quinta-feira, junho 02, 2005

QUANTOS SOMOS? (Parte I)

Eduardo Torres

No meu entendimento, a grandeza de um clube, tanto ou mais do que pelos títulos que conquista, mede-se pelo número dos adeptos que o têm no coração.

Em termos de resultados desportivos nas várias modalidades, o Belenenses é incontestavelmente o 4º clube português, a uma larga distância de quem quer que seja o 5º. Julgo que ninguém de boa fé o poderá contestar. Em termos exclusivos de futebol, o Belenenses vê-lhe hoje disputado o 4º lugar pelo Boavista. Sejamos honestos, ambos podem reivindicar o 4º lugar. Podemos considerar que estão igualados. Mas, diga-se igualmente, estão ambos a uma distância considerável do 6º, que provavelmente será o Vitória de Setúbal.


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Se temos, tristemente, que concordar que fomos ficando distantes do trio da frente (que já foi quarteto, integrado por nós, durante dezenas de anos), deve-nos ser feita a justiça de referir que idêntico abismo separa um Rio Ave, um União de Leiria ou mesmo um Sporting de Braga de nós. E é pena que a comunicação social não nos preste essa justiça, pondo-nos juntos no enorme prato (mas a que dá tão pouco espaço!) dos que não são os “três”. Sem nenhum desprimor para os brancarenses, compare-se o nosso palmarés com o do Sporting de Braga, 4º classificado do campeonato recém concluído: o Belenenses tem 3 Campeonatos de Portugal, o Sporting de Braga, nenhum (e também nunca foi finalista, enquanto o Belenenses o foi 6 vezes); o Belenenses tem um Campeonato Nacional, o Sporting de Braga, nenhum; O Belenenses ficou 19 vezes no pódio do Campeonato Nacional, o Braga nenhuma; O Belenenses ganhou três Taças de Portugal, o Sporting de Braga, uma. E repare-se que, se escolhemos o Sporting de Braga, foi para comparar com um concorrente forte. Face a outros clubes, a diferença é ainda muito maior.

E em termos de adeptos? Vários estudos que têm sido feitos mostram que continuamos a ser o 4º clube com mais adeptos. É verdade que, também aqui, o decaimento do Belenenses deixou as suas marcas e hoje a distância que nos separa do Benfica (perto de 45% de adeptos?) e mesmo do F.C.Porto e Sporting (cada um com 20 a 25% de adeptos?) é grande e muito maior do que outrora. Os mesmos estudos apontam para que o Belenenses tenha entre 1,5% e 2% de adeptos entre a população residente em Portugal. Repare-se que, se actualmente o Benfica pode ter 20 ou 25 vezes mais adeptos que nós, também nós, entretanto, teremos 10, 15 ou 20 vezes mais adeptos que, por exemplo (e de novo com todo o respeito) um União de Leiria ou um Estrela da Amadora.

Os mesmos estudos mostram que, na zona da grande Lisboa, os adeptos do Belenenses são hoje em dia cerca de 5%, ou seja, 1 em cada 20 pessoas. Curiosamente, dispomos de dados para dizer que em 1960 – data a partir da qual começaram as nossas desventuras - cerca de 20% dos lisboetas eram do Belenenses – ou seja, quatro vezes mais que actualmente. Extrapolando em termos nacionais, tudo indica que nessa altura 8 a 10% dos portugueses eram do Belenenses. Ou seja, para aí uns 700 mil portugueses!

E no presente, quantos somos? Se a nossa percentagem oscila entre 1,5 e 2% de portugueses, isso quer dizer que, em Portugal, seremos, no mínimo, cerca de 150.000 (haja em conta que, nos dez milhões de portugueses, há uma franja que não tem, mesmo, qualquer clube preferido). Numa hipótese mais favorável, seremos perto de duzentos mil. A este número, porém, acresce os dos portugueses emigrantes que são Belenenses – no Brasil, no Canadá, nos Estados Unidos da América, na França, na Alemanha, nos restantes PALOP – sem esquecer os que, sendo cidadãos angolanos ou moçambicanos ou caboverdianos são também Belenenses. E podemos então concluir que, no mundo, seremos qualquer coisa como 250 a 300 mil “pastéis”.

O Belenenses destaca-se de quase todos os outros clubes pelo tipo de implantação que tem. Os Vitória de Guimarães ou de Setúbal podem ter um considerável número de adeptos mas eles estão geograficamente circunscritos – basicamente, aos respectivos concelhos (o V. Setúbal alarga-se um pouco ao distrito). Pelo contrário, o Belenenses, pela grandeza que conquistou, pelas grandes figuras que teve, pelo pioneirismo que teve em muitos aspectos, possui adeptos em todo o país. Claro, temos as zonas de maior implantação: Lisboa (e aí, claro, muito especialmente as zonas de Belém e Ajuda), a margem Sul, a linha Algés-Cascais (ao que parece, Oeiras é o concelho do país omde temos mais sócios). Mas há belenenses por todo o país. Salvo o devido respeito, não é assim com o Braga, o Guimarães, o Setúbal, o Beira Mar, o Marítimo, o Boavista... Apenas 5 clubes têm implantação nacional: o Belenenses, o Benfica, o Sporting, o F.C.Porto e a Académica. Não é por acaso que temos dezenas de filiais e delegações espalhadas por todo o país e não só. Neste aspecto, somente 4 clubes, entre os quais o nosso, têm uma tal realidade.

Mas os belenenses distinguem-se ainda de outra forma: os adeptos de um Gil Vicente, de um V. Setúbal, de um Penafiel ou de uma Académica são, numa grande parte, adeptos de outros clubes (Benfica, Sporting, Porto, residualmente, Belenenses). Só o Belenenses resiste e nisso a Comunicação Social também não nos faz o devido destaque: salvo raríssimas, raríssimas excepções, os pastéis são mesmo Belenenses, só Belenenses – e não belenenses como 2º clube, e não Belenenses e, ao mesmo tempo, de outro clube. A nossa história e o nosso orgulho impõe-nos que assim seja e, apesar de tudo, felizmente, isso é algo que ainda não deixámos perder.

Face ao exposto, surge naturalmente a questão: então porque não temos maiores assistências no nosso estádio? Haveremos de tratar disso na segunda Parte deste artigo.

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