sexta-feira, abril 11, 2008

Entrevista a Jorge Jesus (Record)

O Record publicou hoje as respostas do nosso treinador às perguntas colocadas pelos leitores do jornal. Os jornalistas escolheram 60 perguntas que foram publicadas online e depois fizeram uma selecção das que consideraram melhores para sairem no jornal.


O Belenenses pode ser prejudicado em seis pontos por causa do caso Meyong. De que maneira gere no balneário a possível desmotivação dos jogadores com esta possibilidade?
Pedro Figueiredo (Sabugal)


-No caso Meyong tivemos a uma atitude semelhante à do caso Mateus, ou seja, preparámos o grupo para uma situação positiva ou negativa. Deu-nos mais força e mais responsabilidade para lutarmos por um dos primeiros seis lugares. Esta situação uniu-nos ainda mais.

Se recebesse um convite do Benfica no final da época aceitava, ou acha que seria uma opção de risco para qualquer treinador? Estarão reunidas as condições para um treinador ter estabilidade naquele clube e poder fazer um projecto a médio prazo?
Miguel Castanheira (Lisboa)

- Aceitava. Entendo que para treinar um clube como o Benfica, um treinador tem de possuir duas características: um bom conhecimento do jogo e um bom conhecimento sobre o que é ter uma estrutura de futebol. Se o Benfica contratar alguém que só conheça o jogo, então quem entrar vai “morrer” como os outros.


Sendo um adepto dos esquemas tácticos, que treinador gostaria de ter tido como professor: Johan Cruijff, Rinus Michels, Valeri Lobanovski, José Maria Pedroto ou Bella Gutman?
Nuno Conceição (Leiria)

- O meu grande ídolo como treinador, nos anos 80 e princípio dos anos 90, foi o Cruijff, mas o futebol evoluiu nestes últimos anos de uma forma completamente diferente, quando comparada com esse tempo. Diria que a minha referência dos anos mais recentes é Zdenek Zeman (treinador checo que, entre outros, orientou o Palermo, Roma, Lázio, Parma, Nápoles ou Fenerbahçe).

Se fosse treinador da Selecção Nacional qual o guarda-redes que escolhia para titular: Quim ou Ricardo?
Hélder Ferreira (São Martinho do Porto)


- Dependia do momento de cada um. São dois guarda-redes muito iguais e tomaria a decisão sempre em função daquele que fosse o momento de forma de cada um.

Qual foi o melhor jogador que já treinou?
Pedro Ribeiro (Miratejo)


- O melhor jogador, já formado, que treinei foi o Roberto Assis (irmão de Ronaldinho), no Estrela da Amadora. Se falarmos em jogadores que na minha carreira fui formando, aquele que mais gozo me deu treinar foi o Jorge Andrade (E. Amadora).

Qual foi o jogador que lhe deu mais prazer treinar?
Diogo Martinho (Torres Novas)


- O Jorge Andrade e o Sérgio Conceição (Felgueiras). Dois jogadores que todos os dias mostravam grande ambição, queriam melhorar o seu treino e jogo. Este tipo de jogadores dão grande gozo a um treinador.

Como é que descreve Ruben Amorim? Tem potencial para uma equipa como o Benfica?
José Pires (Lisboa)


- O Ruben tem potencial para Benfica, FC Porto ou Sporting. Tem 22 anos, está a crescer e é um atleta de alto rendimento. Mas depois há a componente técnica e táctica e nesse aspecto cabe ao treinador ajudá-lo a crescer até um nível muito alto. Só existem bons jogadores se existirem bons treinadores.


O que pensa de tirarem 6 pontos ao FC Porto e da possibilidade de descida do Boavista?
Fernando Carloto (Samora Correia)


- Acredito na justiça e, mediante as acusações, se não houver motivos para serem condenados, acredito que não o serão. Se tiverem prevaricado, serão penalizados pelos actos cometidos.

