas se pudermos chegar lá acima, não enjeitaremos. Mas o essencial é uma época tranquila para na próxima época procurarmos um objectivo maior. A Taça é uma competição especial, se conseguirmos ganhar a Taça era óptimo. Desde que cheguei a Portugal que tenho essa ambição, jogar no Jamor, é um dia especial, de festa. É um jogo diferente. O ano passado fomos às meias finais, quem sabe não é esta época.
Qual o objectivo a nível pessoal?
Tentar manter um bom nível exibicional, estar sempre bem, porque se estiver bem na minha posição estou a ajudar o colectivo. Procuro sempre dar o meu melhor para que todos juntos consigamos fazer uma época tranquila.
Ao longo da sua carreira quem foram os colegas que o marcaram mais?
Já joguei com muitos jogadores de qualidade e óptimas pessoas… No início da minha carreira tive a oportunidade de, no Botafogo, jogar com o Sócrates. Ainda apanhei o final da carreira dele. Eu estava a começar e ele era consagrado, só treinar ao lado dele, marcou-me. E era um jogador excepcional. No Santa Cruz também houve outro jogador que me marcou, e que jogou cá em Portugal, que era o Zé do Carmo, que foi uma pessoa que ficava comigo nos estágios e me marcou muito. Aqui em Portugal, quando cheguei ao Rio Ave o Sérgio China foi importante a ajudar-me a adaptar, devo muito a ele. Aqui no Belenenses também houve vários, o Filgueira também é um jogador que admiro muito, não só como jogador mas como pessoa, uma pessoa fantástica. Mas havia muito mais, estou a deixar vários de fora.
Até quando pensa continuar a jogar?
É difícil de responder. Enquanto o atleta tiver condições físicas e motivação para jogar… há que ser auto-crítico, saber quando não conseguimos acompanhar o ritmo. Mas penso que a idade não é o factor primordial, há jogadores mais novos mas sem motivação. Eu ainda tenho, estou com 34 anos e não penso parar de jogar. Eu gosto deste meio e é bom a gente trabalhar numa coisa que nos dá prazer. Enquanto estiver física e psicologicamente bem, e com motivação, continuo a jogar. Mas por enquanto não penso nisso.
Após acabar a carreira, pretende ficar ligado ao futebol?
Ainda não pensei muito sobre isso, é prematuro. Um dia terá de acontecer, mas logo se vê. Mas gostava de ficar ligado ao futebol, tenho experiência dentro do futebol e gostava de passar isso a outros. Tenho o futebol no sangue, quando terminar a carreira logo se vê. Gostava de ficar aqui, a minha esposa é enfermeira no S. Francisco Xavier, a minha filha está adaptada à escola. Tudo depende das oportunidades que surgirem na altura.
Está ciente do respeito que os sócios do Belenenses têm por si. De onde pensa que vem esse respeito?
Bom, eu penso que é importante que o jogador responda às expectativas dos sócios. Por outro lado, fora do campo procura dar atenção a todos, tento ser humilde, acho que as pessoas reconhecem isso. Também estou cá há alguns anos, e sinceramente gosto muito dessa interacção com os sócios, sinto-me mesmo honrado quando sou reconhecido na rua e as pessoas vêm ter comigo e incentivam-me. É gratificante, porque procuro fazer o melhor, mas é sempre bom ser reconhecido. Sinto-me muito orgulhoso das pessoas relacionarem o Marco Aurélio e o Belenenses, é muito positivo.
A religião é uma nota constante da sua vida. Sempre foi assim, ou houve um momento em que precisou de buscar algo mais?
