sexta-feira, dezembro 16, 2005

Psicologia Desportiva: Que Importância?

C.Figueiredo

Não estando eu habilitado a falar sobre Psicologia Desportiva, visto a minha vertente laboral ser a Psicologia Clínica, julgo ter algumas luzes sobre o assunto e quanto mais não seja, penso ser útil abordá-lo e discuti-lo entre todos nós, primeiro porque está muito em voga e segundo pela prestação da equipa sénior profissional do nosso CFB.

Uma análise do desporto mundial, mostra que a evolução da preparação física, técnica, táctica e da tecnologia aplicada ao mesmo, cresceu de uma maneira vertiginosa nestes últimos anos. Quase tudo é proporcionado ao atleta para que no momento da competição ele possa apresentar o seu desempenho máximo. Mesmo assim muitos atletas têm falhado na hora da verdade, pois o factor psicológico, tão importante como os demais factores associados ao rendimento humano, tem sido descuidado ou não levado em consideração.

Continua...

Como em tudo na vida, desporto incluído, a mente de uma pessoa pode quebrar e ultrapassar barreiras...ou então ficar encurralado e preso nelas. Em todos os desportos, o controlo da mente e por sua a vez o controlo do jogo, é trabalhado ao ínfimo pormenor, casos como o ténis, o volley, o futsal, o andebol, etc., quem de nós já não assistiu a recuperações milagrosas do marcador? Claro que sem ter técnica e táctica, tudo é mais difícil, mas pior ainda se o atleta não acredita nele próprio, porque é à sua mente que vai buscar a crença, energia, vontade, raça e querer para virar algo a seu favor.
Um dos exemplos mais flagrantes da importância do factor psicológico são as lesões, e calha bem porque existem certos jogadores que vão de lesão em lesão no nosso plantel (Silas é um exemplo gritante).
Se por um lado, essas lesões podem ser causadas por factores físicos como carga de treino, fadiga, acções mal executadas e acidentes, por outro, tem sido enfatizado também que o factor psicológico, pode determinar uma predisposição do atleta para esse transtorno. Alguns investigadores, referem que a ocorrência de uma lesão física num atleta pode levar ao aparecimento de ansiedade, depressão e prejuízos na sua auto-estima, chegando mesmo a proporções clínicas significativas. Numa abordagem qualitativa, estes investigadores entrevistaram 10 atletas de elite (3 homens e 7 mulheres), tentando verificar a forma como eles lidavam com as suas lesões. Os atletas referiram, medo, tensão, fadiga, incredulidade, depressão e queixas somáticas (enjoo, perda do apetite, insónia e etc.) (Perturbação Somática em Psicologia consiste na manifestação física de sintomas psíquicos). Os autores também verificaram que os atletas expressaram a sua incapacidade de conviver com o período longo de reabilitação, a restrição da actividade e a sensação de ser dominado pela lesão.

Este é apenas um exemplo que como a mente interfere e de que maneira no rendimento de cada um e neste caso específico dos atletas.

Na verdade, cada vez mais está institucionalizada a prática de testes psicológicos para aferir capacidades, de modo a permitir ou não que candidatos entrem numa qualquer empresa. Se assim é, na altura de fazer contratações, porque não se avaliam (além dos aspectos técnicos, físicos e tácticos) os aspectos psicológicos e até sociais dos jogadores em causa?

A resposta talvez esteja na sapiência, inteligência e enorme visão de quem pensa que gere o futebol. No futebol existe muita gente sem humildade para reconhecer que algumas coisas lhes escapam entre os dedos, e quem tudo tenta fazer, acaba ou por não fazer nada ou, pior ainda, comete erros..

Abraço

Sem comentários: