quarta-feira, março 01, 2006

João Pinto (andebol) na Revista Dez

Entrevista de Paulo Jorge Pereira publicada na Revista Dez em 18-02-2006

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João Pinto
Golos e economia


O andebol do Belenenses ganhou a Taça da Liga, numa final em que o lateral-direito foi o melhor marcador. Histórias do canhoto que vive em Setúbal, joga por influencia familiar, estuda no ISCTE e é sócio azul desde que nasceu.

Entre os treinos no líder do campeonato e as aulas do 2º ano de Economia no ISCTE há um mundo de diferenças, porque João Pinto, lateral-direito no andebol belenense, vive apaixonado é pela modalidade. “É de família”, explica, “um primo meu foi pivot no Belenenses, o meu pai, embora a nível mais modesto, também foi praticante e eu costumava acompanhá-lo. Além disso, o meu irmão, Vasco, é central dos juniores. Já joguei com o meu irmão, ele treina-se connosco e é muito agradável. Em casa só se fala de andebol” confessa a sorrir.

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No principio era… o futebol. “Joguei no Casa Pia até que, numa aula de Educação Física, um treinador ligado ao andebol me disse que o futuro estava nas minhas mãos e não nos pés.” Torreense, Ginásio do Sul e Vitória de Setúbal, com as selecções pelo meio, foram as etapas antes da entrada no Restelo. “Era júnior de primeiro ano quando o técnico António Santos me viu num particular com a Alemanha, convidou-me para os seniores do Vitoria e , mesmo sendo II Divisão, isso representou um salto importante na carreira,. Há três épocas, o mesmo treinador trouxe-me para Belém e sinto-me muito feliz com a opção.” É que, deste modo, conjugaram-se afectos e racionalidade: João é sócio e adepto belenense desde que nasceu, há 24 anos, por acção do avô materno. E chegou a ter convites para o clube na formação, “mas nunca se proporcionou”.

Hotelaria ou imobiliário
Com cinco campeonatos e quatro Taças, o Belenenses não conquistava um troféu desde 93/94, mas os 8 golos de João Pinto na final ajudaram a assegurar a Taça da Liga frente ao Águas Santas, depois do êxito sobre o ABC. “É o acontecimento mais importante da minha vida desportiva”, admite, em equilíbrio com a chegada à Selecção. “Todos acreditámos, houve grande perseverança numa equipa com misto de juventude e experiência muito ambiciosas. O técnico José Tomaz trouxe métodos diferentes, grande exigência, espírito e mística de vencedor. E temos muito apoio dos dirigentes”, diz. Quanto aos golos, serenidade total. “Não é vertente que me deixe obcecado, mas o estilo de jogo de José Tomaz favorece-me e, quando chegou, logo previu que assim iria acontecer.” Pelas características físicas, com união entre velocidade e força, ser lateral ou ponta foi sempre o mais natural. Sobre a possibilidade de Portugal ter um campeonato mais evoluído ou uma equipa com capacidade para lutar pelos títulos europeus, discurso realista: “O passo rumo à criação de uma liga profissional era necessário para o crescimento da modalidade, mas não foi feito da melhor maneira, pois em vez de um campeonato forte passámos a ter dois fragilizados e com os grandes divididos, factura paga pelos atletas. Há hipóteses de evoluir, Dinamarca e Suécia são bons exemplos, em Espanha a Asobal não nasceu de um dia para o outro. É preciso investimento e ter andebol com profissionalismo de jogadores e dirigentes.”

Depois do desporto, o andebolista sonha construir uma empresa “ligada à hotelaria ou ao imobiliário”. Pode Maria, a filha de 2 anos e meio, vir a manter a tradição familiar na modalidade? Risos, “era melhor que não.” Mais risos. “Não sei, respeitarei as escolhas dela, mas ainda é cedo e, além disso, planeei ter mais filhos.”

Estrangeiro e selecção
O jogador belenense já recebeu convites para rumar ao estrangeiro (França, ainda na fase de formação, Alemanha e Espanha) e, embora alimente esse sonho, indica que só sairá para projecto aliciante. “A hipótese da Liga Asobal só apareceu quando já tinha acordo com o Belenenses e foi sondagem superficial. Equipas como Ciudad Real, Portland, Barcelona, Ademar León ou Valladolid são de nível elevado, mas não quero dar passos maiores do que as minhas pernas.”
Desiludido ficou João Pinto por não estar no recente Europeu da Suiça.” Foi a terceira vez que perdi um grande prova. Tinha 18/19 anos quando fiquei fora do Europeu na Suécia, não foi um drama, pois percebi que ainda estava num patamar diferente; senti-me muito triste por não ter jogado o Mundial em Portugal, até porque estava a realizar uma época muito interessante. Só voltei à Selecção principal dois anos mais tarde e joguei no europeu da Eslovénia; agora Mats Olsson explicou-me que se tratava de uma opção técnica, aceitei e estou disponível para voltar. Luís Gomes e Inácio Carmo são experientes, isso tem peso e o Luís, capitão de equipa, quando soube da minha ausência, até veio dar-me força.”

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