sábado, julho 03, 2004

Adeus Rui Costa, és grande!

Devo admitir que, ao longo dos anos, Rui Costa sempre foi o meu jogador preferido pela sua maneira de estar e classe dentro de campo. Baía podia ser o guarda-redes milagreiro, Couto o central imperial, Paulo Sousa o trigonometrista do meio-campo, Figo o carregador da equipa ou João Pinto o explosivo do ataque. Mas Rui Costa era o génio.

Sou adepto da Fiorentina desde muito antes de Rui Costa, num passe de mágica que me fez delirar, lá ter ido parar. Não sei porquê, só sei que é a minha equipa preferida em Itália desde muito miudo. Será por serem o Belenenses lá do sítio? 1 Scudetto há muitos anos, meia dúzia de Taças, muito nome, muita história, mas com a Série B no horizonte, intercalado com uns brilharetes na Série A?

Rui Costa é uma pessoa de uma humanidade ímpar, um verdadeiro amigo. É daquelas pessoas com que não se consegue antipatizar. Há uns anos fizeram-lhe um "apanhado" na televisão, que acho sinceramente que devia ser passado de novo, onde ficava bem vincado o carácter do Príncipe de Florença: numa visita à tabacaria dos pais (na Damaia, os principes não vêm da Damaia), gerava-se uma confusão e um homem andava com uma arma aos tiros e acertava numa pessoa. Pensam que o "famosíssimo" Rui Costa se escondeu? Não, ele deu a cara e o corpo ao suposto criminoso, encarou-o e tentou demovê-lo das suas intenções.

Hoje foi sinceramente um dia triste para mim. Já receava que Rui Costa abandonásse a selecção após o Euro. Mas ainda esperava que não. Agora que, finalmente, ao fim de uns 2 anos o seleccionador tinha descoberto que a única forma de Rui Costa continuar genial era entrar na 2ª parte, ele sai. Tenho pena, espero só que saia coberto de glória, no Estádio do seu coração.

Rui Costa é, para mim, mais do que um jogador. É um amigo que eu nunca conheci, é o jogador que eu gostaria de ser. Mais que um Toldo, um Carnasciali, um Couto, um Lula, um Fernando Mendes, um Emerson, um Nii Lamptey, um Ryan Giggs, um Mauro Airez ou um Batistuta. Eram estes os heróis da minha infância. Mas havia um super-herói: chamava-se Rui Costa.

Obrigado por tudo o que desta a Portugal, Rui!


Frases soltas de António Pedro Vasconcelos sobre Rui Costa
- "... há apenas duas espécies de grandes jogadores - e estamos a falar de vedetas, daqueles que ficam para sempre na memória dos adeptos: os temperamentais, que jogtam como se cada jogo fosse um ajuste de contas com a vida, uma vingança das feridas de infância, jogadores para quem cada vitória é uma vitória sobre o infortúnio. São revoltados, arrogantes, conflituosos, indisciplinados - e geniais. Chamam-se Maradona, Stoichkov, Gascoine, Cantona. E depois há os outros: os que jogam com o coração, que agradecem o dom que Deus lhes deu para jogar à bola, que transmitem felicidade ao jogo e tranquilidade à equipa. Esses, que não são menos geniais, chamam-se Pélé, Eusébio, Platini, Roberto Baggio. E Rui Costa."
- "Na Fiorentina, Trapattoni, que compreendeu que ele não é um jogador que precisa de sacrifício, mas alegria, mandou-o jogar 30 metros mais à frente, e ele encontrou, finalmente, o seu lugar: como encontrou o companheiro ideal, Batistuta, com quem tem um "contrato telepático", como disse Ranieri, e que, além do seu melhor amigo, é o seu complemento perfeito, que transforma em golos os seus passes mágicos e dá a melhor conclusão aos seus arranques inesperados."
- ... e que mais se pede a um génio, senão o que pediu Diaghilev a Cocteau: Que nos surpreenda."

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