Qual o momento mais feliz que viveu como treinador?
Hugo Rebordão (Covilhã)


- Vivi alguns, como as subidas de divisão, mas o que me marcou mais foi estar na final da Taça de Portugal. Era um sonho que tinha como treinador, não só pelo lado desportivo, mas também sentimental. Estar no Jamor a minha maior alegria como treinador.

Como explica que o Belenenses faça bons, por vezes muito bons, jogos com os chamados “grandes” e não consiga o mesmo nível com outros, perdendo muitos pontos no Restelo? Motivação dos jogadores? Tácticas?
Manuel Estrela (Fall River, Massachusetts, EUA)


- É verdade, mas se fosse ao contrário, se o Belenenses não tivesse capacidade de resposta frente às melhores equipas, era mais preocupante. O que falta é fazer esse equilíbrio. Penso que tem a ver com a atmosfera que se vive nos dias dos jogos. Jogar com pouco público faz com que os jogadores não estejam tão concentrados, por mais que apelemos. A motivação é a mesma, mas não é correspondida em termos de concentração porque falta o 12º jogador a ajudar.

Parece-lhe justo que os “grandes” tenham que jogar de sexta a segunda, em horários nocturnos, supostamente para defender as assistências dos clubes pequenos, quando os adeptos são convidados a ficar em casa ao fim-de-semana à tarde para ver as ligas estrangeiras?
Otelo Magalhães (Rio Tinto)


- Um dos aspectos da falta de público nos estádios tem que ver com o número de jogos televisionados, até de outros campeonatos. Há outros factores, como o custo dos bilhetes ou os horários dos jogos, muitas vezes sem lógica dado que as pessoas no dia seguinte têm de levantar-se cedo para ir para o trabalho.

Há jogadores do Belenenses que teriam lugar no onze do Benfica nesta época?
Rui Carvalho (Lisboa)


- Há. Tanto assim que Benfica e FC Porto querem dois dos nossos jogadores.


Em todas as ligas existem os treinadores dos “grandes”, os treinadores dos “aspirantes a grandes” e os treinadores dos “aflitos”.Seja directo e sincero e diga-me em qual dos três perfis se enquadra?
Marco Ventura (São Miguel, Açores)


- Se me analisarem a capacidade de treinador pela equipa que estou a treinar no momento, qualquer das três classificações é correcta. Se me pergunta o que penso, direi que a minha capacidade está para além de qualquer um dos grandes em Portugal.

De entre os chamados três grandes, qual o clube do se coração? FC Porto, Benfica ou Sporting?
Roger de Mello (Lisboa)


- Nenhum dos três grandes é o clube do meu coração. O clube do meu coração é o Estrela da Amadora, que, para além de ser o clube da minha terra, foi lá que me formei como jogador e treinador.

Sente-se frustrado com as sucessivas perdas de pontos causadas por más decisões das equipas de arbitragem e sente que de certa forma esses erros, voluntários ou não, são mais favoráveis às equipas grandes em prejuízo das “mais humildes”?
Bruno Filipe (Lisboa)


- E foi assim no passado, não tanto no presente. As arbitragens não fazem hoje tanta diferença como há 10/20 anos. Por isso é que o campeonato está mais competitivo e equilibrado. As arbitragens são hoje mais imparciais que no passado.

É verdade que já existe um acordo de cavalheiros com o Sp. Braga para a próxima época?
Jorge Pinheiro (Braga)


- Não é verdade. Ninguém do Braga me contactou para saber se estou disponível.

Quando veremos um Belenenses jogar na arrojada mas apaixonante táctica de três defesas, que não três centrais?
Domingos Gomes Ferreira (Lisboa)

- O sistema de 3 defesas é o mais difícil para se jogar. Requer vários posicionamentos do mesmo jogador durante um jogo. Um jogador tem de possuir muitos conhecimentos tácticos defensivos e ofensivos, o que obriga a uma evolução em treino de dificuldade acrescida. Por norma, ao longo dos anos, os jogadores não são trabalhados para poder evoluir nesse sistema, logo há grandes dificuldades em que a mensagem do treinador entre facilmente e assim opta-se mais frequentemente pelo 4x3x3 ou 4x4x2.

