sexta-feira, julho 23, 2004

Optimismo? Pessimismo?

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

Desde há algumas semanas – mais propriamente desde que foi conhecido quem seria o treinador para a próxima época futebolística – que se vem discutindo nos blogs se estamos optimistas ou pessimistas para a próxima época. Ou antes: alguns afirmam “estou confiante” ou “estou optimista” e, quando outros denotam algumas insatisfações, dizem que eles são “pessimistas”.

É indubitável que há temperamentos mais optimistas e outros mais pessimistas – e, às vezes, até os alternamos em diferentes fases da vida. Penso que o realismo é melhor do que o optimismo ou o pessimismo, pois estas duas são apenas perspectivas subjectivas, respeitáveis, mas que não têm mais valor que esse; entretanto, neste caso, penso sobretudo que os “optimistas” e os “pessimistas” (admitamos estes termos) estão a pensar em coisas diferentes. Em consequência, falam também de coisas diferentes e, por isso, não se entendem – embora, nestes espaços azuis, prevaleça quase sempre a cordialidade e o respeito activo (digo “respeito activo” porque, para mim, não dar cavaco, não é respeito), que são um verdadeiro exemplo.

Na verdade, uns estaremos a falar da recém-iniciada época futebolística (1); outros, dos horizontes futebolísticos para os próximos anos (2); outros, do futuro próximo do clube em diferentes modalidades, i.e., não só o futebol; outros ainda, do futuro global do clube, a médio prazo, embora dependendo do curto prazo (4).

É nesta última perspectiva que geralmente falo, mesmo quando vou buscar coisas ao passado. Ambas são maneiras de ver fora do imediato, seja para trás ou para frente. São maneiras de estar e de ver as coisas, e estas são as minhas mais frequentes. Mas, por não serem as únicas, vou falar um pouco das outras.

1) Próxima época futebolística. Se avaliar em função dos objectivos dos responsáveis, ou seja, ficar nos primeiros 8-10, quer dizer, ficar a meio da tabela sem aflições, estou moderadamente “optimista”. Não temos um grande plantel mas temos o suficiente para ficar nesses lugares. O que aconteceu o ano passado tem muito a ver com uma série impressionante de asneiras. O plantel, em si, tinha qualidade para o meio da tabela (grosso modo). Acho o deste ano com um valor mais ou menos equivalente. E acho que não se farão as mesmas asneiras de gestão. O treinador parece bom, fiquei contente com a sua contratação. No entanto, depois de tudo o que já se viu, nomeadamente no Belenenses, com treinadores considerados competentes, ambiciosos, etc, não alinho em entusiasmos excessivos. Em princípio, estando no Belenenses, é o melhor treinador do mundo. Deve ser apoiado assim, enquanto não houver razões para ser de outra forma. Mas, repito, demasiada dependência de um treinador não é bom.

Agora, se virmos a próxima época doutra forma, eu estou triste ou “pessimista”. Dizer que o objectivo é ficar em 9º ou 10º não me motiva nada. Significa continuar a andar para trás. A perder terreno. Cada vez menos os jogadores ambiciosos nos podem olhar como um destino apetecível. Nem infundimos respeito a outras equipas. Se se perguntar ao adepto comum, não belenense, quais as melhores equipas, ele falará do Porto, do Benfica, do Sporting, do Boavista, do Marítimo, do Guimarães, do Braga, do Nacional... e nós? Fracos objectivos para o 4º clube português! É claro que no futebol há surpresas e podemos afinal ir mais longe do que os tais objectivos apontados. Claro que sim! Mas, pela mesma razão, também podemos ficar aquém e acontecer mais ou menos o mesmo que o ano passado. Aí, que se pronunciem os optimistas e os pessimistas. Por nós, falamos só do previsível dentro de um plano de normalidade. E o previsível, é realmente o meio da tabela. (Ainda há outra coisa que me entristece mas já se sabe e não vou repetir...).

