sexta-feira, maio 27, 2005

Próxima época

Eduardo Torres

Concluiu-se, com um deprimente 9º lugar, esta cinzenta época de 2004/2005 (só colorida pelo triunfo sobre o Sporting e pela goleada ao Benfica, nos dois jogos em que, para mim, vem ao de cima toda a rivalidade que me estimula). Assim, todos nós começamos agora a perspectivar a próxima época.

No meu entender, não se afigura fácil a tarefa da SAD.

Penso que, no plantel do ano que termina, somente três jogadores tinham uma valia acima da média: Marco Aurélio, Juninho Petrolina e Antchouet. Os dois últimos estão de saída... Os dois reforços até agora anunciados, Romeu e Djudjervic, apesar de razoáveis, ficam aquém dos que saem, na minha opinião. E, assim, só ficamos com um jogador capaz de fazer a diferença: o guarda redes.

As afirmações do parágrafo anterior merecerão certamente o desacordo de alguns. Respeito e nem sequer faço grande questão em enfatizar a minha opinião. Só o faço em questões de princípios. Mas, já agora, vou tentar explicar o meu ponto de vista.


continua...

Suponho que ninguém discordará que Marco Aurélio é mesmo um valor acima da média. Passo, portanto, adiante. Quanto ao Juninho e ao Antchouet, aí sim, julgo que haverão opiniões contrárias à minha. Não ponho em causa que a dispensa de Juninho se justifique por razões extra-relvado. Desconhecendo o que se passou, tenho, não obstante, que pressupor que se decidiu bem. O que afirmo é que, quando em forma, é um excelente jogador, como mostrou em vários jogos. Combinava primorosamente com Antchouet. Era um virtuoso. Quando deixou de ser titular, era o 2º jogador de todas as equipas com mais assistências. Números são números. Objectivam as coisas e esclarecem muitas dúvidas. O mesmo se aplica a Antchouet. Apesar da fase final caracterizada por castigos, lesões e baixa de forma, ele marcou mais do dobro dos golos que todos os outros avançados juntos. E, antes da tal fase, era o melhor marcador da prova. Mais uma vez, deixemos os números falar. Aproveito para dizer que nunca fui um “apaixonado” do Antchouet, embora possa ter parecido que o era, quando fiz contra-corrente aos entusiasmos de “Rodolfo Lima e Lourenço são uma dupla maravilha” (viu-se...), “Antchouet para o banco”. Nem gosto da maneira como ele está a tentar sair, embora prefira mil vezes um Antchouet a dizer que quer ir para o estrangeiro e que quando lhe perguntam se quer ir para Benfica, Porto, Sporting diz “nada disso, não me interessa!”, do que aqueles tipos com o discurso da treta “sou muito bem tratado no Belenenses mas gostava de ir para um grande e se for um bom negócio para o Belenenses” – isso, sim, um espinho cravado no nosso orgulho.

E o Pélé – perguntar-se-á –, não é acima da média? Vou ser sincero: sem desprimor para o jogador, que tem sido muito útil, para mim não é. Sem dúvida que é um bom jogador, e ainda bem que renovou, mas não é um grande jogador.

Além de Juninho e Antchouet, saem ainda Neca (o que me magoa), Tuck (um grande, grande obrigado!), talvez Wilson (pela idade); Marco Paulo e Andersson são incógnitas, Eliseu (do qual o treinador evidentemente não gosta), idem, Gonçalo Brandão é capaz de ser emprestado... e a propósito de emprestados, três voltam à origem (é pena não ser quatro, apesar de nada ter a reprovar ao Paulo Sérgio enquanto jogador), depois de um comportamento medíocre e de declarações lamentáveis (não no caso de Cristiano, que foi sempre digno e respeitoso, justiça lhe seja feita).

Note-se que dos jogadores contratados na época 2004/2005, só Amaral e Rui Ferreira se fixaram na equipa. Onde está a tal base construída este ano de que fala o treinador? Por favor, não me falem em mais um ano zero ou “nos traumas do terramoto de 1755”!...

Esperemos, pois, para ver o trabalho de casa que foi feito e que reforços vêm aí. Espero que sejam mesmo reforços – ou seja, que tornem a equipa mais forte que este ano. Caso contrário, falar em reforços é uma ironia. E espero que não haja mais cozinhados com certos outros três clubes. Deixem-nos sem espinhos o orgulho de ser do Belenenses!

Além de bons jogadores, precisamos de atitude. Atitude de todos: jogadores, treinador (vou dar-lhe uns meses de “estado de graça”, uma espécie de amnistia...mas haja um plano B preparado, “por si acaso...”), dirigentes e adeptos. Sim, e adeptos! A atitude da equipa também depende do nosso grau de exigência e de comparência. Não tenho dúvidas disso, e acho que todos devíamos reflectir nesse ponto.

(Há meses atrás preconizei a inscrição e participação na Taça Intertoto – mas com uma presença em moldes e com ambição bem diferentes da que teve lugar há quatro anos atrás. Num clube a precisa urgentemente de se voltar a projectar e a ter motivos de entusiasmo, lamento muito que não se tenha tomado essa opção. Podíamos perder 20.000 contos? E, além das coisas que não têm preço, não ganharíamos mais público, e portanto mais receitas, nos jogos do Campeonato, com uma grande carreira nessa Taça?)


Nota - Artigo escrito a 23.05.2005

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