Amigos Belenenses,
Pois é, lá programámos a nossa vidinha dominical para às sete e um quarto estarmos em casa, pontualmente sentadinhos defronte da RTP, a vibrar com as emoções de mais uma época desportiva do nosso clube. Será que o Zé Pedro sempre joga? Quem são os centrais? E os pontas-de-lança? O Paulo Catarro já pensou em 50 soluções diferentes para o Porto nos encavar (o que seria tolerável se, em simultâneo, ele não as expressasse uma a uma, com análise e metodologia à mistura), o outro cavalheiro que narra, que é o verdadeiro técnico, o especialista, o quase doutor, já corroborou, já elogiou muito o Rodriguez, o Sapunaru, o Lucho, o Lizandro; as equipas já entraram em campo e do Belenenses pouco ou nada sabemos: há um Carciano, um Baiano, um Matheus, um China, um Arroz, um Marcelo e um Maykon mas todos são tratados como mercadoria barata, desconhecida e altamente duvidosa; ninguém sabe quem eles são, nem ninguém tem nada que saber. Nós estamos ali para cumprir um papel, o de bobo da festa do F.C. Porto, o tri-campeão nacional, e o que convém mesmo é que a brazucada seja uma bela trampa, não atine com as botas, nem com a bola, nem, salve-nos Deus, com a baliza! Esta é uma máxima que até o ultra-benfiquista do Paulo Catarro compreende; aliás, estou mesmo tentado em considerar que a narração futebolística em Portugal deu azo a um novo tipo de homo clubisticus: aquele que apoia e adora sempre os grandes, sejam eles quais forem, os bajula, os massaja, os polvinha de pó de talco nas partes baixas e lhes serve de mictório caso esse seja o seu último capricho, aquela última pernada que lhes dará o título, de preferência aos três, os três ao mesmo tempo!
Diria que foi um jogo que decorreu à Belenenses: pacato, monótono, com três ou quatro rabias em cada uma das partes, uma bola a entrar na nossa baliza por intervenção do Espírito Santo, alguma excitação e fé nos instantes finais e, como não podia deixar de ser, a expulsãozinha de segurança que deixa de criar embaraços, sejam eles quais forem, ao doutoradíssimo, professorzíssimo Jesualdo Ferreira, neurótico crónico convertido em sumidade intelectual do nosso irredutível futebol nacional. Haja paciência! Eu tenho-a...
Ao Marcelo faltam os cêntimetros, ao Arroz faltam os pés, ao Maykon falta-lhe manifestar-se corporeamente, como entidade que vive portanto existe, ultrapassando a categoria de mero espectro ambulante. O China faz jus à nação que lhe é homónima, patenteando um correr de condutor de Riquexó, o Baiano até dá para safar, o Organista quero esquecer e do Matheus não me quero lembrar. Esqueci algum? O Carciano. Bem, quanto a esse, asseguro-vos que em menos de dois anos é o esteio, o pêndulo do escrete brasileiro. Uma autêntica lança em... Piauí!
Quantos aos velhinhos da “casa”, devo dizer que adorei a exibição do Zé Pedro. Reparem que nem tudo é presença de jogo, intervenção técnico-táctica e vigor físico. O Zé Pedro já aprendeu com o Mior que isto vai lá é com beijinhos aos guarda-redes adversários, e sorrisinhos e palmadinhas nas costas. Parece que estou a ver: “Oh Helton, se deixares entrar esta, quando fores ao Restelo vais comer petinga frita a minha casa. Podes levar a viola e fazemos umas caipirinhas...” bem jogado Casimiro, bem jogado!
O Silas deu uns pulitos em campo e fez duas ou três acrobacias que lhe garantem sempre o eterno comentário: “sim, já foi internacional...” o Júlio César o que lhe competia, imperar, e claro, o nosso Candinho que ainda me hão-de dizer se não foi criado no Restelo e se não chorou quando ganhámos a taça e tudo. Se não foi, parece.