Aceitaria um cargo de seleccionador de Portugal no final do Euro’2008?
Pedro Batista (Lisboa)


- Não. Ser seleccionador não é a mesma coisa que ser treinador. Não tenho a ambição de ser seleccionador de Portugal ou de outro país.

Que medidas deve um treinador tomar em relação aos salários em atraso? Concorda que equipas que não têm os salários em dia sejam despromovidas imediatamente?
Jorge Bernardino (San José, Califórnia, EUA)


- Concordo que quem não paga os salários tem de possuir uma garantia bancária para ser accionada em caso de incumprimento, ou seja, uma garantia para fazer face ao orçamento estipulado. Se os salários não fossem pagos, os profissionais elaboravam um pedido para ser accionada essa garantia. Caso a mesma não fosse accionada, então sim, esse clube descia de divisão. Recorrer a greves não me parece solução.

Será que um dia, quando sair, leva o Zé Pedro consigo? Qual é para si o melhor nº 10 a jogar na nossa Liga?
Bruno Ricardo (Barreiro)


- O Zé Pedro é um jogador com uma inteligência táctica fora do normal. Tem comigo uma relação muito fácil sobre o conhecimento do jogo. Tenho pena que ele não tenha trabalhado comigo há mais anos, quando estava ainda na fase de crescimento. Em relação ao nº 10, o melhor, embora não esteja sempre nessa posição pela forma como actua a equipa dele, é o Lucho González.

O que sentiu ao ver o Dady sair daquela maneira, sem dar explicações nem agradecer devidamente ao clube que acreditou nele e que o elevou a um grande nível?
Nuno Vilela (Paços de Ferreira)


- Já falei com o Dady sobre isso. Parece-me que ele sentiu que o Ossassuna seria a independência financeira dele, porque iria ganhar mais de 10 vezes o salário que auferia aqui. Foi para um dos melhores campeonatos do Mundo. É um menino que está em fase de crescimento, social e desportivo. Gosto muito dele como pessoa e como jogador. Fiquei contente por ter feito crescer mais um jogador.

Como vê a polémica criada entre si e Manuel Machado, a propósito de uma alegada aproximação entre si o e Sp. Braga com vista à próxima temporada?
Nuno Marinheiro (Carregado)

- Não me preocupa nada que surjam durante a época notícias a colocar o Daúto Faquirá ou o Nelo Vingada perto do Belenenses. Continuo a trabalhar com a certeza de que tenho capacidade para prosseguir aqui o meu trabalho e não ponho em causa colegas de profissão só pelo facto de o nome deles surgir como provável a ocupar, no futuro, o meu lugar.

Quais são os jogadores revelação da Liga? E o seu 11 ideal até ao momento?
Renato Constâncio (Lourinhã)

- Cardozo (Benfica), Desmarets (V. Guimarães), Weldon (Belenenses), Júlio César (Belenenses) e Márcio Mossoró (Marítimo). Em relação ao onze ideal, peço desculpa mas não tinha pensado nisso, logo não tenho uma resposta para lhe dar.

Quem é para si o melhor jogador do campeonato? Acha que o Zé Pedro pode jogar num clube grande?
Manuel Junqueira (Póvoa de Varzim)


- O melhor jogador do campeonato é o Lucho. O Zé Pedro, neste momento, está muito perto dos 30 anos, não é velho mas penso que já é difícil chegar a esse patamar.

Qual o onze ideal, para si, escolhendo só jogadores que já tenha treinado?
Ezequiel Alexandre Ferreira (Lisboa)


- Bossio (V. Setúbal); Paulo Ferreira (V. Setúbal), Jorge Andrade (E. Amadora), Rolando (Belenenses) e João Paulo (U. Leiria); Ruben Amorim (Belenenses) e Zé Pedro (Belenenses); Sérgio Conceição (Felgueiras), Silas (Belenenses) e Roberto Assis (E. Amadora); Gaúcho (E. Amadora).


