quinta-feira, dezembro 15, 2005

A BOLA: O sonho azul do Daniel

L.Vieira

Artigo publicado no jornal A BOLA em 14/12/2005

Momento da equipa é delicado mas não esmorece a paixão deste homem de 69 anos

Não há idade para sonhar. Nem tão-pouco para cumprir esse sonho. Daniel Freitas que o diga. Aos 69 anos, este angolano, que vive no Algarve, meteu-se ontem no comboio com a familia e cumpriu um sonho de menino: visitar o Estádio do REstelo. Com o Belenenses no coração desde que se lembra que existe, muito por influência do pai, Daniel correu ontem atrás do sonho. Com a emoção estampada no olhar...


«Bom, na verdade, não é a primeira vez que aqui estou. Há trinta e tal anos estive cá, a ver um Belenenses-Benfica, era o Melo guarda-redes e o Belenenses perdeu 2-3. Não me lembro de mais nada. Foi chegar, ver o jogo e sair. A nada me soube...», explica Daniel Freitas, enquanto olha em redor do estádio. Respira fundo, saboreia o momento. «Este sim, é o momento por que tanto esperei», refere depois.

Daniel Freitas faz-se acompanhar pela mulher, Mari aJosé, pela filha, Daniela, que está em Portugal de férias, pois vive nos EStados Unidos, e por um prima, Maria de Lurdes, a principal dinamizadora da concretização do sonho deste homem vivido. Nasceu em Angola, emigrou depois para San Diego, Califórnia, e instalou-se na Fuzeta, no Algarve há 14 anos.

continua...

Levantaram-se cedo, às seis da manhã. Mas valeu a pena. Daniel está radiante, a familia muito feliz por ver... a sua felicidade, sobretudo Maria josé, que, vacinada pelo marido, sofre no sof´+a a cada jogo do Belenenses. «Ai, meu Deus, não perco um. Como poderia perder?», dispara Daniel. «Ele tem perdido anos de vida com o Belenenses» diz Maria José. «Mas o estádio é lindo, a vista fabulosa», acrescenta a senhora olhando para o Tejo.

A actual época, até agora menos conseguida, motiva alguma apreensão em Daniel. «Isto não está nada bem. Mas, ganhando ou perdendo, serei sempre do Belenenses. Que hei-de fazer? É uma paixão», diz.

E fica um pouco nervoso quando sabe que, dentro de momentos, vai começar mais um treino da equipa. A possibilidade de conhecer José Couceiro deixa-o entusiasmado, mas a sessão acaba por realizar-se no relvado principal, e o encontro, que A BOLA iria promover, não se concretiza.

Os olhos fixam-se agora no relvado. «Olha o Zé Pedro, que grande jogador; o Rolando, o Amaral... Maria, olha o Marco Aurélio», alerta.

Aqui, e enquanto Daniela tira algumas fotografias, Maria José não se contém e chama o brasileiro, que, com a simpatia que lhe é característica, acena.

Os ponteiros aproximam-se do meio-dia e há mais visitas para fazer, sobretudo a familiares, pois o regresso ao Algarve estava previsto para a noite.

Antes, porem, deixou alguns recados:
«O Belenenses tem de reforçar-se. E é bom que ganhe ao P.Ferreira, que vai ser um caso sério. Têm de arrebitar as orelhas.»

E lá foi, com um sorriso de menino, próprio de quem tinha concretizado um sonho. Aos 69 anos...

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