segunda-feira, julho 26, 2004

Gastos

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

Já aqui manifestei o meu respeito e consideração pelos actuais dirigentes do clube. Fi-lo, desde logo, porque constato a sua honradez (pelo menos naqueles que reconheço e identifico) e a sua honestidade, nomeadamente na gestão dos dinheiros do clube.

Deste modo, o que escrevo a seguir não tem nada a ver com a presente Direcção, nem com nenhuma outra em particular, mas apenas com uma reflexão global.

Já conheci uma instituição, NÃO desportiva, que se queixava constantemente da sua pobreza o que, segundo os seus dirigentes, impedia de fazer alguma coisa de significativo. Os dirigentes mudaram, aquilo deu uma volta, e acabou por se descobrir que havia um excelente património e bastantes rendimentos. E muito dinheiro parado, para nada. Certamente, o Belenenses não tem muito dinheiro. Mas, no caso daquela outra instituição, a pobreza afinal não era de dinheiro: era a pobreza de espírito, de ideias, de iniciativa, de horizontes, de projectos, de inconformismo, de vontade de realizar! E essa é a sempre a maior pobreza de sempre.

Ora, que eu saiba, o Belenenses foi sempre pobre; mas foi a riqueza de iniciativas, de arrojo, de pioneirismos, aquilo que o fez grande!

Como não me quero alargar, continuo a deixar apenas uma espécie de tópicos:

Quando há um desequilíbrio negativo entre receitas e despesas, pode-se tentar solucioná-lo diminuindo as despesas e/ou aumentando as receitas. Por norma, o melhor é aumentar as receitas. Para aumentar as receitas, muitas vezes, não se pode deixar de investir. Tem é que se fazer bem esse investimento e, claro, dentro de limites razoáveis. Sustentada e progressivamente.

Gastar mal ou excessivamente pode não ser apenas pela forma activa de despender dinheiro (e/ou alienar património). Por exemplo:

- Não haver uma política sistemática, ambiciosa e inteligente de atrair adeptos, portanto público, portanto receitas, não é financeiramente nocivo?

- Desmotivar os adeptos, permitir que uma equipa perca toda a ambição e dê péssimos espectáculos, afastando público, portanto receitas, não é financeiramente nocivo?

- Não se aproveitar os recursos do mundo actual para promover, divulgar, popularizar o clube e as suas actividades, não é financeiramente nocivo?

- Não haver uma política global e integrada de captação, formação e aproveitamento de jogadores das camadas jovens não é financeiramente nocivo?

- Ficar só dependente das ofertas de empresários, em vez de criar os meios para descobrir bons jogadores a preços acessíveis, numa melhor relação custo-qualidade, não é financeiramente nocivo?

- Chegar ao fim da época sem nada na manga para reforçar a equipa e depois, para fazer algumas contratações, já só ficar com o refugo, sem muito por onde escolher, não é financeiramente nocivo?

- Poupar 10 no início da época porque “assim talvez chegue”, para depois se gastar 30 a
meio da época, já com a corda na garganta, não é financeiramente nocivo?

- Aceitar emprestados como meio de outros clubes pagarem as sua dívidas para connosco, emprestados que depois (se forem realmente bons) se vão embora, e nos obrigam a partir do zero para solucionar o problema do ano seguinte, não é financeiramente nocivo?

- Não haver um aproveitamento sistemático das grandes figuras do clube como referências para os actuais praticantes e como forma de projectar a imagem e o prestígio do clube, não é financeiramente nocivo?

Como disse, não pretendo criticar ninguém. Quero somente deixar alguns pontos de reflexão que me parecem válidos.

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