sexta-feira, maio 06, 2005

Tenho saudades

Eduardo Torres

Acho que não sou saudosista. Escrevi aqui muito sobre o passado do clube, talvez escreva mais ainda, mas também escrevi sobre o futuro e, se entretanto não desistir – farto de insultos, ironias e mal disfarçados despeitos – tenho muito para escrever sobre o futuro.

Hoje, porém, darei razões a quem me quiser apodar de “saudosista”. É verdade: no que respeita ao Belenenses, tenho saudades!

Tenho saudades de começar uma época cheio de fundadas expectativas de que vai ser um ano em grande. Há quanto tempo, há uma década e meia para ser exacto, não olho para uma nova época cheio de esperanças de que vamos fazer mais do que assim-assim, de que vamos fazer uma época digna da história do Belenenses, de que vamos andar orgulhosos e contentes (não confundir com contentinhos)!



Tenho saudades de ver muita gente no Restelo. Tenho saudades de estar apertado nas bancadas. Tenho saudades de ter gente à volta, de sentir calor, élan, clubismo no ar!

Tenho saudades do tempo em que, olhando para o lado, eu tinha a certeza de que aqueles que estavam ao redor eram mesmo (adeptos) do Belenenses. Hoje, nunca se sabe se não são adeptos do Benfica ou do Sporting, ou, ao mesmo tempo (!!!), adeptos do Belenenses e de um desses clubes, ou só adeptos da bola, ou deste ou daquele jogador em particular – ou enfim, se são aquelas pessoas tão frias, inertes e irónicas que não parecem ser coisa nenhuma.

Tenho saudades dos jogadores que, além de respeitarem (aquilo que hoje podemos e devemos exigir), também amavam aquela camisola, que era a do seu clube, cujo símbolo beijavam quando marcavam um golo, quando acabava o jogo, quando eram substituídos! Eu gostava que todos lessem e sentissem as mensagens apaixonadas que o grande Amaro escrevia no jornal do clube. Não sou do tempo do Amaro. Mas sou do tempo do Quaresma, do Godinho, do Sambinha – e eles eram (e são) belenenses mesmo (além de excelentes jogadores)! Hoje, essa é considerado uma questão indecente, de “merda”...

Tenho saudades do tempo em que não era possível ver um dirigente ou um funcionário do Belenenses a declarar que gostava que este ou aquele clube (que não o nosso) fosse campeão. Tenho saudades do tempo em que não havia ninguém que se dissesse belenense e que falasse calmamente nos três grandes, como hoje oiço e leio a toda a hora. Tenho saudades do tempo em que, se se podia questionar se ainda éramos um clube grande (eu já não vi os tempos heróicos do Belém!), não podia caber dúvidas de que éramos um grande clube. Hoje, temos o culto do coitadinho, pequenino, poupadinho, amparadinho...

Tenho que reconhecer que me revejo muito pouco no actual Belenenses e em muitos dos que frequentam o Restelo. Que azul tão esbatido! Que saudades do azul vivo e brilhante!

O mais triste de tudo é que já são poucos os que, ao menos, sabem do que estou a falar!

Acorda, Belém! Acorda enquanto é tempo!

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