2ª parte
Que se passa com a formação no Belenenses? Os jovens (Mano, Gonçalo Brandão, Carlos Alves ou Sandro Moreira) raramente têm oportunidade de jogar. Há falta de qualidade? Existe um projecto com bases ou necessita haver uma reestruturação?
Mário Santos (Lisboa)


- Dentro das condições que o Belenenses possui para o futebol de formação, porque não há muito espaço para desenvolver as capacidades de todos os escalões, penso que temos feito um aproveitamento desses jogadores, como se vê pelas presenças de Ruben Amorim e Rolando no onze. Os jogadores que refere estão em fase de adaptação técnica e táctica e acreditamos que no futuro possam ser mais valorizados.

Por que razão tem esse temperamento tão impulsivo? Não acha que deveria controlá-lo?
Vítor Manuel da Silva Gonçalves (Espinho)


- Vivo muito o jogo. Sem ser jogador de campo, ainda sinto que faço parte da equipa. A forma como vivo os jogos faz parte da minha ligação com os jogadores e com o próprio jogo. Os jogadores estão adaptados à minha forma de ser e quando não participo eles não se sentem tão motivados no jogo.

O Tribunal Arbitral decidiu que devem acabar as cláusulas de opção. Que acha que vai acontecer às “sanguessugas” que giram à volta do futebol? Vão passar a receber milhões no desemprego?
Raoul Steiner (Quarteira)


- Quando deixarem de existir cláusulas de opção, os jogadores cumprem os anos de contrato que estiverem estabelecidos. Só faz alguma confusão durante um ano ou dois, depois volta tudo à normalidade.

Por que é que em Portugal não apostam em treinadores como o Jesus ou o Cajuda para treinarem equipas grandes?
Filipe Sá Lemos Martinez (Esposende)


- Não se pode dizer que os 3 grandes não apostam em portugueses. Basta ver que, nos últimos anos, estiveram António Oliveira, Fernando Santos, Mourinho ou Jesualdo no FC Porto e se calhar por isso é que o FC Porto tem dominado o futebol português. O Benfica e o Sporting umas vezes apostam, outras não e nas contas finais, vê-se que quem ganha mais é quem aposta mais vezes em portugueses.

Apesar de ter contrato até 2010, pode assegurar-me que irá cumpri-lo e, quem sabe, na devida altura prolongá-lo?
Mário Rui (Lisboa)


- Neste momento, aquilo que posso assegurar é que tenho intenção de levar até ao fim o contrato feito com o Belenenses. Já a renovação não depende de mim, mas da nova administração. Contudo, no futebol, as coisas mudam todos os dias com facilidade e nunca direi nunca, porque tudo é passível de ser alterado.

O que tem primazia: a táctica ou as características dos jogadores? Impõe mais as suas ideias ou adapta-se de maneira a retirar o máximo das características naturais dos jogadores?
Norberto Triães (Riachos)


- As duas questões juntam-se numa só, ou seja, a táctica e as características dos jogadores só uma coisa só naquilo que é a ciência do jogo. A táctica não pode ser separada da característica dos jogadores.

Por que motivo os clubes grandes não apostam muito nos bons valores que o futebol português tem? Falo no caso do Linz, Ruben Amorim, Geromel entre tantos outros.
João Martins (Castelo Branco)


- Se olharmos, por exemplo, para o FC Porto, verificamos que determinados jogadores, que são hoje uma referência, estavam, há poucos anos, em clubes de nível médio do futebol português. O FC Porto tem a inteligência para contratar mais jogadores no mercado nacional que internacional, ao contrário do que habitualmente fazem Benfica e Sporting.

Já recebeu alguma proposta, esta época, para treinar um grande clube português ou estrangeiro?
Fábio Almeida (Lausanne, Suíça)


- Se entendermos por grande clube europeu um Real Madrid, Mancheser United ou Milan, por exemplo, não, não recebi. De clubes portugueses falou-se nalgumas possibilidades, mas a mim ninguém me abordou.