2) Se os objectivos apontados para esta época não nos entusiasmam, não serão eles uma proposta realista, uma espécie de época de transição (como escrevi há tempos) que permita preparar outros voos? Pode ser; oxalá que sim. Mas, como já muitas vezes se disse algo de semelhante no passado e deu em nada, como apesar de alguns indícios positivos (a ideia de uma prospecção eficaz, por exemplo) ainda estão indefinidos e julgo que ainda não passaram a actos, como a política de empréstimos e até os contratos de um ano (além de uma excessiva dependência face à visão de um treinador só com um ano de contrato... e que até pode sair por “cima”) não são indícios muito animadores, mantenho-me expectante. Só duas observações: os protocolos para empréstimos de que falou o Engº Barros Rodrigues vão ser com clubes portugueses (para mim, péssimo!) ou com clubes estrangeiros, v.g., espanhóis, brasileiros e até argentinos (o que acharia muito bem)? E a propósito de Argentina: a rede de prospecção, além de Portugal e Brasil, não se pode estender, por exemplo, à Argentina, de onde o Belenenses recebeu alguns dos seus melhores jogadores, e onde temos amigos? Basta pensar em Di Pace. Claro que não preconizo que, na sua idade, o Di Pace vá andar a correr de um lado para o outro para nos referenciar jogadores. Mas certamente nos pode indicar quem o faça; e, com o seu olho de enorme jogador que foi, facilmente identificará um ou outro reforço que seja válido, mesmo vendo um ou outro jogo ocasionalmente.

3) Noutras modalidades além do futebol, estou optimista. O basquetebol pode fazer tão bem ou até melhor que o ano passado. Se não fizer, não é por falta de esforço para tal mas apenas por quaisquer contingências infelizes e imprevisíveis. Podemos até sonhar com um campeonato, uma taça, ou uma boa participação europeia. O Andebol apresentou uma planificação com deve ser. As modalidades aquáticas, especialmente a Natação, prosperam e têm um futuro altamente promissor. O Futsal pode subir outra vez. Saúda-se o começo do Voleibol Feminino (sem malícia ou segundos sentidos). Não é por acaso que é nestas modalidades, onde o dinheiro ainda não manda tanto, e onde se aproveita melhor o património humano de competências de que dispõe Belenenses, que as coisas são mais risonhas. Algo que dá para pensar... De qualquer modo, apesar de ser defensor de outras modalidades, temos que reconhecer que o Futebol é o que mais define o estado do clube.

4º) E o futuro global do clube? Haveria tanto para dizer... que vou dizer muito pouco. Não me quero alargar.

Em síntese, estou moderadamente apreensivo. Reconheço e sou grato ao esforço continuado para resistirmos e sobrevivermos, em padrões de dignidade; às melhorias notáveis no domínio das instalações; a um reequilíbrio financeiro. Mas, apesar disto, continuamos a ficar para trás. Continuamos a ver uma ambição limitada. Continuamos a ver que não nos situamos na realidade destes tempos, com estratégias de crescimento em termos de adeptos e de aproveitamento de meios de CS.

E... Por causa da construção do Restelo (e do azar daquele campeonato em 54/55), perdemos um pouco o comboio da profissionalização (a partir de meados da década de 50); por causa das dívidas e encargos por causa do Restelo, perdemos o comboio de brilhar em competições europeias (anos 60 e começo dos 70). Perdemos o comboio do tempo da grande projecção do Futebol nos jornais e na televisão (anos 90). Em breve virão campeonatos europeus. Com várias divisões e, depois, algo de semelhante aos nossos actuais distritais, que serão os campeonatos só nacionais. Há 40 anos atrás, aspiraríamos à 1ª Divisão europeia; há 15 anos atrás, à 2ª Divisão. Agora, corremos o risco dos “distritais” (i.e., nacionais). Temos uma década, ou talvez menos, para dar o salto...ou não. Se o não dermos, corremos, sim, o risco da Atleticização. Pode parecer uma loucura, um pessimismo detestável, mas olhem que há mais quem veja este risco. E com mais conhecimento de causa! Mas não sejamos derrotistas e pensemos em soluções!

Estes sim, são os grandes problemas a pensar. Acho que nos blogs já várias pessoas deram contributos válidos. E grátis!

(Nota: este artigo foi escrito antes do jogo em Santiago do Cacém).

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