quarta-feira, fevereiro 16, 2005

ENTRE O PASSADO E O FUTURO - SÍNTESE DO PASSADO – PARTE V – DE 1982 a 1989

Entramos aqui no período cronológico que, para mim, posso chamar os tempos modernos (que antecedem os contemporâneos). Isto surpreenderá os que têm bastante menos que os meus 43 anos ou os que de história do clube não têm mais memória do que a de meia dúzia de anos. Mas até esses, um dia, concluirão, como eu, que o tempo voa, e as distâncias que antes nos pareciam longínquas se tornam próximas.

Caído na 2ª divisão, pela primeira vez na sua longa e gloriosa história, em 1982, ainda por cima com um déficit tremendo (e justamente, em larga medida, por causa disso), o Belenenses vivia dias sombrios e o futuro estava cheio de presságios negros.

Valeram, nesta emergência, um punhado de belenenses corajosos e a fidelidade dos verdadeiros adeptos do clube. Entre eles, cumpre destacar Acácio Rosa que, uma vez mais, no início quase sozinho, tentou estancar a queda, começou a inverter a situação, opôs-se à anarquia instalada (com o Belenenses ao abandono, qual quinta sem dono!), diminuiu despesas e aumentou receitas, restaurou a dignidade clubística. Depois, Mário Rosa Freire, que fez ressurgir o clube do ocaso futebolístico e, em seguida, o liderou durante alguns anos em que se obtiveram os melhores êxitos futebolísticos das última décadas: uma Taça de Portugal, uma outra presença na final dessa prova, um 3º lugar no Campeonato, o regresso, durante 3 anos consecutivos, às competições europeias. Como algum dia, inspiradamente, escreveu Alexandre Pais, a sobrevivência do Belenenses foi, em grande medida, “o milagre dos Rosas” – que curiosamente se haveriam de digladiar entre si.

Grande parte dos adeptos actuais não podem imaginar o que significava, então, o Belenenses ter descido ao inferno da 2ª Divisão (correspondente à actual Divisão de Honra). Não era um facto normal e, muito menos, costumeiro; era, sim, algo de insólito e quase inacreditável. Naqueles tempos não se ouvia, como hoje se ouve com tanta frequência - e com tanta ligeireza e tanto despudor, que muito nos ferem, diga-se de passagem – “os nossos rivais são os clubes pequenos não são os chamados grandes”. Para todos os belenenses de então (e ainda hoje, julgo eu, para aqueles que se prezam), o nosso clube era um dos grandes e os outros (grandes) eram/são os seus verdadeiros rivais – sem o que continuaremos a perder a identidade e caminharemos para a morte. Aquela estadia na divisão secundária parecia-nos um verdadeiro exílio, uma penosa expiação.

Muitos de nós, entre os quais me incluo, temeram mesmo que aquela pudesse ser uma queda sem retorno de um clube desvitalizado. E isso pareceu confirmar-se logo no jogo inaugural na 2ª divisão, com um descolorido empate 0-0 no Restelo, frente ao Olhanense, prolongar-se-ia com uma época cinzenta e decepcionante, que raramente deu esperanças de subida (terminámos em 5º lugar), e afigurava-se continuar com desacertos e mudanças de treinadores na primeira parte da época de 1983/84. Só com a vinda do treinador Jimmy Melia encarreirámos de ver, assegurando um muito festejado regresso à 1ª Divisão (mais de 30.000 pessoas no último jogo no Restelo) e o título de Campeão Nacional da 2ª Divisão.

Durante o calvário de tristes resultados no futebol, valia-nos a consolação de, por um lado, se notar um cerrar de fileiras e sinais de recuperação financeira; por outro lado, as proezas obtidas nas modalidades extra-futebol. Vejamos os feitos obtidos nesse terrível período de 1982 a 1984:


1982 - Vencedor da Taça de Portugal em Andebol (triunfo por 26-24 sobre o Benfica, na Final). Vencedor da Supertaça em Andebol. Campeão de Lisboa de Iniciados, em Andebol. Campeão Nacional de Juniores, em Basquetebol. Campeão Nacional de Juvenis, em Basquetebol. Campeão de Lisboa de Juvenis, em Basquetebol. Campeão de Lisboa de Juniores, em Hóquei em Campo. Finalista da Taça de Portugal em Râguebi. Campeão Nacional de Juniores, em Râguebi. Finalista da Taça de Portugal de Juniores, em Râguebi. Estreia nas Competições Europeias de Hóquei em Patins. José Pinto, Campeão Nacional de 20 Km Marcha. Ana Rute Almeida, Campeã Nacional de Patinagem Artística. Maria José Falcão, Campeã Nacional de Ginástica. Maria João Falcão, Cristina Lebre e Elsa Lebre presentes no Campeonato Europeu de Ginástica Rítmica. José Pinto presente nos Campeonatos Europeus de Atletismo.

1983 - Campeão Nacional de Juniores, em Hóquei em Patins. Campeão de Lisboa em Hóquei em Campo. Campeão Nacional de Juniores, em Basquetebol. Campeão de Lisboa de Juniores, em Basquetebol. Finalista da Taça de Portugal, em Râguebi. José Pinto, Campeão Nacional de 20 Km Marcha. José Pinto presente nos Campeonatos do Mundo de Atletismo. Campeão Nacional de Ginástica Rítmica. Vencedor da Taça de Portugal de Ginástica Rítmica. Cristina Lebre, Margarida Carmo, Maria José Falcão e Ana Cristina Peleira presentes no Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica. Reinicia-se a actividade da Natação e do Pólo Aquático.

1984 - Vice Campeão Nacional de Andebol. Vencedor da Taça de Portugal, em Andebol (triunfo sobre o Benfica por 20-18, na Final). Vencedor da Supertaça, em Andebol. Campeão Nacional de Juniores, em Basquetebol. Campeão de Lisboa de Juniores, em Basquetebol. Finalista da Taça de Portugal em Râguebi. Vice Campeão Nacional de Juniores, em Equipas Masculinas de Atletismo. Campeão de Lisboa de Atletismo, em Equipas Juniores Masculinas. Campeão de Lisboa, em Hóquei em Campo. José Pinto, Campeão Nacional de 20 Km Marcha (5ª vez consecutiva). José Pinto bate o próprio Record Nacional de 50 km Marcha e obtém 2ª melhor marca ibérica. José Pinto participa nos Jogos Olímpicos em Atletismo – 8º Lugar nos 50 Km Marcha. Maria João Falcão e Margarida do Carmo participam nos Jogos Olímpicos, em Ginástica Rítmica. Vitória na Taça de Portugal de Ginástica Rítmica.

Face a isto – que resulta de uma compilação que jugo inédita - reitero o que em tempos já escrevi: em épocas de crise sombria do Futebol (sem dúvida, claro, o cerne do Clube...de Futebol Os Belenenses) foram algumas outras modalidades a manterem viva a chama do orgulho clubístico. À atenção dos que defendem que se deve apostar tudo (só) no Futebol!...

As épocas seguintes ao regresso à 1ª divisão foram, em síntese (com as inevitáveis oscilações e períodos ou jogos menos bons), algo que conservamos na memória com muito agrado. Deixaremos um rápido resumo, uma vez que já sobre elas falámos abundantemente.

1984/85 – Para 1ª época de retorno, um bastante razoável 6º lugar no Campeonato

1985/86 – 7º lugar no Campeonato (mas com um bom final, já com Henry Depireux a treinador), 3 jogadores presentes entre os 22 que foram ao Campeonato do Mundo no México e, 26 anos depois, o regresso a uma final da Taça de Portugal. Perdemos 2-0 com o Benfica mas podíamos ter resolvido o jogo a nosso favor nos primeiros dez minutos

1986/87 – Liderança do campeonato até à 8ª Jornada, a primeira vitória sobre um dos outros grandes após o regresso à Divisão maior (2-0 sobre o Sporting, com 45.000 pessoas no Restelo; houve enchentes idênticas contra F.C.Porto e Benfica e outras excelentes assistências, por exemplo, contra Académica, V.Guimarães e Chaves). Algumas exibições espectaculares, nas quais pontificaram Jaime, Mapuata e Mladenov (este, trazendo um “perfume” de classe ao nosso futebol). No final do Campeonato, a conquista do acesso às competições europeias.