Em suma, não foi uma catástrofe. Perder por dois a zero é resultado que disfarça sempre qualquer coisa no Dragão. A nossa exibição foi insonsa, tímida, amedrontada, contudo, não fomos goleados. E é suposto a rapaziada já se dar por satisfeita quando assim é. Somos todos bons rapazes aqui no Restelo; tirem-nos o Basquetebol, o Pólo, o Triatlo, o Futsal, a Patinagem, o Xadrez, o Campismo, o Andebol, o Atletismo, a Natação que a malta continuará bem-disposta a ver os jornais gozar connosco, as andorinhas ocuparem as palas do estádio, e os cruzeiros deambularem rumo a outras latitudes no heróico estuário do Tejo. Quem precisa de uma boa equipa de futebol quando do seu lugar cativo vê uma das cúpulas manuelinas do Mosteiro dos Jerónimos? Todas as nossas direcções, após o excelente Mário Rosa Freire, parecem apostadas em impôr o Restelo como rota de um passado histórico riquíssimo, porém obsoleto e meramente teórico. Em pouco tempo um turista irá ao nosso estádio como se vai à Torre de Belém e aí as forças vivas da cidade de Lisboa haverão cumprido um plano gizado há muito, desde que correram connosco a pontapé das Salésias: acabar com o Belenenses. Eu apenas afirmo que, já agora, não fossem os nossos dirigentes a ajudá-los.
Quanto a amanhã, ou muito me engano ou vamos passar as passinhas do Algarve para marcar um golito, o tal que talvez nos dê os três primeiros pontinhos no campeonato. Isto claro, se o colosso Paços de Ferreira não nos fizer a vida num inferno em contra-ataque. Seremos os mil e quinhentos do costume, tornando necessário apenas um décimo de bancada, isto claro já somando os Policias, Bombeiros, Jornalistas e Apanha-Bolas. Quando os nossos rapazes entrarem em campo para aquecer, serão ovacionados pelo Sr. Américo Matateu e pela bandeira do Lú; virão uma dezena de pacences numa carrinha de caixa-aberta, A1 abaixo, que por pouco hã-de fazer o Paulo Sérgio sentir-se a jogar em casa; e quando a Fúria começar a cantar (por muito afinada que esteja, que raramente está) irá ouvir desde os cativos as seguintes palavras de incentivo: “acabem com o barulho que eu quero ver o jogo!”.
Seja como fôr, e numa mescla de convicção e hábito:
Allez, Belém, Allez!!!!
Pedro Sequeira
Pois é, lá programámos a nossa vidinha dominical para às sete e um quarto estarmos em casa, pontualmente sentadinhos defronte da RTP, a vibrar com as emoções de mais uma época desportiva do nosso clube. Será que o Zé Pedro sempre joga? Quem são os centrais? E os pontas-de-lança? O Paulo Catarro já pensou em 50 soluções diferentes para o Porto nos encavar (o que seria tolerável se, em simultâneo, ele não as expressasse uma a uma, com análise e metodologia à mistura), o outro cavalheiro que narra, que é o verdadeiro técnico, o especialista, o quase doutor, já corroborou, já elogiou muito o Rodriguez, o Sapunaru, o Lucho, o Lizandro; as equipas já entraram em campo e do Belenenses pouco ou nada sabemos: há um Carciano, um Baiano, um Matheus, um China, um Arroz, um Marcelo e um Maykon mas todos são tratados como mercadoria barata, desconhecida e altamente duvidosa; ninguém sabe quem eles são, nem ninguém tem nada que saber. Nós estamos ali para cumprir um papel, o de bobo da festa do F.C. Porto, o tri-campeão nacional, e o que convém mesmo é que a brazucada seja uma bela trampa, não atine com as botas, nem com a bola, nem, salve-nos Deus, com a baliza! Esta é uma máxima que até o ultra-benfiquista do Paulo Catarro compreende; aliás, estou mesmo tentado em considerar que a narração futebolística em Portugal deu azo a um novo tipo de homo clubisticus: aquele que apoia e adora sempre os grandes, sejam eles quais forem, os bajula, os massaja, os polvinha de pó de talco nas partes baixas e lhes serve de mictório caso esse seja o seu último capricho, aquela última pernada que lhes dará o título, de preferência aos três, os três ao mesmo tempo!
Diria que foi um jogo que decorreu à Belenenses: pacato, monótono, com três ou quatro rabias em cada uma das partes, uma bola a entrar na nossa baliza por intervenção do Espírito Santo, alguma excitação e fé nos instantes finais e, como não podia deixar de ser, a expulsãozinha de segurança que deixa de criar embaraços, sejam eles quais forem, ao doutoradíssimo, professorzíssimo Jesualdo Ferreira, neurótico crónico convertido em sumidade intelectual do nosso irredutível futebol nacional. Haja paciência! Eu tenho-a...
