quinta-feira, setembro 28, 2006

O Belém, visto de fora

Blog

Artigo da autoria de Pedro Cruz, que nos últimos 2 anos tem vivido fora de Portugal, na Europa e América:

Pediram-me para escrever sobre o Belenenses, outra vez. Não é um tema fácil de se escrever. Porque há muito para escrever, e já muito foi escrito. Felizmente só gosto de relembrar o passado, está lá, com as suas coisas boas e más e preocupo-me mais com o presente e futuro.

Para quem espera apenas o habitual comentário ao último resultado contra a Naval. Cá vai: foi muito bom! Heresia!! Porquê? Porque qualquer coisa é melhor do que ir jogar ao Moscavide e perder contra o Olivais. Quem acredita que o CFB subia à Bwin.com nesta época ponha o dedo no ar…

Obrigado por ter continuado a ler… o pouco que escrevi há uns anos, ainda nos meus anos de faculdade, foi suficientemente incómodo e irreverente para que me desencorajasse a escrever novamente. A minha opinião sobre o Belenenses enquanto “organização” era bastante clara, e baseava-se única e somente em… factos, creio ter tocado em ao de leve em pontos como imagem, marketing, relações públicas, a estrutura do clube, algumas ideias básicas que achava importantes salientar na altura. A partir daí quem se atrevesse a fazer uma sugestão nos blogs ou forums era apelidado de “pseudo-gestor”. Estávamos no auge da discussão da remuneração dos órgãos sociais, com frases lapidares como “Enquanto eu for presidente ninguém recebe”, curiosamente do mesmo autor que “A fase da asneira”.

Todos os dias se discutem na Internet, no estádio, no Restelo, numa casa onde houver belenenses: os problemas do Belenenses. O jogo em que fomos “roubados”, as noitadas dos jogadores, a desorganização administrativa, a boa-vontade de muita gente que não chega… Eu sou belenenses há 26 anos, e só há 2 anos consegui perceber o real e verdadeiro problema do nosso clube. Essa percepção surgiu com o distanciamento físico do clube e de Portugal. O estar suficientemente longe para não ser “cego” pelo dia-a-dia e as emoções do normal adepto e suficientemente perto (do coração) para me preocupar com uma parte importante da minha vida. Estas forças contrárias deram origem a uma verdade que para mim é inabalável: O belenenses não se conhece a si próprio.

Confuso? Não
. Não se conhece a si próprio porque não se consegue colocar fora de si conscientemente para ver o que está bem e o que está mal. E é por isso que tem sempre uma atitude reactiva, em vez de proactiva.

Peguem numa caneta e escrevam isto: enquanto “vocês” não se conseguirem ver “de fora” nunca, nunca mas nunca vão acertar em nada. Porque visto de dentro o mundo exterior é uma ameaça, uma incerteza, é a crítica de adepto bêbado e que bate na mulher, é a claque, são os bloguistas, são os “ factores não controláveis do mundo do futebol”. E na realidade, para quem tem a clarividência de o ver, são o que faz um clube de futebol moderno de sucesso: o sucesso das relações desportivas, comerciais e sociais com terceiros, todas em conjunto.

Dirão os leitores mais crentes: “mas não podemos ser proactivos quando a bola bate no poste, o futebol é um jogo de sorte”. A minha resposta: Errado. O futebol são 11 contra 11 e a bola é redonda. É tudo uma questão de perspectiva, os vencedores preferem chamar-lhe motivação. Quem tenha lido “A Arte da Guerra”, poderá perceber o que quero dizer. Ler o livro e tentar aplicá-lo ao dia-a-dia do CFB é uma experiência de reflexão que convido todos a fazer.

Quero deixar claro que respeito toda e qualquer pessoa que dá o seu contributo ao Belenenses. Conheço muitas pessoas que o fazem ou o fizeram e todas me merecem o maior respeito e consideração.

Uma última lição “pseudo-gestora”: devemos propor-nos a fazer aquilo que sabemos fazer melhor, ora, eu não percebo NADA de futebol, vocês percebem? Eu sei a resposta, vamos nadar para não nos afogarmos. Já é um clássico belenense.

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