EPISÓDIO #13: A FABULOSA EQUIPA DE 1972/73
Na época de 1972/73, veio para o Belenenses o treinador argentino, Alejandro Scopelli, antiga glória do clube, como jogador.
Scopelli, que para mim foi o melhor treinador do clube, nos últimos quarenta anos, conseguiu estruturar a equipa de tal modo, que atingiu um inesperado 2º lugar no campeonato, com 14 vitórias, 12 empates e apenas 4 derrotas, embora nunca tenha ameaçado lutar pelo título, porque o Benfica, nessa altura, tinha uma grande supremacia sobre todos os outros.
A proeza de 72/73 foi ainda mais surpreendente porque, relativamente à época anterior, quase não houve reforços sonantes, à excepção do paraguaio Gonzalez e do ex-benfiquista Calado, embora este nem sequer tivesse sido titular no Benfica.
O sagaz Scopelli estruturou a equipa colocando o habitual defesa central Quaresma, a «trinco», o que na altura constituiu uma "revolução" inesperada, mas que se viria a revelar de uma extraordinária eficácia, levando até à internacionalização de Quaresma.
A estrutura base da equipa titular, consistia num 4x3x3 com os extremos, Laurindo e Gonzalez, bem agarrados á linha, sempre apoiados na movimentação ofensiva pelos defesas laterais, Murça e João Cardoso ou Pietra.
Mourinho, pai do actual famoso treinador, era o indiscutível guarda-redes.
No centro da defesa, tanto Freitas, como o já referido Calado, eram obstáculos quase intransponíveis, deixando os laterais descansados para poderem atacar à vontade.
Calado a central, foi outra feliz invenção de Scopelli, já que era habitualmente médio.
Quaresma a trinco, foi a grande novidade e que resultou em pleno.
Os médios criativos, eram Quinito, pela direita, e Godinho, pela esquerda. Combinavam sempre muito bem com os laterais e os extremos do respectivo corredor.
O avançado centro, era o brasileiro Luís Carlos, um fantástico jogador de estatura relativamente baixa, mas de uma técnica e astúcia muito acima da média.
A equipa tinha um futebol geométrico, espectacular e de grande eficácia, que deliciava os adeptos, já desabituados há alguns anos à luta pelos lugares cimeiros.
Ficaram célebres os jogos, em casa, com Leixões (4-0), Porto (2-0) e V.Setúbal (3-2), e fora com Barreirense (5-1), U.Tomar (6-0), CUF (2-1), Porto (1-1) e V. Setúbal (0-0). Saliente-se que o VFC era na altura uma das melhores equipas nacionais, tendo terminado em 3º lugar à frente de Porto e Sporting.
Contra o Benfica, que terminou o campeonato sem derrotas e com apenas dois empates, apesar das duas derrotas, realizou uma grande exibição no Restelo, tendo perdido, 0-2, por inexperiência e por manifesta falta de sorte, num jogo a que assisti e que, ao contrário do que a comunicação social gosta de dizer, teve lotação esgotada.
Enchente no Restelo
Destacamos algumas frases de Scopelli, de uma entrevista ao jornal "A Bola", no início de 1973.
«Considero proveitoso tudo quanto se extrai das camadas jovens. Creio que escusaria de afirmar que nada tenho contra o profissionalismo, bem pelo contrário, mas penso que, das camadas jovens consegue-se tirar jogadores com um pouco da mística e do amor ao clube, que o profissional, em regra, na sua natural frieza não pode possuir».
«Um ou dois jogadores que se aproveitem em cada época, das camadas jovens, já constituem um rendimento extraordinário. Inclusivamente pela tal mística, pelo tal amor ao clube, que até contagia os colegas, tal como acontece com Godinho, por exemplo».
«Mesmo nos tempos do profissionalismo, a mística, o amor ao clube, esse dom de jogar com alegria e de até transmitir essa alegria aos colegas, continua a ser algo que não se paga com dinheiro nenhum».
A propósito da razão que o levou a organizar um curso de treinadores para os jogadores do Belenenses:
«Diz-me a experiência que, no futebol, o jogador é quem menos pensa (excepção feita para os craques, que jogam e pensam ao mesmo tempo e por isso mesmo são craques) e considero necessário que o mais comum dos jogadores comece também a saber pensar, dentro e fora dos jogos e dos treinos, para que não continuemos a ser nós, treinadores, a ter de pensar por eles».
Sobre a colocação de Quaresma a trinco:
«Examinei todos os jogadores e encontrei em Quaresma as características que melhor poderiam servir tais funções. Mas se não existisse Quaresma, outro jogador do clube teria sido adaptado àquele lugar, porque penso que qualquer jogador tem de estar apto a adaptar-se a qualquer lugar».
«Falta ao futebol português uma categoria entre os juniores e os seniores».
A equipa vice-campeã nacional
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