quinta-feira, outubro 14, 2004

O PAPEL DOS BLOGS

(Artigo da autoria de Eduardo Torres)

Como há alguns dias disse, e bem, o Nuno Gomes, não podemos resistir, como qualquer outro treinador de bancada, a dar as nossas opiniões sobre a táctica e os jogadores a utilizar, quando um jogo se aproxima; a exigir, a aplaudir ou a verberar uma ou outra modificação, durante o decurso do jogo; enfim, no seu rescaldo, a elogiar ou a censurar esta ou aquela opção e prestação global, tanto do treinador como dos jogadores.

É natural e compreensível que o façamos e que digamos nos blogs o que, então, nos vai na alma. No entanto, concordo igualmente com o Nuno que não é esse o modo como podemos ser úteis ao clube – porque todos os sócios e adeptos lhe podem ser úteis. Tanto mais assim é, quanto é certo que um treinador (a não ser que se encontre numa situação anormal), seguramente sabe mais dessas questões tecnico-tácticas, mesmo que aqui e acolá se engane, pois ninguém é infalível.

Certamente que os blogs são um espaço onde encontramos pessoas que têm um interesse e um amor afins, com quem partilhamos preocupações e anseios, e com quem, em alguns casos, podemos até desenvolver amizades mais ou menos sólidas.

No entanto, considero que a mais nobre e útil das funções de um blog é a de propiciar o surgimento de críticas ou sugestões construtivas, e de aumentar o élan à volta do clube, dando-lhe força e apoio.

Haverá críticas que, ponderando todos os elementos em equação, não tenham razão de ser. Haverá sugestões que, por este ou aquele motivo (ou, talvez, apenas, num determinado momento) não sejam exequíveis. Não obstante, atrevo-me a dizer que os dirigentes, caso dêem uma vista de olhos nos blogs, podem encontrar ideias que devem acolher sadiamente, por serem susceptíveis de melhorar o clube. Criticar, obviamente de uma forma equilibrada, pode ser uma forma de colaborar; mais evidentemente o é, quando se sugerem medidas ou formas de actuar.

Se essas críticas e sugestões não ofendem ninguém, cabe aos dirigentes acolhê-las ou não, exclusivamente de acordo com o seu mérito e justiça intrínsecos, pois o que está em causa é o clube e não as pessoas. Mesmo quando achem mal tudo quanto se diga, tal mostra o “sentir” e o “pensar” de faixas representativas da massa associativa. E, por vezes, justificar-se-á então um esclarecimento geral, através, por exemplo, de um comunicado oficial, dos rumos que se estão a seguir e dos objectivos que se pretendem atingir. A importância disso é manter informada e interessada a massa associativa e não, obviamente, a pessoa A ou B que, pontualmente, fez os reparos ou as propostas.

É meu entendimento que muitas sugestões úteis já apareceram nos blogs; e penso até que algumas terão já sido postas em prática – a não ser que se tratem de notáveis coincidências. Outras, entretanto, existem, que estão ainda em pleno desenvolvimento e que talvez nos pudessem mobilizar em conjunto.

Relembro algumas delas:

- Fez-se, em tempos, um pequeno ensaio de protesto junto de órgãos da Comunicação Social pela discriminação de que todos os clubes, menos 3 privilegiados, são reiteradamente vítimas. É preciso retomar a luta, agora com outros meios e com maior amplitude, alargando a iniciativa a adeptos de outros clubes. Para tal, é necessário estabelecer contactos com blogs e espaços de adeptos desses outros clubes, e também com claques civilizadas, e concertar uma estratégia (embora esta última parte, infelizmente, precise de ser feita de modo não público).
- Para além das propostas que têm sido apresentadas, por vários de nós, publicamente nos blogues e/ou por outros meios, para aumentar a presença de público nos jogos que têm lugar no Restelo, pode haver todo um trabalho de mobilização de público, particularmente em jogos mais significativos. Lembremos o extraordinário trabalho aqui feito, aquando do último jogo da época anterior… Tenho a ideia que alguém (não recordo quem foi) sugeriu que se podia preparar um pequeno texto mobilizador para cada jogo, fotocopiar de modo a que um A4 possa depois ser dividido (guilhotinado) em 4 ou em 8, e distribuir nas caixas de correio das zonas onde o Belenenses tem grande implantação. Pela minha parte, desde já me ofereço para comparticipar nas despesas e se 20 outros o fizerem de 15 em 15 dias, com pequenas contribuições, suponho que se obterá um interessante número desses anúncios.
- Ajudar a restaurar a alma, a mística belenenses, e a recriar um entusiasmo contagiante, devolvendo o público azul ao Restelo, fazendo sentir que é vergonhoso sentar-se mudo e quedo, sem ao menos umas palmas de incentivo ao clube, revivendo a raça, a garra e o querer inquebrantável que outrora empurravam as nossas equipas para a vitória.
- Exercer uma função pedagógica, dando a conhecer o que foi e o que é o Belenenses, a quem dele tem uma ideia muito parcial ou até deturpada.
- Criar reservas de conhecimentos (e conhecedores) que possam servir o clube, tanto globalmente, como em sectores específicos.
- Gerar uma exigência responsável mas inconformada, sensata mas ambiciosa, que constitua um estímulo positivo para os nossos dirigentes.

São apenas algumas sugestões. Muitas outra, decerto, poderão haver!

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