terça-feira, janeiro 03, 2006

Ficar azul para sempre.

Manuel Fernando Aleixo

O meu tio José Gonçalves Aleixo, (vulgo José António, dado ser o irmão mais novo do meu avô António, coisa que só descobri depois da sua morte, pois sempre julguei o seu nome de José António) é de alguma forma o responsável pelo meu Belenensismo.
Ainda estou a vê-lo no seu impecável fato cinzento, de gabardina e chapéu para o que desse e viesse, a tomar o autocarro das 13 horas e 5 minutos que o conduziria a Cacilhas, depois o barco para Lisboa e seguir dali para as Salésias.

Grande parte dos seus sobrinhos aderiu de coração, entre os quais o meu Pai e depois os meus irmãos também (excepto a minha irmã que era desinteressada pelos futebois mas discreta adepta do Benfica).
Na altura em que tive de me decidir, era a época dos Violinos do Sporting, um dos quais era o Albano do Seixal, tendo de resistir aos meus tios Antero e Henrique que me forçavam a ser simpatizante do Sporting.

Não me recordo do Belenenses ter sido Campeão em 1946 mas esse facto terá contribuído para esta dedicação.
A primeira vez que vi o Belenenses jogar foi numa visita que fizemos a Évora, da qual não recordo quase nada.

Ser do Belenenses é uma escolha complexa, pois as opções se situam sempre para aqueles que são campeões, mas penso que depois de escolhido, como em tudo na vida, se torna mais fácil. Diz-se que um homem pode mudar muitas opções na sua vida mas que nunca muda de clube desportivo e é verdade. É a minha alienação, como agora se diz, mas estou satisfeito com ela, sofre-se aquela hora e meia em cada oito dias, mas depois passa. E depois há outro encanto, é que quando o Belenenses ganha, a semana corre-me melhor!

continua...

Curiosamente a minha ligação sempre se situou a nível só da equipa de futebol, parecendo-me que as restantes modalidades me são indiferentes, apesar de como espectador apreciar algumas.

Estive presente em duas vitórias na Taça de Portugal, na da 1960 com o meu pai e na de 1989 acompanhado pelo meu filho e recordo o ano em que fomos campeões da 2ª divisão, palmarés inédito no futebol português, este de ser a única equipa que foi campeã nacional da 1ª e 2ª divisões.

Há muitos jogadores que me arrebataram ao longo de muitos anos a ver jogar futebol, mas um merece destaque separado, o caso de Sebastião Lucas da Fonseca, mais conhecido por Matateu.
Atacante que marca toda uma época de excelentes jogadores em Portugal, o Lucas, como gostava de ser chamado, era um autêntico terror dos guarda-redes, com ele o Belenenses só tinha que não sofrer golos pois ele marcaria sempre o seu.
Gostava de mencionar, um aparte que não mais esqueci num vulgar jogo de campeonato ou de Taça no campo do Barreirense, em que a duríssima defesa fez falta sobre o Lucas tendo este ficado prostrado no chão a centímetros da área adversária, levantou a cabeça, viu o arbitro longe e deu um rapidíssimo salto de braços e pernas, difícil de imaginar e mais de aqui descrever, ficando numa zona que obrigou a pénalti, e o Belenenses ganhou por 1 a 0. Não posso subscrever truques destes, mas quantos não são hoje descaradamente feitos?

Tenho uma dívida de gratidão para com ele, que esperava pagar com a minha presença no seu funeral, com o regresso do seu corpo a Portugal a que faltei, indo só mais tarde ao mausoléu onde se encontra junto de outros expoentes do Belenenses , Artur José Pereira e José Manuel Soares (Pepe)

(excerto de "Não temos tempo para ser amigos!" de MFAleixo)

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