Ao Marcelo faltam os cêntimetros, ao Arroz faltam os pés, ao Maykon falta-lhe manifestar-se corporeamente, como entidade que vive portanto existe, ultrapassando a categoria de mero espectro ambulante. O China faz jus à nação que lhe é homónima, patenteando um correr de condutor de Riquexó, o Baiano até dá para safar, o Organista quero esquecer e do Matheus não me quero lembrar. Esqueci algum? O Carciano. Bem, quanto a esse, asseguro-vos que em menos de dois anos é o esteio, o pêndulo do escrete brasileiro. Uma autêntica lança em... Piauí!
Quantos aos velhinhos da “casa”, devo dizer que adorei a exibição do Zé Pedro. Reparem que nem tudo é presença de jogo, intervenção técnico-táctica e vigor físico. O Zé Pedro já aprendeu com o Mior que isto vai lá é com beijinhos aos guarda-redes adversários, e sorrisinhos e palmadinhas nas costas. Parece que estou a ver: “Oh Helton, se deixares entrar esta, quando fores ao Restelo vais comer petinga frita a minha casa. Podes levar a viola e fazemos umas caipirinhas...” bem jogado Casimiro, bem jogado!
O Silas deu uns pulitos em campo e fez duas ou três acrobacias que lhe garantem sempre o eterno comentário: “sim, já foi internacional...” o Júlio César o que lhe competia, imperar, e claro, o nosso Candinho que ainda me hão-de dizer se não foi criado no Restelo e se não chorou quando ganhámos a taça e tudo. Se não foi, parece.
Em suma, não foi uma catástrofe. Perder por dois a zero é resultado que disfarça sempre qualquer coisa no Dragão. A nossa exibição foi insonsa, tímida, amedrontada, contudo, não fomos goleados. E é suposto a rapaziada já se dar por satisfeita quando assim é. Somos todos bons rapazes aqui no Restelo; tirem-nos o Basquetebol, o Pólo, o Triatlo, o Futsal, a Patinagem, o Xadrez, o Campismo, o Andebol, o Atletismo, a Natação que a malta continuará bem-disposta a ver os jornais gozar connosco, as andorinhas ocuparem as palas do estádio, e os cruzeiros deambularem rumo a outras latitudes no heróico estuário do Tejo. Quem precisa de uma boa equipa de futebol quando do seu lugar cativo vê uma das cúpulas manuelinas do Mosteiro dos Jerónimos? Todas as nossas direcções, após o excelente Mário Rosa Freire, parecem apostadas em impôr o Restelo como rota de um passado histórico riquíssimo, porém obsoleto e meramente teórico. Em pouco tempo um turista irá ao nosso estádio como se vai à Torre de Belém e aí as forças vivas da cidade de Lisboa haverão cumprido um plano gizado há muito, desde que correram connosco a pontapé das Salésias: acabar com o Belenenses. Eu apenas afirmo que, já agora, não fossem os nossos dirigentes a ajudá-los.
Quanto a amanhã, ou muito me engano ou vamos passar as passinhas do Algarve para marcar um golito, o tal que talvez nos dê os três primeiros pontinhos no campeonato. Isto claro, se o colosso Paços de Ferreira não nos fizer a vida num inferno em contra-ataque. Seremos os mil e quinhentos do costume, tornando necessário apenas um décimo de bancada, isto claro já somando os Policias, Bombeiros, Jornalistas e Apanha-Bolas. Quando os nossos rapazes entrarem em campo para aquecer, serão ovacionados pelo Sr. Américo Matateu e pela bandeira do Lú; virão uma dezena de pacences numa carrinha de caixa-aberta, A1 abaixo, que por pouco hã-de fazer o Paulo Sérgio sentir-se a jogar em casa; e quando a Fúria começar a cantar (por muito afinada que esteja, que raramente está) irá ouvir desde os cativos as seguintes palavras de incentivo: “acabem com o barulho que eu quero ver o jogo!”.
Seja como fôr, e numa mescla de convicção e hábito:
Allez, Belém, Allez!!!!
Pedro Sequeira
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