EPISÓDIO #3 - MEMORÁVEL GOLEADA NAS ANTAS
Na época de 1974/75 o Belenenses encontrava-se em 8º lugar com 17 pontos ao cabo de 18 jornadas (nessa altura a vitória valia 2 pontos). Na 18ª jornada havia perdido 1-3 em casa com o Académico, hoje de novo Académica, que ia em último lugar.
O jogo seguinte era nas Antas frente ao F.C.Porto que se encontrava na 2ª posição a apenas 1 ponto do líder Benfica, mas que comandou a prova durante muitas jornadas e onde pontificava o peruano Cubillas, na época a mais cara contratação de sempre do futebol português.
O Porto procurava com afinco conquistar o título que lhe escapava desde 1959, e quase ninguém acreditava noutro resultado que não fosse a sua vitória sobre o Belenenses, que vinha de um resultado desmoralizador e, ainda por cima, atravessava uma onda de lesões.
No dia 26 de Janeiro de 1975, as equipas alinharam:
FC PORTO
Tibi; Murça, Rolando, Alhinho e Simões;
Rodolfo, Ailton(Júlio, 33) e Peres;
Gomes, Lemos e Cubillas.
BELENENSES
Melo, Sambinha, Quaresma, Freitas(Pereira, 79) e Cardoso.
Quinito, Pietra, Isidro(René, 86) e Gonzalez;
Alfredo e Pincho.
Este jogo seria falado durante anos porque o Belenenses deu um verdadeiro show dominando de princípio a fim e criando inúmeras oportunidades de golo além das quatro que concretizou.
0-1, aos 4 minutos, Gonzalez arrancou pela esquerda, suportou duas cargas, prosseguiu, escapou-se, isolou-se, da linha de cabeceira centrou e ALFREDO, muito oportuno, intrometeu-se entre Alhinho, Simões e Tibi e tocou suavemente para as redes.
0-2, aos 24 minutos. Novamente Gonzalez a arrancar do meio-campo, passou para PINCHO que arrancou por seu turno, furou com incrível facilidade pelo meio dos dois defesas-centrais, entrou na grande área sozinho, chamou Tibi, fez golo.
0-3, aos 40 minutos. Intercepção de Freitas no seu estilo vigoroso, arrancando de seguida, entrando no meio-campo contrário, passe para Gonzalez, deste a bola foi devolvida em profundidade para Freitas, que continuou a correr, ultrapassou toda a defesa, foi à linha de cabeceira, centrou rasteiro e PIETRA apareceu excelentemente desmarcado à boca da baliza, na zona central, para desferir o remate fácil.
Uma primeira parte espectacular do Belenenses muito bem articulado em 4x4x2, futebol entorpecente e explosivo com três golos fora os que Tibi salvou e duas mãos cheias de lances que só não deram golo porque não calhou.
Na segunda parte o Porto apenas conseguiu tornar menos flagrante o desequilíbrio.
0-4, aos 66 minutos. Num dos frequentes e perigosíssimos contra-ataques azuis, bola metida em profundidade, Alfredo e Alhinho correram muitos metros lado-a-lado, e, à entrada da grande área, ALHINHO, muito apertado por Alfredo tentou atrasar para Tibi, que entretanto, saía da baliza, acabando o esférico por se anichar nas redes.
Alfredo vai buscar a bola após o 4ºgolo
O Belenenses passou 2/3 do jogo ao ataque! Todos jogaram bem mas Melo, Freitas, Pietra e Gonzalez foram verdadeiros gigantes. Freitas foi um autêntico muro onde esbarravam as tentativas portistas. Gonzalez, talvez o melhor jogador belenense que vi jogar, teve arrancadas e dribles constantes de trás para a frente pela zona central abrindo buracões na defesa do Porto.
No final do jogo o treinador do Porto, Aimoré Moreira, disse que "Tudo correu pelo melhor a uma equipa que ainda por cima jogou melhor". Peres Bandeira, treinador do Belenenses, "O melhor prémio para os meus jogadores foi a ovação do público. Ninguém negará o mérito que nos assistiu no triunfo, que até poderia ter sido mais avantajado".
Foi a partir desse jogo que os jogadores do Porto se recusaram a alinhar de branco, equipamento alternativo, nos jogos em casa...
Lembro-me de ter ouvido o relato todo pela rádio e, mais tarde assistido ao resumo alargado do jogo na TV. Na altura eram raros os jogos televisionados em directo.
No dia seguinte comprei todos os jornais desportivos e gozei muito com um meu colega do liceu, adepto do Porto.
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