sábado, novembro 27, 2004

Recordação inolvidável...

Recebemos hoje o Sporting de Braga, o nosso adversário no último jogo da época transacta, do qual saímos derrotados por 0-2, num jogo absolutamente surreal, quer por toda a envolvência, quer pelo acri-doce desfecho final. De facto, mais de 20.000 pessoas nas bancadas, um Braga amorfo e a necessidade absoluta de ganhar não foram suficientes para que a grande maioria dos nossos jogadores se enchessem de brios e jogassem aquele como se fosse o jogo das suas vidas. Enquanto para muitos de nós, foram minutos dos mais angustiantes das nossas vidas.

2 dias antes do jogo, conversando com o amigo bloguista Pedro Cruz, ele dizia-me: “Este é daqueles jogos que não se perdem!”, na resposta aos meus avisos para acalmar a euforia, que passava já por ponderar onde se comemoraria a permanência na Superliga.

Sabíamos já nessa altura, a 2 dias do jogo, que a moldura humana seria certamente fantástica e que haveria todo um ambiente que proporcionaria a vitória como o único resultado plausível. De facto, havia uma mobilização geral dos adeptos Belenenses, de todos, mesmo daqueles mais comodistas e “caseiros”, que haviam compreendido que tinha chegado um dia importante para o futuro do clube. Mais uma queda na 2ª Liga e o Belenenses poderia começar a definhar num processo sem retrocesso.

Foi assim que na 6ª feira eu e o Pedro Cruz nos tornámos “sócios” numa empresa de risco elevado e sem retorno financeiro. Decidimos “empatar” 500 Euros em T-Shirts alusivas ao jogo, as famosas “Nós acreditamos”, que foram vendidas no Núcleo Ajuda/Belém ao preço de custo. Com isto acreditávamos ser possível contribuir ainda um pouco mais para a criação de um ambiente mágico de interacção entre público e equipa. De facto, sabíamos que o Belenenses iria oferecer 100 dessas T-Shirts (eu e o Pedro chegámo-nos à frente com metade do valor que o clube investiu, enfim, paixões…). Essas 100 somadas às nossas 50 seriam 150, já era alguma coisa. Para além disso, os jogadores iriam aquecer com essas T-Shirts, o que simbolizava ainda mais esse pequeno pedaço de tecido.



Sábado à hora de almoço as T-Shirts chegaram ao Núcleo e começaram a ser vendidas. Mas não foi nada fácil e no Sábado à noite ainda nem metade tínhamos vendido. Começávamos a ver o nosso dinheiro “mal-parado”. Quando Domingo depois de almoço (e que almoço, mais à frente perceberão o porquê) continuávamos com o mesmo stock, começámos a dizer mal das nossas vidas…

Entre essa 6ª feira e Domingo, através do Blog e de uma corrente de e-mails que iniciei, distribuí mais de 300 bilhetes a gente de todo o país, do Minho ao Algarve. O meu telemóvel não parava um minuto, com gente que eu não fazia a mais pequena ideia de quem fosse a pedir-me bilhetes. Mais houvesse, mais teria entregue. Cumpri por aí a minha parte de Belenense, no que me era possível ajudar.

Mas o almoço que antecedeu esse jogo foi, esse sim, o momento verdadeiramente inolvidável desse dia. Tive o privilégio de me poder sentar à mesma mesa com uma lenda Belenense, de seu nome Miguel Di Pace, de forma a poder entrevistá-lo para o Site Oficial. Felizmente, e porque nessa mesa estavam bastantes mais pessoas, entre jornalistas e antigos jogadores, as conversas e boa disposição andavam cruzadas e foi de todo impossível efectuar a entrevista. Felizmente porque, desse modo, pude 2 dias depois viver outro momento único, um jantar a três com Miguel Di Pace e Angeja. Um jantar onde se falou de tanta e tanta coisa, onde vi 2 senhores que podiam ser meus avós matarem saudades de 40 anos. E onde senti um respeito imenso por estas camisolas azuis que envergamos, e que apenas dois dias antes antes haviam sido tão mal tratadas.



Quanto às camisolas “Nós acreditamos” que sobraram, e foram 18, acabaram depois por ser levadas pela Direcção para o Encontro de Núcleos e Filias em Cabo Verde, tendo-me sido pedido que fizesse ainda mais algumas de forma a que fosse entregue uma camisola a cada representante das Filiais. Foi um bom destino que lhes foi dado, em especial porque me parece que é uma mostra de que os Núcleo e Filiais podem e devem ser mais activos na vida do clube. Esperemos que as próximas T-Shirts sejam alusivas a uma vitória e não ao evitar de uma catástrofe.

Enfim, foram dias de tristeza e alegria imensa, certamente inolvidáveis. E tudo acabou em bem, certamente que a “estrelinha” do Grande Miguel Di Pace esteve connosco naquela tarde. Foi uma honra Señor Miguel, jamais esquecerei aquele abraço de despedida e o seu sorriso de menino quando falava de Matateu…


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