quarta-feira, junho 15, 2005
Só futebol
Artigo publicado no dia 3 de Junho, que acabou por perder todo o sentido nessa data perante o desaparecimento do nosso Capitão José António.
Terminado mais um campeonato Nacional de Futebol, época 2004/2005, chegámos ao fim classificados em 9º lugar. Foi uma época cujo início nos fez sonhar com algo mais, mas em que, jornada a jornada, a equipa do Belenenses foi perdendo fulgor e, sobretudo, ambição. Apesar da classificação ter sido melhor que a da época anterior, 9º lugar contra 15º, verificou-se que o números de derrotas foi sensivelmente igual, 14 contra 15. Tivémos ainda a curiosidade, triste do meu ponto de vista, de este ano termos mais derrotas do que vitórias, 13V contra 14D. A época até começou bem para o Belenenses, com boas exibições, com garra, ver jogo disputado em Vila do Conde, mas a inversão dos acontecimentos dá-se, quanto a mim, à 5ª jornada, quando fomos à Amoreira defrontar um adversário que nos era completamente inferior, jogo esse que se tivéssemos ganho teríamos passado para 1º lugar ex-aequo com outras equipas. Perdemos. Pior do que o resultado, foi a exibição, deprimente, em que só corremos atrás do prejuízo após sofrermos o golo da derrota, aos 88 minutos de jogo. Pior ainda foram as declarações do nosso treinador no final desse jogo, que se mostrou resignado, dizendo que o Belenenses não fazia parte dessas guerras, primeiros lugares, nem que isso lhe tinha sido pedido. A partir daí alternámos o razoável com o muito fraco, nunca conseguindo manter um equilíbrio exibicional e de pontuação capaz de nos guindar a lugares mais altos. O ponto mais negativo da época ocorreu com a eliminação da Taça de Portugal às mãos de uma equipa de divisão inferior, depois de um sorteio muito favorável nas três eliminatórias anteriores, jogo após o qual, mais uma vez, o nosso treinador sacudiu qualquer tipo de pressão dos seus ombros afirmando que a Taça de Portugal não era o objectivo prioritário. Poder-me-ão dizer que em relação ao ano anterior o Belenenses garantiu uma certa tranquilidade mais cedo, que também o nº de vitórias foi maior, segunda melhor equipa nos jogos em casa, mas as minhas ambições são sempre de corrigir o que está mal e manter o que está bem. Mal, claramente, o nº de derrotas e a pontuação e postura da equipa nos jogos fora de casa.
continua...
Causa-me alguma estranheza e perplexidade que num clube como o Belenenses, com quase 86 anos de história, 1 Campeonato Nacional da 1ª Divisão, 3 Campeonatos de Portugal e 3 Taças de Portugal, se fale em anos zero ou -1. O que é que isso quer dizer? Começar de novo? Esquecer o passado? Ou só se lembra o passado negativo para pôr em cima da mesa traumas que outros ultrapassaram com muito mais facilidade?
Mas, tudo isto é passado. Importa olhar o futuro.
Temos uma Direcção nova, SAD nova (ou renovada), vai começar uma nova época, tenhamos renovadas esperanças que melhores dias virão. Mas sempre com ambição e exigência, senão será sempre muito fácil comparar com a “traumática” época de 2003/04, em que ficámos em 15º lugar. E, a partir daí, qualquer coisita melhor é entusiasticamente aplaudida por muitos. Ao contrário do que repetidas declarações do nosso treinador ao longo da época deixavam transparecer, que estávamos no ano zero, a base da equipa estava a ser criada, que bastariam 2 ou 3 contratações “cirúrgicas”, optou a nossa SAD com a concordância do treinador, ou vice-versa, por uma pequena revolução no nosso plantel, o qual irá ser reformulado para a próxima época em 50 a 60%. Não contesto tal tipo de decisões, fico sempre com a esperança que os que chegam sejam melhores que os que partiram, mas, por favor, não me falem mais em anos zero. Como diria José Mourinho, o único, o original, aquele que conquistou a Taça UEFA e a Liga dos Campeões, e não qualquer eco ou fotocópia em bicos dos pés, falta de tempo é a maior desculpa para a falta de trabalho. No exigente futebol inglês, com a terceira equipa de Londres, azuis como nós, que já não era campeã há 50 anos, Mourinho chegou, trabalhou e... foi campeão. Cá é difícil? É, e muito, mas lá também, não tenham a menor dúvida. Acima de tudo quero partir para a nova época pensando que o céu é o limite, só pedindo, exigindo, uma coisa: que durante os noventa minutos de cada jogo jogadores, treinador, dirigentes e adeptos dêem tudo o que têm, como se cada jogo fosse uma final, o último, pois a partir daí nada mais lhes poderá ser exigido. Só espero é que a próxima não termine como esta, à 5ª jornada, quando a toalha foi lançada ao chão dizendo “esse” campeonato não é o nosso, deixem ir cá mais para baixo para não nos exigirem muito. É que começo a ficar cansado de ver as vitórias e as festas dos outros e nós há 16 anos nada ganhamos, nem chegamos lá perto. Há toda uma geração de jovens para trazer para o Belenenses e isso só se faz com vitórias. Quem joga para ganhar, arrisca-se a ganhar, quem joga para empatar, quase sempre perde.
Termino com um pouco de História de Portugal: “Em 1640, Portugal encontrava-se à beira de uma revolução e novo rei tinha que ser encontrado. A escolha recaíu sobre João II, Duque de Bragança, um homem modesto sem nenhuma ambição à coroa que receava arriscar a vida e a fortuna numa traição aos Habsburgos. A lenda diz que foi a sua mulher Luísa de Gusmão, filha do Duque de Medina-Sidónia, que o forçou a aceitar a coroa dizendo: Mais vale ser rainha por um dia que duquesa toda a vida! ou segundo outra versão: Mais vale morrer reinando do que viver servindo! Bragança aceitou a chefia da rebelião e tornou-se Rei de Portugal a 1 de Dezembro de 1640.” Sejamos nós, adeptos, a Luísa de Gusmão do nosso clube, perante o(s) pouco audaz(es) Duque(s) de Bragança. Mais vale ser campeão por um dia, que 9º lugar toda a vida. Teremos nós força suficiente para isso?
Pedro Lopes Patrão
Sócio nº 1771
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