domingo, novembro 07, 2004

9 PONTOS SOBRE A EQUIPA DE FUTEBOL

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

1. Nunca alimentei grandes expectativas para a presente época futebolística. Penso que se fizeram algumas boas contratações (Amaral e Juninho, sem dúvida; Zé Pedro, talvez; Sandro, ainda tenho esperança) mas há claramente pontos fracos na equipa.

2. A equipa está a fazer, em termos pontuais, o tipo de campeonato que eu esperava, em média, e aliás, o que havia sido apresentado como meta. Outra coisa, foram os castelos no ar que se construíram, sem razões objectivas, a meu ver. Pensava, sinceramente, que nesta altura tivéssemos mais pontos; mas também esperava que depois houvesse uma descida de rendimento. Ora, se o “gás” da equipa não durou mais do que 3 jornadas, por outro lado constata-se que ela está psicologicamente bem. Não antevejo nenhum descalabro.

3. Entre o endeusamento (inicial) de Carvalhal e as críticas que agora chovem, julgo que, ponderadamente, há um ponto de equilíbrio: é um bom treinador mas não é genial. Parece ter recuperado psicologicamente a equipa, depois do que se passou na época anterior, e mesclado bem os que vieram com os que já estavam mas a equipa apresenta ainda grandes oscilações. Não parece ver excepcionalmente bem o jogo no banco mas tudo indica que tem belíssimos métodos de treino. Esperemos o desenvolvimento do seu trabalho.

4. Realisticamente, uma equipa não se constrói num dia. Os automatismos demoram a consolidar-se. As equipas de sucesso vão-se melhorando época após época, primeiro colmatando os pontos mais fracos, depois adquirindo elementos que permitam outras opções, enfim, obtendo jogadores que, só por si, possam desequilibrar. Espero que se trilhe esse caminho no futuro. Nisto, a estabilidade e uma visão de médio prazo são importantes.

5. Mas, dir-se-á: e o que está a fazer o Vitória de Setúbal? Penso que é uma excepção e, de qualquer maneira, sem lhes tirar mérito – que o têm – “as contas fazem-se no fim”. Não obstante, por muito que me custe dizê-lo, julgo que há no V. Setúbal (e não só...)um ânimo conquistador e uma garra que há muito anda arredia da nossa casa...

6. Queixamo-nos da falta de ambição da equipa, em especial nos jogos fora. Julgo que é verdade mas penso também que a culpa não é exclusiva nem principalmente do treinador e dos jogadores. Acho errada a ideia de que tudo depende destes. Na verdade, sobretudo em termos de atitude, é deles que menos depende. Se muitos sócios e adeptos, e também alguns dirigentes, são os primeiros a dar o exemplo (dentro de “casa”) de conformismo, ambições medíocres, falta de sentido conquistador, desrespeito pela grandeza e identidade do clube, quando somos enxovalhados e não reagimos, quando nos pomos em posições que nos menorizam (e, a meu ver, nos humilham) e ainda aplaudimos, se se pensa o clube como se fosse uma empresa de máquinas de lavar roupa ou coisa assim, se temos as bancadas do nosso estádio desoladoramente vazias – o que pensamos que se transmite para os jogadores? Atenção, não se me interprete erradamente: isto não é uma postura derrotista. É um apelo a que nos comportemos de forma diferente.

7. Temos um dos melhores ataques e uma das piores defesas. É natural: O nosso meio campo é ofensivo, os laterais são melhores a atacar que a defender, a defesa é totalmente nova...). Prefiro que empatemos 3-3 do que 0-0. Mas o ideal é tentar manter o desempenho atacante, e compensar as funções defensivas, com os equilíbrios necessários.

8. Não gostaria que viesse um carregamento de jogadores em Janeiro. Um estará bem, dois aceita-se, mais do que isso...não. Na minha opinião, a equipa apresenta 4/5 lacunas principais: um comandante para a defesa (Wilson, parece que passou o seu tempo; Sandro, será talvez hipótese); um defesa esquerdo (Cristiano tem estado muito mal, Cabral, Eliseu, Brasília, Gonçalo Brandão são hipóteses mas... resultarão?); um trinco (ou, então, avançar Pelé, mas há que colmatar o centro da defesa); um jogador que entre bem pelo lado direito (Amaral tem sido o nosso verdadeiro extremo/médio aula direito mas, com um meio campo pouco agressivo, ficam compensações por fazer) e um jogador de área (tremo de pensar se Antchouet tem algum impedimento ou baixa de forma; e, de qualquer forma, precisemos de outro avançado que marque golos).

9. Estou contente? Não: Estou apenas a concluir que as coisas vão dentro do que era normal esperar. Gostava que as coisas fossem diferentes para melhor? Claro que gostava. Mas, para isso, teria que haver outra atitude, outra mentalidade, outra garra, outra coerência... e isso já é outra questão, embora seja a grande questão...

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