sexta-feira, junho 24, 2005

Carta Aberta ao Sr. Prof. Dr. Carlos Carvalhal

Pedro Patrão

Sr. Prof. Dr.,

Escrevo-lhe esta carta aberta numa altura em que calculo que o encontrarei de férias. No passado respondi ao seu repto, publicado no seu site, de lhe escrever, mas dos vários e-mails que lhe enviei, nunca obtive resposta a nenhum, a sua análise ao jogos do meu clube foi interrompida após o jogo da 6ª jornada, disputado a 17 de Outubro de 2004, tendo mesmo recentemente o seu site saído da Internet, segundo a informação transmitida, por falta de actualização.
Foi o Sr. Prof. Dr. nesta época treinador do Clube de Futebol “Os Belenenses”, clube do qual eu sou sócio desde que nasci. Gostaria de lhe dizer que o Belenenses existe desde 1919, há portanto quase 86 anos, ao contrário do que o Sr. Prof. Dr. quer fazer crer, pois segundo as suas declarações constantes ao longo da época poderia parecer que o clube foi fundado em 2003, dado o Sr. Prof. Dr. se referir permanentemente à “traumática” época anterior de 2003/2004, para justificar aquilo que foi, na sua opinião, o seu “bom trabalho” ao longo deste ano. Esquece-se dos 84 anos de história para trás. Num aparte, creio até que o tema principal das próximas eleições autárquicas em Lisboa será o terramoto de 1755, ocorrido há 250 anos, e as suas consequências “traumáticas” para a cidade de Lisboa no sec. XXI..
Do seu site pude retirar a sua formação académica, com cursos, mestrados e doutoramentos. Eu apenas fiz um modesto curso de Engenharia. Fico no entanto a pensar se ao longo do seu percurso académico teve alguma cadeira chamada “Coerência”, e, em caso afirmativo, se passou nessa cadeira. É que vou recordar-lhe aqui uma entrevista sua ao jornal “O Jogo”, datada de 31 de Agosto de 2004, uma semana após a vitória da 1ª jornada sobre o Marítimo, em que o Sr. Prof. Dr. dizia, e passo a transcrever:


continua...

“P | Que meta traça para a época de estreia no Belenenses?
R | Vimos de uma época muito má. Por isso, é importante, antes de mais, estabilizar o clube e colocá-lo entre os dez primeiros classificados. E, se não cometermos erros, o Belenenses poderá lutar, futuramente, pelos lugares de acesso às competições europeias.
P | Perspectiva um "novo Boavista" para os próximos anos?
R | Porque não? O Belenenses tem óptimas condições de trabalho e quem sabe se daqui a três ou quatro anos não estará a lutar pelo título? O primeiro passo está dado e agora teremos todos os anos de reforçar o plantel com dois, três jogadores e continuar a apostar na formação, de modo a que o Belenenses seja cada vez melhor.”
Primeira conclusão desta entrevista, vimos de uma época muito má, lá está o Sr. Prof. Dr., o Manuel Machado no Guimarães também vinha de uma época muito má, nunca ninguém ouviu MM lamuriar-se permanentemente e, no fim, conquistou um lugar de acesso à Taça UEFA. Sem traumas!
Mas a segunda conclusão, para mim ao mesmo tempo mais confrangedora e incoerente, é quando o Sr. Prof. Dr. diz que todos os anos teremos que reforçar o plantel com dois ou três jogadores! Dois ou três? Então quantos jogadores queria o Sr. Prof. Dr. para a próxima época? É que do plantel de 2004/2005 já sairam 19 jogadores, possivelmente 20. A saber, Mangiarratti, Sandro, Brasília, Catanha, Juninho, Cristiano, Lourenço, Rodolfo Lima, Wilson, Marco Paulo, Neca, Tuck, Eliseu, Andersson, Antchouet, Fábio Monteiro, Gonçalo Brandão, Jorge Tavares, Cabral e, possivelmente, Renato. Ficaram apenas 10. Marco Aurélio, Rui Ferreira, José Pedro, Rolando, Sousa, Paulo Sérgio, Ruben Amorim, Pedro Alves, Amaral e Pelé. Nada mau, para quem só queria dois ou três reforços, ficava com um plantel de 12 ou 13, e para quem disse que este era um ano de criação de uma base de equipa... E dos jogadores que transitam para a próxima época vejo com lugar de “caras” na equipa base, Marco Aurélio, Amaral e Pelé, sendo apenas um trazido por si, os outros dois já lá estavam. Coerência???
No dia 22 de Novembro de 2004, após o jogo a contar para a 11ª jornada, disputado em Coimbra contra a Académica, mostrou-se o Sr. Prof. Dr. “orgulhoso” porque tinha tido nos 18 jogadores convocados 7 provenientes da formação do Belenenses, a saber, Pedro Alves, Rolando, Gonçalo Brandão, Eliseu, Ruben Amorim, Neca e Jorge Tavares. Onde estão eles agora? Pedro Alves, Rolando e R. Amorim ficam no plantel, sabe-se lá com que garantias para jogar, Neca, G. Brandão, Eliseu e Jorge Tavares saíram. Curioso, J. Tavares jogou 17 minutos nesse jogo, marcou um golo e nunca mais voltou a ser convocado. Eliseu, um dos melhores jogadores portugueses no Torneio de Toulon na sua posição natural, pouco ou nada jogou, sendo agora emprestado a um clube da 2ª Lliga. Coerência???
Antes do jogo contra o Estrela da Amadora para os quartos-de-final da Taça de Portugal, após um dificílimo sorteio contra duas equipas da 2ª Divisão B, e um quase intransponível “isento” veio o Sr. Prof. Dr. declarar na véspera ao jornal “Record”:
Record 1-3-2005
TÉCNICO ELOGIA ESTRELA MAS TEM FÉ!
Carlos Carvalhal: «Sei que estes jogos são diferentes...»

Carlos Carvalhal considera que a Taça de Portugal é um objectivo paralelo para o Belenenses, pois o importante mesmo é fazer uma época tranquila na SuperLiga. Mesmo assim, o técnico não minimiza a Taça, bem pelo contrário, e esboça um desejo: “Temos fé em seguir em frente. O mais importante é a SuperLiga e a estabilidade da equipa.”
Fé??? Felizmente o nosso presidente já veio considerar que a Taça de Portugal é um objectivo prioritário do Belenenses! Coerência??? Esperemos que tenha aprendido a lição. E que dizer da humilhante faixa dos adeptos do V. Setúbal no último jogo do Campeonato: “Nós vamos ao Jamor e à UEFA, e tu onde vais CC?”
Termino esta carta aberta Sr. Prof. Dr. desejando-lhe as maiores felicidades para esta próxima época, pelo menos enquanto for treinador do Belenenses, pois a sua felicidade será a minha, o seu sucesso será o do meu clube. Este ano não há desculpas, nem sirenes, nem apitos, nem relvado duro, nem mole, nem campo grande.
Um conselho, fale menos e trabalhe mais, pois isso de se dizer ambicioso e terminar o campeonato com mais derrotas que vitórias...

Pedro Lopes Patrão
Sócio nº 1771

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