quarta-feira, setembro 28, 2005

Entrevista de Carvalhal na Revista Dez

Revista Dez – Record
24-09-2005 (antes do jogo da quinta jornada)

"Azul Memória"
Paulo Jorge Pereira

O Belenenses que esta noite joga no Dragão é uma equipa moralizada por momentos agradáveis, resultados positivos, tendo a UEFA como objectivo. Carvalhal mostra discurso optimista, Meyong encarrega-se dos golos

Na famosa confeitaria, em Belém, as conversas são apenas sussurros. É cedo, há puca gente, ainda é o ruído do torneio medieval entre chávenas de café que se impõe. Mas se passa o balcão, na zona de mesas à direita, um homem toma o pequeno-almoço. Descontraído, lê imprensa desportiva com ar interessado. Há alguma horas, no doce entardecer do Restelo, indeciso entre a ternura soalheira de Verão e a agreste brisa outonal, vestia fato azul escuro e estava no banco de suplentes a liderar o Belenenses no triunfo sobre o Vitória de Jaime Pacheco. Daqui a pouco haverá treino e nem a visita de hoje ao FC Porto intraquiliza Carlos Carvalhal. “A equipa está em evolução, balizámos o trabalho pela organização e não tem havido falta de entrosamento ou de ideias. Tem margem de progressão, mas é natural que, em jogos diferentes, com adversários de características diversas, haja oscilações. O futebol é um jogo de inteligência, em condições normais a abordagem inteligente aos desafios renderá pontos”, explica.

continua...

Para já, tudo vai bem, até porque os onze reforços trouxeram o que interessava e as dezanove saídas não desestabilizaram. “Os novos elementos trouxeram mais qualidade e reforço da atitude competitiva. Tenho, pois, um grupo de bons jogadores e um balneário fantástico. As mudanças foram serenas, não estava em causa despedir alguém, mas vários contratos que acabavam. É certo que alguns podiam ter ficado, mas eu desejava jogadores com outras características e eles aqui estão. Fica o reconhecimento pela colaboração que bons profissionais deram ao clube.” Mesmo a situação de Brasília, que saiu após “caso de indisciplina” e agora voltou para actuar no Leixões, é encarada sem melindre. “As suas afirmações públicas, deixando transparecer arrependimento por alguma atitudes, só o enobrecem, visto que errou sob clima emocional e pessoal que não lhe era favorável. Brasília é um bom jogador, vai ajudar um clube que me diz muito, espero que a época lhe corra bem, faça muitos golos e colabore na subida do Leixões. Voltaria a trabalhar com ele, embora me mantenha inflexível em questões disciplinares, porque isso é fundamental para o êxito.”

Voz por ouvir
Encarando o FC Porto, o técnico belenense reparte elogios e desdramatiza: “É a equipa mais difícil do campeonato, com grande vocação ofensiva e um treinador que arrisca imenso quando o ruma da partida não lhe agrada. Para contrariá-los é preciso ser inteligente na abordagem e na interpretação de todos os momentos do jogo. Do nosso lado há consistência, personalidade, forte atitude competitiva, qualidade para discutir o resultado em qualquer estádio.” Meyong partilha a opinião. “Temos condições para fazer bom resultado, este plantel pode bater-se em igualdade com qualquer adversário. Não goste de falar sobre os opositores, mas eles têm jogadores de capacidade elevada. Tentaremos explorar pontos menos fortes, porque nenhuma equipa é perfeita.”
Atento, Carlos Carvalhal escutou as criticas de Co Adriaanse ao futebol português e retoma ideias que já abordou, reivindicando a necessidade de o futebol ser pensado. “Ele foi pertinente, falou em casos importantes, mas deixou de fora o problema de fundo que ando há dez anos a denunciar sem que a minha voz seja ouvida: o principal motivo para a ausência de publico nos estádios reside no facto de o futebol ter sido tirado ao povo, transformando-se num jogo elitista pelo preço dos bilhetes até nos lugares menos bons. Criei o hábito de ir ao futebol e gostar do jogo porque o meu pai me levava. Agora, na maior parte dos estádios os miúdos de 4/5 anos têm de pagar entrada de adulto. Resultado? Daqui por quinze anos haverá ainda menos gente nos estádios.”
As soluções para esta ameaça galopante podem surgir do diálogo. “As pessoas não gostam de futebol? Errado: os jogos são programas de televisão com mais audiência, a imprensa desportiva tem milhares de leitores fiéis, os relatos radiofónicos suscitam entusiasmo, se as portas forem abertas os estádio enchem. É preciso pensar o futebol! Ninguém ouve treinadores, jogadores ou árbitros e deveriam realizar-se encontros para abordar estes assuntos. Por exemplo, os encontros que fizemos com os árbitros já deram resultados.”

Carvalhal olha a linha do horizonte e tenta avistar bons resultados: na época que que passam 60 anos sobre o titulo belenense na I Divisão, emergem os heróis de 1945/46

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