1987/88 – Excelente réplica na eliminatória da Taça UEFA com o Barcelona (pela 3ª vez no nosso caminho): derrota 2-0 em Nou Camp (com os 2 golos sofridos no período de descontos!...) e vitória 1-0 no Restelo (com o 2-0 a escapar-nos por um triz diversas vezes). 3º Lugar no final do Campeonato – o regresso ao pódio, 12 anos depois.

88/89 – Liderança do Campeonato nas 5 primeiras jornadas. Eliminação do Bayer Leverkusen, detentor da Taça UEFA, nesta competição, com dupla vitória por 1-0. Conquista da Taça de Portugal, após vitória por 2-1 sobre o Benfica, com o Jamor a transbordar, e mais de 20.000 belenenses presentes, e a consequente garantia do acesso, pela 1ª vez,
à Taça das Taças.

Durante estes anos, assistimos a algo que, incrivelmente, foi único nos últimos 30 anos: a construção coerente e sistemática de uma equipa, ano após ano, todas as épocas garantindo alguns verdadeiros reforços (como vimos detalhadamente em artigos anteriores) e, ao mesmo tempo – aspecto muito importante – não vendendo NENHUM dos jogadores de qualidade. E aqui, toco num ponto que gostaria de frisar, e no qual tenho uma posição muito própria, e invulgar nos dias que correm: sou totalmente CONTRA a venda dos jogadores que nos interessem a equipas portuguesas, mesmo que isso traga um bom encaixe financeiro. A única excepção é se a nossa solvibilidade depender radicalmente dessa venda. A ter que se vender, que se procure fazê-lo para clubes estrangeiros, porquanto:

1º Pagam mais e melhor;
2º Não fortalecemos os nossos adversários;
3º Não nos menorizamos nem contribuímos para alimentar o domínio ditadorial de certos clubes todo-poderosos (como ainda há pouco vimos no caso da ida de José Couceiro para o F.C.Porto, oportunamente comentada neste blog).

A conversa de “não cortar as pernas” é, em si mesma, absurda. Os jogadores e treinadores estão ao nosso serviço (e não o contrário), recebem ordenado e assinaram um contrato. Eles decerto não se vão deter em considerações como “não cortar as pernas ao Belenenses” quando trocam o nosso clube por outro. O posicionamente deve, pois, ser recíproco. Lembremos, para não recuar mais, a triste “borrada” que fizemos com a venda do Emerson: excelente negócio sim, mas para o F.C.Porto (que se limitou a ter olho). Poder-se-á dizer: “ah, mas o Boavista vendeu e vende... o Braga, idem”. E eu respondo: Pois, mas isso é o Boavista. E nós não podemos ser o Boavista II ou o Braga II. Se quisermos ir por esse caminho, que nega a identidade do clube, continuaremos a insistir na via que, por exemplo, levou à desertificação do Restelo (cuja causa principal é que, por falta de afirmação da nossa identidade, por arrefecimento de paixão e de orgulho, os adeptos não aguentam mais e afastam-se). Bem sei que o Boavista, nos últimos 15 anos, tem obtido melhores resultados que nós. Isso não está em causa. O que contesto é que, para tentar inverter a situação, devamos continuar a procurar imitá-los.

Como já vimos no artigo anterior, prova de que bons resultados no Futebol não são incompatíveis com bons resultados nas outras modalidades, são os sucessos nestas alcançados durante esses anos de retoma:

1985 - Campeão Nacional de Andebol. Vice Campeão Nacional de Juniores, em Andebol. Vice Campeão de Lisboa de Juniores, em Andebol. José Pinto, Campeão Nacional de 50 Km Marcha. Campeão Nacional de Ténis, em Veteranos. Vencedores da Taça Ibérica de Veteranos, em Ténis. Estreia na Taça dos Campeões Europeus de Veteranos, em Ténis. Campeão de Lisboa de Infantis, em Hóquei em Campo. Minervina Tomás, Campeã Nacional de Pentatlo Moderno.