Qual a sua relação com aqueles jogadores que se setem a “ovelha negra” do balneário?
Luís Miguel Guerra Godinho (Estremoz)


- Comigo não há ovelhas negras no balneário. A relação profissional e afectiva é sempre só uma, e igual para todos, em defesa da equipa. Aqueles que se sentem “ovelhas negras” não trabalham comigo.

Estaria disponível para treinar um grande, com toda a pressão a nível da imprensa, dos resultados e dos adeptos?
Bruno Guerra (Luxemburgo)


- A nível de imprensa e adeptos é verdade que um treinador tem diariamente mais confrontos de ideias que nos outros clubes, mas isso para mim não é sinónimo de pressão, é ter capacidade para lidar com essas situações ou não.

Qual é o segredo para conseguir um balneário tão forte e unido?
Filipe Ricardo da Silva Cunha (Fafe)


- O segredo, para mim, é acreditar a 100 por cento nos jogadores e não ter receio em dizer-lhes que se cresce não só com coisas positivas, mas também com os erros. Não sou um treinador que finge que não vê ou que finge que não ouve. Em todas as situações com que me deparo, encaro os jogadores olhos nos olhos, assim se formam grupos como este, seguros e fortes.

Caso lhe fosse concedida a possibilidade de reforçar todos os sectores da equipa, independentemente do custo, e dentro do mercado nacional, quais seriam as suas escolhas?
João Gabriel (Caparica)


- Escolheria jogadores para o sector que necessita de maior criatividade numa equipa: o meio-campo e a linha avançada.

Depois da perda do malogrado Cabral Ferreira, considera que o futuro do Belenenses é animador?
Davide Sousa (Loulé)


- Penso que sim, porque o Belenenses tem todas as condições para ser um clube virado para o futuro, apesar de ter perdido, se calhar, nos últimos anos, a possibilidade de chegar aos 3 grandes. Não a nível desportivo, porque os últimos dois anos foram espectaculares, mas no capítulo das infraestruturas. Espero que a nova direcção perceba isso, acredito que sim, para poder responder à grandiosidade deste clube em termos desportivos.

3ª parte

Por que é que uma equipa que tem como objectivo não descer, joga, geralmente, tão defensivamente? As equipas que fazem bons campeonatos jogam para ganhar e não para não perder. Não será principalmente uma questão de mentalidade?
João Carneiro (Peso da Régua)

- Ninguém joga para não perder. As equipas são condicionadas pelo valor individual dos seus jogadores e quando apresentam sistemas mais defensivos estão a basear-se nas características de cada um dos seus jogadores. Por muito que os mentalizemos de que têm condições técnicas e tácticas para jogar de igual frente às equipas mais fortes, eles no jogo não correspondem e acabam, se calhar, por jogar de forma mais defensiva pela força do valor do adversário.

O que falta ao Belenenses para poder lutar, finalmente, não pelo 5º ou 6º lugar, mas para o 1º? Trata-se “somente” de uma questão de dinheiro ou é preciso ter maior influência e peso na Liga e junto da Comissão de Arbitragem?
Rui Manuel Almeida (Lisboa)


- Falta ao Belenenses capacidade financeira e também ter uma massa associativa que consiga colocar em todos os jogos em casa, pelo menos, 10 a 15 mil pessoas. Sem isso, dificilmente alguma equipa se pode comparar aos 3 grandes.

Quando chegar a um grande (acredito que chegará) penso que será possível continuar a recorrer a tiradas como a famosa: “com uma equipa dessas dou-te 3 de avanço”, ou terá que moldar o discurso para ter uma boa imprensa e, em consequência, menor pressão?
Otelo Magalhães (Rio Tinto)


- Essa frase foi uma resposta ao treinador do Real Madrid, na pré-temporada, e visou destacar as qualidades individuais dos jogadores dele face aos do Belenenses. Não tenho a certeza, porque nunca treinei uma equipa de topo, mas se treinar, penso que o meu trabalho vai ser mais realçado com o facto de atingir os objectivos da equipa. Direi sempre o que penso, aliás, não me preocupo com o que os outros pensam. Tento ser sempre verdadeiro na mensagem, embora possa errar, mas digo o que digo por convicção e paixão.