Bom, desde muito jovem, logo desde o início da carreira comecei a frequentar os Atletas de Cristo. Desde essa altura a minha vida pauta-se pela Bíblia. Sou Evangélico, acredito em Jesus Cristo, a minha vida está baseada nisso, na Bíblia, nos seus ensinamentos de vida, e tem-me ajudado muito quer ao nível desportivo, quer familiar, e tudo o que eu faço tem de ser de acordo com a palavra de Deus. Penso que é um dos factores para ter sucesso na minha carreira. Deus está sempre comigo, nos momentos bons, maus, e isso é importante para me dar força quando as coisas não correm tão bem, porque sei que Ele está ao meu lado e vai-me ajudar a sair daquela situação, e gosto também de comemorar com Ele os momentos bons. Tem-me ajudado muito.
É supersticioso?
Não, acredito em Jesus Cristo. Creio Nele, antes dos jogos faço uma oração, para que Deus dê uma ajuda à equipa, nos livre de lesões, mas lá dentro temos de correr, porque se não fizermos a nossa parte…
Quem é na sua opinião o melhor guarda-redes em Portugal? E no Brasil? E no mundo?
Em Portugal sou eu! (Risos) Há bons guarda-redes em Portugal, mas posso ser eu! No Brasil gosto do Dida, gosto de o ver jogar, é muito frio. É muito alto, com uma grande envergadura, aliás, joguei contra ele no início da carreira. A nível mundial gosto muito do Buffon, do seu posicionamento, da sua tranquilidade. Tive pena de não ver o Buffon a treinar no Restelo, mas estava de férias no Brasil.
Diz-se que o Pedro Alves tem muita qualidade. Quais pensa serem as suas principais qualidades?
O Pedro é um excelente guarda-redes, precisa é de jogar. É uma posição difícil, só um é que joga. Precisa de jogar para ganhar experiência e tranquilidade, isso só vem com os jogos. Vejo nele muitas qualidades, é jovem, trabalha muito bem, procura sempre aprender e eu também aprendo com ele. Estamos sempre a aprender. Ele tem todas as qualidades, posiciona-se bem, sai-se bem, é tranquilo. O resto vem com o tempo e com jogos. Assim que tiver oportunidade e entrar na equipa o tempo vai fazer dele um grande guarda-redes.
Vai ser um digno sucessor do Marco Aurélio…Penso que sim, tem tudo… Não digo sucessor, ele tem todas as condições para jogar. Ele tem procurado, eu também tenho dado tudo, e penso que é uma competição sadia onde cada um procura o seu espaço.
Que conselhos darias a um jovem que pretende ser guarda-redes?
É uma posição que exige muito treino, onde não se pode desistir nunca, é preciso preserverança, porque as coisas muitas vezes não acontecem como desejaríamos e é preciso muita força dar a volta à situação. Na minha carreira, para chegar até aqui, já passei muitas coisas difíceis, muitas adversidades, se tivesse desistido pelo caminho não estaria aqui. É preciso trabalhar muito, muita disciplina, e não desistir nunca, ir até ao fim. O guarda-redes não põe falhar. Você pode estar bem 90 minutos, tem uma falha, e o peso fica sobre o guarda-redes. Tem de saber superar isso, mas é uma posição bonita, diferente, vestimo-nos de forma diferente dos outros todos (risos) e eu gosto muito. Sempre quis ser guarda-redes, também influenciado pelo meu pai, que era guarda-redes amador. Ia ver os jogos dele, junto da baliza, e ele dava-me luvas e equipamentos. E… também não tinha muito jeito para jogar à frente (risos)
Uma mensagem final aos adeptos do Belenenses, e em particular aos fãs do Marco Aurélio.
Bom, mais que uma mensagem, é um pedido. Apoiem-nos, acreditem na equipa, estamos a trabalhar para devolver o Belenenses aos lugares cimeiros que merece. Queremos fazer uma boa época, tranquila, com bom futebol, e queremos trazer gente ao Estádio. Nós gostamos de entrar e ver os adeptos nas bancadas a puxar por nós. Espero que os adeptos venham ao Restelo e nos apoiem, porque ajudando-nos estão a ajudar o clube.
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