1986 - Vice Campeão Nacional de Andebol. Vice Campeão Nacional de Juniores, em Andebol. Vice Campeão de Lisboa de Juniores, em Andebol. Vencedor da Taça de Portugal de Juniores, em Râguebi. Campeão de Lisboa de Infantis em Hóquei em Campo. José Pinto presente nos Campeonatos da Europa de Atletismo.

1987 - Finalista da Taça de Portugal, em Andebol. Campeão de Lisboa de Andebol, em Iniciados. Campeão Infantil de Lisboa, em Andebol. Campeão Nacional de Juniores, em Râguebi. Finalista da Taça de Portugal de Juniores, em Râguebi. Vencedor do Torneio Nacional de Juvenis, em Râguebi. Campeão de Lisboa de Juniores, em Hóquei em Campo. Campeão Nacional de Ténis, em Veteranos. Minervina Tomás, Campeã Nacional de Pentatlo Moderno. Manuel Manteigas, Campeão Nacional de Duatlo. José Pinto, Campeão Nacional de 50 Km Marcha. José Pinto presente nos Campeonatos do Mundo de Atletismo (pela 2ª vez). José Pinto presente nos Campeonatos Europeus de Pista Coberta. José Pinto presente na Taça do Mundo de Marcha. 1º jogo da Equipa Feminina de Râguebi.

1988 - Finalista da Taça de Portugal em Andebol. Vice Campeão de Lisboa de Juniores, em Andebol. Campeão de Lisboa de Juvenis, em Andebol. Campeão de Lisboa de Infantis, em Andebol. Equipa Júnior de Râguebi chega pela 1ª vez à final da Taça Ibérica. Campeão Nacional de Juniores, em Râguebi. Campeão de Lisboa de Juvenis, em Andebol. Campeão de Lisboa de Iniciados, em Andebol. Campeão Nacional de Ténis, em Veteranos. Conquista da Taça Ibérica de Ténis, em Veteranos. Vice Campeão de Lisboa, em Hóquei em Campo. Finalista da Taça de Portugal, em Hóquei em Campo. Estreia do Hóquei em Campo na Taça das Taças. Campeão de Lisboa de Juvenis, em Hóquei em Campo. Campeão de Lisboa de Juvenis, em Hóquei em Patins (de 6). Início da actividade do Triatlo. Teresa Ramos, Campeã Nacional de Pentatlo Moderno. Teresa Ramos participa nos Campeonatos da Europa de Pentatlo Moderno. Campeão Nacional de Marcha em Seniores, Juniores e Juvenis. José Pinto, Campeão Nacional de 50 Km Marcha. José Pinto participa nos Jogos Olímpicos em Atletismo (Marcha).

1989 - Campeão de Lisboa de Juvenis, em Andebol. Campeão de Lisboa de Iniciados, em Andebol. Finalista da Taça de Portugal em Râguebi. Campeão Nacional de Juniores, em Râguebi (3ª vez consecutiva). Finalista da Taça de Portugal de Juniores, em Râguebi. Equipa Júnior de Râguebi chega pela 2ª vez consecutiva à final da Taça Ibérica. Vice Campeão Nacional de Hóquei em Campo. Campeão de Lisboa de Hóquei em Campo. Finalista da Taça de Portugal em Hóquei em Campo. Campeão de Lisboa de Juniores, em Hóquei em Campo. Vice Campeão Nacional de Juvenis em Hóquei em Campo. Vice Campeão de Lisboa de Juvenis em Hóquei em Campo. Campeão Nacional de Ténis, em Veteranos. Teresa Ramos, Campeã Nacional de Pentatlo Moderno. Teresa Ramos participa nos Campeonatos o Mundo de Pentatlo Moderno. Campeão Nacional de Marcha Atlética, por Equipas. José Pinto, Campeão Nacional de 50 Km Marcha. José Pinto presente na Taça do Mundo de Marcha (pela 2ª vez).

E em 1989 terminou o nosso breve período de (só) parcial ressurgimento – em grande medida potenciado pelo golpe de asa que foi a abertura do Bingo, em Março de 1986, em zona privilegiada. Tempos terríveis, mais terríveis que nunca, viriam a seguir... Vê-los-emos no próximo artigo, em que encerraremos esta digressão pelo passado, para, a partir de então, nos situarmos no presente e nos dirigirmos para o Futuro.

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