quarta-feira, junho 15, 2005

FOLHAS SOLTAS

Eduardo Torres

Suponho que a maior parte dos adeptos, ao formular um desejo, sonha antes de tudo com títulos. Eu, para quem o vibrar em conjunto é mais que tudo, sonho com ver o Restelo cheio. Suponho que a maior parte dos adeptos está à espera de contratações sonantes. Eu, para quem sermos muitos belenenses é mais que tudo, espero medidas para aumentar muitíssimo as assistências. Quando virão elas? Quais serão? A minha sugestão, seria: de imediato (preparando a psicologia das “massas”) e, depois, repetidamente; todas as possíveis, tanto as já elencadas (por nós nomeadamente), acrescidas das que entretanto ocorram ou a experiência recomende.

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Quer dizer que não me importam as contratações? Não, de maneira nenhuma estou desinteressado. Acompanho-as com o maior interesse e ansiedade. Ainda faltam jogadores, sobretudo no sector defensivo. Mas já disse, e repito: tudo indica que se está a formar o melhor plantel das últimas épocas. Este ano, posso ter uma grande desilusão, sim, porque confesso que tenho a ilusão de voltarmos ao nosso lugar, nos 4 primeiros.


continua...

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O ano passado não tinha, nem de perto nem de longe essa ilusão, mesmo com todas as vitórias da pré-época. Porque não a tinha? Especialmente porque no plantel havia o Lourenço, o Rodolfo Lima e o (irrepreensível, diga-se) Cristiano. E, com isso, um clube com a aura do Belenenses só contra-naturamente podia ir muito longe. A sua alma estava violentada. O que estava em causa não era o valor desses jogadores. Por mim, saídos, não me ponho a disparar tiros contra eles. Sinceramente, até admito que eles brilhem (relativamente, claro) no Gil Vicente e no União de Leiria. Ninguém se surpreenda com isso. Se tal acontecer, oxalá se compreenda o essencial: é que, felizmente, a camisola do Belenenses ainda pesa (mais do que a desses clubes). O erro não estava nos emprestados mas no facto dos empréstimos.

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Por este motivo, não acho, como já li não sei onde, que Meyong, Romeu e Silas possam ser outros Lourenço e Rodolfo Lima. E não digo isto apenas por a sua qualidade poder ser maior, que é. Digo-o porque as circunstâncias em que vêm são totalmente distintas. E isso faz toda a diferença. Neles e na equipa como um todo. É que, diferentemente do que se pensa, os factores psicológicos têm muito peso. Acreditem ou não, os factos são inequívocos: sempre que nos baixamos, vê-se o traseiro...

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Morreu José António. É mais uma figura grada do Belenenses que parte. Lá está a diferença. Por norma, os adeptos lembram-se dele a erguer a taça. Eu lembro-me dele, mais toda a equipa, a correr com a taça para a nossa festa. Curioso: alguns que acham que não interessa falar do nosso passado glorioso, não resistiram a evocar os feitos do tempo do Zé António. E ainda bem que o fizeram. Mas, por favor, pensem que passaram 16 anos e, para quem tem 28 ou 30 ou 33, foi...ainda há pouco tempo. Pois é...para quem tem quarenta e tal, também 30 anos, foi há pouco tempo. E para quem tem 70 ou 80, parece que mal passaram os 49 da inauguração do Restelo ou os 59 do Campeonato Nacional. O Belenenses é o seu todo de hoje e de sempre. Respeitemo-lo todos e respeitemos todos os Belenenes – os jovens e os anciãos. Que sentiriam os que – muito bem - evocaram os triunfos com Zé António, se lhes chamassem saudosistas e revivalistas?

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Não obstante o que disse, também eu sonho com um grande título. Sim, uma Taça. Mas mais ainda: um Campeonato de novo. Não o exijo; aliás, nunca exigi vitórias ao Belenenses, porque entendo que ser do Belenenses é algo de tão diferente, de tão grande e tão belo, que é uma vitória de todos os dias. Mas exijo, sim, ambição; e exijo não ter um treinador a dizer: não somos candidatos... Isso é que não!

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