Entrevista conduzida por Jacques Ferreira e publicada no jornal 24 HORAS em 16 de Janeiro.
Meyong, o melhor marcador do Belenenses, com 11 golos, é um dos imprescindíveis na selecção dos Camarões, treinada pelo português Artur Jorge. Os leões indomáveis estagiam na Tunísia, onde preparam a CAN que arranca na sexta-feira e lambem as feridas da qualificação falhada, de forma dramática, para o Mundial de 2006.
O avançado dos azuis comenta as incidências dessa caminhada falhada, aborda a amizade com Wome, a chegada tardia de Artur Jorge, a inoportunidade intemporal da CAN e a Selecção Portuguesa.
24h- Cerca de três messs depois de falhar a qualificação para o Mundial, a Taça das Nações Africanas (CAN) vem na altura ideal para os Camarões fazerem as pazes com os adeptos?
Albert Meyong – A CAN é a maior prova africana e tem uma importância muito grande para uma selecção como a dos Camarões. A ausência do mundial representou um duro golpe para os camaroneses, e vencer a CAN seria uma espécie de compensação. Serviria para provarmos que somos uma boa equipa. Temos um bom grupo, com qualidade para vencer uma competição deste nível. Mesmo que não apague o desgosto da ausência do Mundial.
24h – Quem são os adversários principais?
AM – Podemos falar nos suspeitos do costume, como a Tunísia, campeã em titulo, a Nigéria, o Gana e a África do Sul. Mas as surpresas acontecem cada vez com mais frequência e nós ainda nos recordamos bem do que aconteceu no nosso grupo de qualificação para o Mundial. Estou à espera de surpresas.
A FRASE
“Gosto de representar os Camarões [na Taça das Nações Africanas], mas, por outro lado, fiquei um pouco triste porque talvez o Belenenses sinta a minha falta”
24h – O estágio na Tunísia tem servido para reforçar o espírito de grupo?
AM – Sim, temos trabalhado bem e estamos todos motivados, a aguardar pelo inicio da competição. O grupo está todo reunido, com excepção do capitão Eto’o, que vai chegar em breve.
24h – Porque razão Artur Jorge não convocou o defesa Pierre Wome, que falhou no último minuto o penalti que afastou os Camarões do Mundial?
AM – Desconheço as razões, mas também não me quero alongar muito sobre o assunto. O Wome é um grande amigo e ainda não entendi bem o que se passa. De qualquer forma, a convocatória está a cargo do seleccionador e não posso intrometer-me nesse assunto.
continua...
“Artur Jorge sabe tudo sobre mim”
24h – Depois de atirar ao poste o tal penalti, Wome voou rapidamente para Itália (joga no Inter de Milão), confessando temer pela própria vida…
AM – Ele passou por uma fase muito difícil, porque assumiu a culpa de ter falhado o penalti e a consequente qualificação. Falei com ele e tentei ajudá-lo a superar a situação e a entender que a culpa não foi só dele. Mas em Africa as pessoas vêem as coisas de forma muito rígida, não conhecem a realidade do futebol, e não vão perdoá-lo.
24h – E como é que observou a polémica entre Wome e Eto’o, com o capitão a acusá-lo de não o ter deixado marcar o penalti e o defesa a ripostar que naquele momento todos se recusaram e ele teve de avançar?
AM – Esse assunto já passou. Faz parte do passado e nós já temos os olhos postos no futuro.
24h – Ao estágio da selecção só falta chegar Samuel Eto’o…
AM – Sim, é o único jogador convocado que ainda não se apresentou, mas vai comparecer. O grupo está unido e determinado em alcançar o objectivo.
24h – Qual a avaliação que faz sobre o trabalho de Artur Jorge, que sucedeu o alemão Winfried Schaefer a meio da qualificação para o Mundial?
AM – A entrada de Artur Jorge foi boa para os Camarões e para mim. Dou-me bem com ele. Sabe tudo sobre mim, o que representa, uma vantagem importante.
24h – O que é que mudou nos Camarões com a entrada de Artur Jorge?
AM – Mudou o espírito da selecção. Agora o treinador tem uma abordagem mais personalizada e serena, alem de ter introduzido uma maior disciplina, algo muito importante. O grupo passou a ser predominante, quando antigamente funcionavam principalmente as individualidades. Arrisco mesmo dizer, que se Artur Jorge tivesse entrado mais cedo estaríamos no Mundial!
“Deco pode fazer a diferença no Mundial”
24h – Com os Camarões de fora, desperdiçando as hipóteses de aumentar para cinco as presenças consecutivas em Mundiais, por quem vai torcer?
AM – Apoio as selecções africanas, e na Europa, a Selecção portuguesa. Vivo em Portugal há vários anos, a minha mulher e o meu filho são portugueses e considero este o meu segundo país.
24h – Portugal e Angola vão defrontar-se logo no primeiro jogo do grupo D…
AM – Não conheço muito bem a selecção angolana, mas não terá vida fácil e o seu percurso depende desse primeiro jogo. Curiosamente, Angola também é um dos três adversários no nosso grupo na CAN, tal como a Republica Democrática do Congo e o Togo.
24h – Em que aposta para ser a grande estreia do Campeonato do Mundo?
AM – Toda a gente fala do Ronaldinho Gaúcho, a figura de proa do Brasil, mas há muitos outros jogadores que podem aparecer em grande plano. Pessoalmente acredito no que Deco pode fazer. O médio do Barcelona pode fazer uma grande diferença e passar a ser visto de forma bem diferente depois do Mundial.
“Este não era o momento para a CAN”
24h – Com onze golos, é o melhor marcador do Belenenses e o segundo melhor da Liga. Enquanto representa a selecção dos Camarões o seu clube atravessa uma fase complicada…
AM – A posição na tabela não é boa e gostava de ajudar o Belenenses. Este não era o momento indiciado para se disputar o Campeonato Africano das Nações. A FIFA tem de rever as datas, porque assim os jogadores africanos, e os clubes que representam são prejudicados. Gosto de representar os Camarões, mas por outro lado, fiquei um pouco triste, porque talvez o Belenenses sinta a minha falta.
24h – José Couceiro estava preparado para a eventualidade de Meyong vir a ser convocado?
AM – Sim, ele esteve em contacto com Artur Jorge desde há aproximadamente dois meses e sabia que a minha convocação era muito provável.
24h – Quando regressar ainda vem a tempo de lutar pelo troféu de melhor marcador?
AM – Quando voltar vou continuar a bater-me pelo Belenenses. Ajudar o clube é o objectivo primordial. Ser o melhor marcador é um objectivo lateral, que decorre do facto de jogar a ponta-de-lança.
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