Quais foram, até ao momento, os pontos fracos e pontos fortes do Belenenses? Quais os jogadores que possuem mais influência no balneário?
Rúben Mateus (Aveiras de Cima)


- Pontos fortes: a valorização do conhecimento de todas as acções que a equipa tem, quer em termos defensivos como ofensivos. Hoje, todos os jogadores sabem o que têm de fazer. Ponto menos forte: a facilidade com que a equipa chega à zona de decisão e depois não valoriza todo o outro trabalho que ficou para trás, ou seja, fazemos o mais difícil e depois não valorizamos a acção em termos ofensivos. Jogadores influentes há vários. Desde logo os 5 capitães escolhidos pelo grupo.

É sabido que todos os anos o Belenenses é “obrigado” a construir uma equipa quase a partir do zero visto que todos os anos algumas das mais valias são vendidas. Especula-se que no próximo campeonato o Belenenses não irá poder contar com Ruben Amorim e Rolando, duas das mais valiosas peças na estratégia da equipa. Acha que vai conseguir montar uma equipa tão ou mais competitiva que a deste ano?
André Muchagata (Carnaxide)


- Construir uma equipa tem sido o meu trabalho todos os anos, nunca trabalhei em equipas ricas. Tenho fomentado activos em todas as equipas que podem, depois, ser rentabilizados económica e desportivamente. Para o ano, com a saída desses jogadores será, novamente, minha tarefa e meu gozo formar e descobrir novos talentos.

O Belenenses quando joga em casa não consegue ter um público “decente” nas bancadas. Por que é que acha que acontece isto? Que mensagem pode dar aos adeptos do Belenenses de forma a que os jogos tenham mais espectadores?
Alexandre Pereira (Carcavelos)


- Não sei o que dizer. Sei que o Belenenses já teve 30 mil sócios pagantes e neste momento tem apenas 6 mil e aí está uma questão com a qual o Belenenses vai ter de deparar-se nos anos mais próximos, se quiser fazer parte da elite. Como o vai fazer? Desportivamente, tem de justificar mais presenças no estádio.

Como é que se consegue motivar uma equipa que esteve uma semana inteira a trabalhar com o objectivo de alcançar uma vitória e depois não a consegue por culpa de erros dos árbitros?
Luis Carolas (Linda-a-Velha)


- Durante a semana temos de estar motivados para o que estamos a fazer, para desenvolver as nossas capacidades individuais e colectivas. O principal é trabalhar com muita paixão. Depois, se durante um jogo a realidade for desvirtuada em função dos erros do árbitro, mais força temos de demonstrar na semana seguinte para podermos recuperar o que perdemos por má decisão do árbitro, mas nunca justificando que os inêxitos se deveram ao árbitro e não aos erros da equipa.

Sendo um confesso admirador das novas tecnologias, qual a real importância que dá ao vídeo como forma de estudon do adversário? Considera-o uma ferramenta de trabaho imprescindível nos dias que correm, para ter sucesso no futebol actual?
Nuno Santos (Odivelas)


- O vídeo e outras tecnologias são fundamentais na observação e estudo da equipa adversária. Hoje, os treinadores que não conhecem a ciência do jogo, conseguem, pelos meios audiovisuais obter um conhecimento mais próximo daquilo que acontece no jogo, podendo dessa forma não ficar tão longe daquele treinador que consiga aperceber-se melhor dos erros e virtudes da sua equipa.

Ao assistir aos jogos do Belenenses vejo-o a dar espectáculo. Gostaria de saber se o espectáculo acontece meramente quando vive o jogo ou é assim naturalmente?
Luis Lambo (Maputo, Moçambique)


- A minha forma de estar no banco é completamente diferente daquela que tenho no dia a dia, fora do futebol, porque nos treinos é a mesma coisa.

