terça-feira, fevereiro 15, 2005

Por falar em assistências...

Não gosto de ser alarmista e faço por não o ser. Por isso digo que a presença de tão pouco público nas bancadas não me parece assim tão grave quanto isso, por uma série de factores diversos. O mesmo não significa que não me deixe profundamente triste, até porque poucas acções ver serem tomadas para inverter a situação.

Há uns meses atrás, por altura do jogo com o Boavista, tinha vários convites. Contactei vários amigos no sentido de irem ao Restelo. Muitos deles foram pela última vez ao Restelo ver o jogo com o Braga da época passada, e grande parte desses deram a resposta óbvia para quem não seja um verdadeiro apaixonado pelo clube: “Para ver tristezas? Deixa estar, obrigado.”


Ou seja, levar gente ao Estádio não se consegue em 2 dias, nem 2 semanas, nem 2 anos. Até porque mesmo uma “enchente” pontual pode significar um retrocesso: querem melhor exemplo que o tal jogo com o Braga?

É preciso haver um projecto estruturado capaz de integrar diversas vertentes: a paixão, o preço, a qualidade do recinto, a qualidade do espectáculo e, acima de tudo, o resultado final. Porque no fim de contas, por muito bonito que seja jogar bem, o que o adepto quer é ver a sua equipa ganhar. E não me convencem com “tretas” de que há um público que gosta de futebol, e não deste ou daquele clube. Se estamos à espera desses para fazer receita, então teremos umas dezenas de espectadores por jogo… a não ser que haja o tal projecto a longo prazo.

Comecemos então a analisar as diversas vertentes:

Paixão – Infelizmente, sucessivos erros desportivos e de gestão têm afastado muitos adeptos. Para além disso, é preciso não esquecer que “bases de apoio” como a Ajuda, Belém ou Alcântara estão envelhecidas. Mas tal como o resto da cidade antiga, algumas dessas zonas estão a ser reocupadas por uma nova geração e aí temos “material humano” para “apaixonar”. Porque as paixões alimentam-se, senão extinguem-se. Há ainda o problema de grande parte dos “crónicos” espectadores preferirem apupar a equipa em vez da apoiar. Esses ainda lá vão… e os outros que compram o cativo e não aparecem? E os outros que só vão de 2 em 2 anos? E aqueles que vão sempre que é de borla? Não teremos de os apaixonar? Como isso é conseguido? Esqueçam fórmulas milagrosas, há que ser paciente e saber receber os espectadores. Há que criar hábito. Querem melhor exemplo que as músicas que são passadas antes dos jogos e durante os intervalos? Uma lástima, sucessos já com bolor, se calhar de um tempo em que o Belenenses até ainda tinha chama, mas que não se coadunam com um espectáculo do Séc. XXI. Passar meia-hora a ouvir hits dos anos 80 é um mau prelúdio para o jogo. Custará assim tanto passar músicas que as pessoas tenham vontade de ouvir? Nem que seja o último êxito dos inenarráveis O-Zone. Quem é que nunca trauteou aquela coisa horrenda chamada Dragostea Din Tei??? Ora aí está, se toda a Europa trauteia tal coisa sem fazer a mais pequena ideia do que seja, é porque foi criado um hábito. Tantas vezes ouvimos aquilo no rádio ou na TV que nos habituámos. É o que temos de fazer no Estádio. Habituar as pessoas a frequentá-lo, começando por despertar a paixão. Relativamente à paixão, penso até que temos uma grande vantagem relativamente aos outros clubes de Lisboa, nós ainda somos 2 coisas que eles deixaram de ser: um “Clube” e “de Lisboa”. Há que aproveitar as vantagens que daí podemos retirar (e são tantas). Para além disso, é importante “piscar o olho” aos concelhos de Oeiras, Sintra e Cascais, praticamente desprovidos de representação futebolística.

Preço – Este tema já aqui foi mais do que debatido, portanto se calhar voltamos a bater na mesma tecla. Mas não se compreendem os preços praticados, é um facto. Preços de Liga dos Campeões para mais um jogo entre equipas do meio da tabela é ridículo e é matar o futebol. Dizem que um dos problemas de ter muita gente, é que isso aumenta os custos, portanto diminuir o valor dos bilhetes acaba por diminuir ainda mais a margem. Para alguém que só vê em frente, sim, de certeza. Mas e que tal rentabilizar essas pessoas que estão “por nossa conta” durante 2 horas? Incremento de receitas de patrocínios, merchandising, apoio à equipa e consequentemente melhores resultados desportivos, apostar nos serviços para além do raio do jogo na relva… com 3 ou 4 vezes mais pessoas, os bares não facturam muito mais? Não poderemos então cobrar mais pelo aluguer do espaço? E não trará ainda mais empresas interessadas em explorar os bares, fornecendo serviços de melhor qualidade, sendo mais rentáveis e, consequentemente, termos um ainda melhor retorno financeiro? Tenho o máximo respeito pelos vendedores que andam nas bancadas, mas por favor: batas fritas, nougats e afins não é pouco? E porque não, para além de comida e bebida, haver também venda de merchandising? E de brochuras sobre o jogo? Se até no basket, nas competições europeias, ao comprar o bilhete se recebe uma fotocópia com os plantéis de ambas as equipas... Isso é tão pouco e no futebol já é pedir demais.

Qualidade do recinto – É na minha opinião o ponto que mais temos a nosso favor, e se calhar um ponto com que jogamos pouco. Temos um Estádio (um verdadeiro Estádio) remodelado, com todas as condições para a prática desportiva e boas condições para a assistência. Neste último aspecto haverá coisas a rever, saltando à vista de imediato as longas filas para comprar bilhete. Para quando meia dúzia de máquinas de venda automática de bilhetes? Mas o recinto é, sem dúvida, o nosso melhor activo neste aspecto e um dos únicos factores afectos ao Belenenses que é respeitado pelos adeptos dos outros clubes, que são unânimes em considerar o Estádio do Restelo como um estádio muito bonito.

Qualidade do espectáculo – Depende não só de nós, como do adversário. Mas aí também podemos ter um papel decisivo em termos desportivos… mas não só. Há que preencher os tempos mortos. A ideia da entrada em campo de crianças com a equipa é óptima, são é precisas mais dessas ideias. Tenho a certeza que uma percentagem elevada dessas crianças tornar-se-á adepta azul. Outras iniciativas do género são necessárias.

Resultados – O ponto fundamental para atrair pessoas, advoguem o que quiserem. Eu não me esqueço do Estádio da Luz, dos tais 6 milhões, na “era Souness”, com assistências de 3, 4, 5 mil pessoas, semana após semana. O mesmo estádio que, bastando cheirar ao de leve a título, necessitava do triplo ou quádruplo de lugares. Não sejamos demagogos e insinuemos que esses Belenenses que só lá vão quando ganham são piores do que aqueles que estão lá sempre. São diferentes, e precisamos deles para ganhar ainda mais. E precisamos de ganhar para que eles nos ajudem a ganhar. Nem que seja por meio a zero, temos de ganhar jogos para as pessoas quererem ir ao Restelo.

Concluindo, não podemos ser sempre tão pessimistas quanto às assistências, pondo as culpas nos adeptos que “fugiram”. Em vez de lamentar as ausências, devemos procurar compreender o porquê da sua “fuga” e estudar formas de alterar essa situação. Nós ainda somos muitos. Temos é de arranjar formas de nos unir. E de “arregimentar” mais uns quantos.

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