sexta-feira, julho 30, 2004

Palavras que foram ditas



Graças ao convite, e depois à gentileza e disponibilidade do Luciano, tenho escrito muito frequente e extensamente neste blog, focando não apenas aspectos históricos do Belenenses mas, também questões presentes e futuras. Se se reparar, mesmo nos artigos sobre o passado, há muitos comentários, explícitos ou nas entrelinhas, aplicáveis ao presente ou ao futuro do nosso clube. No caso da rubrica semanal “Entre o Passado e o Futuro”, virão ainda vários artigos que, olhando o passado, claramente se projectam no presente e no futuro. Também espero elaborar um plano o mais completo possível do que penso que deveriam ser todas as linhas de actuação global do clube (e da SAD) – talvez possam dar algumas ideias úteis, quem sabe?

Digo isto porque, mais uma vez, faço questão de esclarecer que não estou agarrado ao passado pelo passado mas apenas para que seja o que nele houve de grandeza, de nobreza de sentimentos, de amor, sacrifício e paixão pelo clube a inspirar e a dar-nos a medida do que haveremos de construir no futuro.

No entanto, vejo com tristeza que, apesar do trabalho extraordinário de homens como Acácio Rosa e Homero Serpa, muitos tesouros da história do nosso clube estão em risco de se perder, olvidados, dispersos, não valorizados e acarinhados. Feitos heróicos, esforços titânicos, tradições maravilhosas, figuras gigantescas, actos de abnegação pelo clube, textos repletos de sentimento e beleza vão ficando esquecidos, postos de lado, subalternizados ao culto do imediatismo, das contratações anunciadas com trombetas mas que em meses perdem o seu brilho, dos ícones de vento e de plástico vendidos por campanhas de Marketing, jornais, televisões, empresários e interesses económicos – de certo modo, a antítese do que fez grande e diferente o Belenenses. Quero, pois, ajudar a reunir e a conservar um pouco do que ainda vai a tempo de ser guardado.

Tenho pena de, eu próprio, ter perdido muitos registos que tinha; e sei, também, que me escasseiam os dias para continuar a escrever sobre o Belém. Muito está perdido mas, para quem possa interessar-se futuramente por um tal trabalho, lembro que nos livros de Acácio Rosa, nos registos de jornais antigos, sobretudo de “A Bola”, que espero estejam guardados e possam ser acessíveis, se encontrará ainda muito material.

Chamo a esta nova série de textos “Palavras que Foram Ditas”, porque vou buscar o que, no passado, distante ou recente, foi dito por diversas pessoas, a que me limitarei a acrescentar alguns comentários. Será um pouco de tudo: páginas comoventes sobre o nosso Belém; avisos que não foram levados a sério e permanecem válidos; promessas não cumpridas; traições aos ideais do clube; a luta contínua contra os obstáculos e adversidades; as mil e uma oposições levantadas contra o Belenenses; a alma com que os nossos maiores edificaram e perpetuaram este clube a que tanto amamos…

E, por um acto de justiça para quem, entre muitos outros serviços prestados ao Belenenses, foi o principal historiador do clube, e ainda por vir na linha do que aqui expus, vou começar por:

Acácio Rosa e a história do Belenenses

No início do seu livro”História do Clube de Futebol Os Belenenses”, editado em 1991, escreveu Acácio Rosa:

“Tenho medo que as vitórias, os êxitos, os nomes dos que com “Camisola Azul e Cruz ao Peito” fizeram grande o Belenenses, não cheguem às novas gerações.

Tenho medo que as páginas belas e trágicas da nossa história sejam lançadas à vala comum.

Este livro, tal como os 3 volumes já publicados, não é a História do Clube de Futebol ‘Os Belenenses’”.

Para escrever a história do Belenenses seria necessário engenho, arte e saber.

O meu engenho, a minha arte e o meu saber foram, somente, ter a consciência tranquila de dar a conhecer às novas gerações do ‘Belém’, os nomes de todos aqueles que serviram e se apaixonaram por este Clube”.

Não são precisos comentários… Obrigado, Acácio Rosa!

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