Por que insiste a maioria dos técnicos portugueses em não desenvolver a componente velocidade nas metodologias de treino e que tem como consequência o triste espectáculo que o nosso futebol dá em comparação com o futebol anglo-saxónico? Um jogador mesmo “tosco” não tirará vantagem competitiva se aplicar velocidade na sua acção sobre a bola?
Luís Marques (Lisboa)


- A velocidade do jogo não tem muito a ver com a metodologia do treino individual, mas sim como o colectivo dá velocidade com ligação entre a execução e a intensidade, ou seja, só há velocidade de jogo quando existe ritmo e intensidade. São componentes que tem de ser trabalhadas nos aspectos colectivos e então se vai haver mais velocidade num jogo ou não, já tem a ver com os valores individuais. Quanto melhor for o jogador, mais velocidade vai dar ao jogo. Mas não há velocidade de jogo com “toscos”.

Quando jogou com o Bayern Munique, o que disse aos seus jogadores? Acreditou que era possível ganhar?
Eduardo Ribeiro (Braga)


- A minha mensagem para a equipa foi: tínhamos capacidade para dificultar a eliminatória se conseguíssemos estar bem numa componente fundamental do jogo. Tínhamos de revelar uma grande capacidade a nível estratégico e táctico perante a valia técnica dos jogadores do Bayern. Com estas duas componentes podíamos reduzir as diferenças entre as equipas. Foi o que aconteceu, não totalmente, mas em boa parte do tempo de jogo.

No outro dia ouvi Carlos Carvalhal dizer que o trabalho dele no Vitória era o de um manager, à inglesa, e não de um treinador como é normal em Portugal. É assim o seu trabalho no Belenenses? Se não é, gostaria que fosse?
Vasco Silva (Barreiro)


- O meu trabalho, sob a presidência de Cabral Ferreira, foi sempre de total liberdade para estruturar toda a parte do futebol profissional, não só administrativa como técnica, passando por todo o futebol de formação, dentro de um patamar financeiro pré-estabelecido.

Gostaria que me explicasse o porquê das contratações de Hugo Leal, Marco Ferreira e Jankauskas. Sejamos francos: para além de não serem mais-valias, são jogadores caros para as possibilidades do clube.
Ricardo Carvalho (Lisboa)


- O Hugo Leal tem-nos feito imensa falta. É um jogador de grande categoria e que não tem tido sorte no que a lesões respeita, não só ao longo da carreira como na presente temporada, já que teve de ser operado aos ligamentos do joelho. Marco Ferreira e Jankauskas são casos diferentes. Ao ser confrontado com a impossibilidade de contar com o Meyong, mesmo sob o fecho das inscrições, tivemos de encontrar alguém e a escolha recaiu sobre o Jankauskas. O Marco Ferreira já o conheço desde os tempos do V. Setúbal e acredito que o posso recuperar, como fiz com outros, mas também ele tem tido algum azar com lesões.

Acha que vale a pena trocar o Belenenses pelo Sp. Braga ou V. Guimarães? Não quero ir pelo historial, mas trocaria só pelo dinheiro?
Nuno Andrade (Barreiro)


- Dos 3 clubes que refere, já treinei 2. São todos grandes clubes e asseguro que não trocaria o Belenenses por nenhum deles só por razões financeiras. Poderia fazê-lo se desportivamente tivesse algo a ganhar.

Por que é que se tornou num treinador tão estudioso, ao ponto de fazer avaliações diárias sobre os treinos e os jogadores e o seu respectivo rendimento? O que lhe “facilita” esse estudo diário?
Tiago Dias (Almada)


- Facilita-me o meu conhecimento como treinador. Ao ver confrontados os meus conhecimentos com a realidade do treino obtida através do resultado dado pelos meios audiovisuais, posso analisar se o treino foi dirigido ou não para os objectivos a que me propunha. Com isso posso melhorar o treino e o meu conhecimento como treinador.

Prepara a táctica em função do adversário ou é sempre a mesma e o adversário é que tem de se adaptar ao modelo de jogo do Belenenses?
Alfredo Mestre (Colónia, Alemanha)


- Defendo que a táctica é a ciência do jogo. Temos de jogar essa mesma táctica em função das acções que o jogo nos vai dando. A táctica é preparada de duas formas: a que se prende com os nossos movimentos e a que se prende com os movimentos adversários. Se por antecipação não se conseguir saber qual será a movimentação do adversário, teremos de possuir a capacidade de análise no momento do jogo para a podermos confrontar.

De quem acha que é a culpa no caso Meyong?
Sebastião Falcão (Lisboa)


-De todos menos do jogador. Todos tiveram responsabilidade, menos ele porque não é obrigado a conhecer a legislação. Mas o que mais me preocupou foi a falta de solidariedade para com Carlos Janela. Foi a forma de toda a gente se desresponsabilizar.

Manuel Cajuda disse que era do Benfica desde pequenino. Em relação a si: qual é o seu clube?
Miguel Ângelo Morgado Pereira (Lamego)


- Estrela da Amadora.

Por que razão o Zé Pedro joga sempre com mais rigor táctico do que o Silas?
Georgino Barreto (Barreiro)


- São dois jogadores completamente diferentes. Ambos importantes individual e tacticamente, mas com responsabilidades diferentes na equipa. O Zé é um jogador importantíssimo não só na estratégia táctica posicional, como na estratégia táctica do jogo. O Silas é importante na estratégia táctica do jogo e é o meu adjunto dentro do jogo.

A minha questão prende-se com a época que se avizinha, isto é, que Belenenses poderemos esperar, tendo em conta os cortes orçamentais que irão ser feitos? E já agora, com tantos cortes, espera continuar? Não será isso um revés no que vinha projectando para o Belenenses?
Sérgio Sousa (Costa da Caparica)


- O Belenenses tem forçosamente de ser, sempre, uma equipa para ficar nos primeiros seis classificados, não só pelo seu passado, mas pela exigência que os sócios têm perante a equipa. Quem fugir dessa responsabilidade vai ter sempre a massa associativa contra a sua equipa.

O que aconteceu ao Eliseu não deveria ter acontecido também com o Rolando e Ruben Amorim, ou seja: não queres renovar, não jogas mais até ao fim do campeonato?
Mário Gualdino (Amadora)


- Não. Foi uma situação com a qual me deparei. A administração da SAD achava por bem tentar tal processo com esses dois jogadores, pensava ser possível convencê-los a renovar. Eu, pela experiência vivida no passado, nomeadamente com o Eliseu, disse que não devíamos colocar em causa os nossos interesses desportivos. Podíamos fazê-lo mas no final do campeonato eles sairiam na mesma, como aconteceu com o Eliseu. Assim, tomei a decisão de não prejudicar os jogadores nem o Belenenses.



Blog do Belenenses: Luis Vieira

Depois de ler a primeira parte da entrevista, posso já afirmar que não gostei! É verdade que já se esperava que muitas das perguntas estavam orientadas para os "3 estarolas", afinal é este o futebol que temos, mas esperava que o nosso treinador fosse mais inteligente nas respostas.

Primeiro, quando perguntam se aceitava proposta do Benfica, respondeu logo que sim! Então não faz referência ao contrato com o Belenenses? Depois quando perguntam se um determinado jogador tem potencial para o Benfica ou para o Porto, ele responde que tem potencial para os "estarolas". Ele tinha que responder que tem potencial para as equipas de topo e mais nada! Não deve referir nomes de clubes.

Os treinadores têm que saber orientar as suas respostas para os seus adeptos!



Em relação à pergunta de Otelo Magalhães revela que a mentalidade das pessoas está errada em relação horários dos jogos. Ele diz «Coitadinhos dos "estarolas" que têm que jogar de segunda a sexta, e coitadinhos dos pequenininhos que jogam domingo à tarde com o publico a ficar em casa a assistir aos jogos estrangeiros...»

Já vimos que não é bem verdade! Os "estarolas" jogam maioritariamente à noite mas apenas nos sábados e domingos! São os "europeus" (os que têm alguma possibilidade de crescer) que jogam de segunda a sexta, e alguns maioritariamente nas segundas e sextas. Depois apenas há 2 ou 3 jogos ao domingo.

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