sexta-feira, dezembro 03, 2004

Ponto de viragem

O ponto de viragem do Belenenses aproxima-se a passos largos. É, na minha opinião, um ponto sem retorno. A ser encetada essa viragem, poderá ou não correr bem, mas parece-me a única forma de viabilizar o Belenenses a longo prazo. De facto, o Belenenses é, e o desenvolvimento das tecnologias de informação tem-no certificado, ainda um clube de âmbito nacional e com determinado peso em termos futebolísticos. É esse peso que se vai perdendo a cada época adiada, e têm sido umas atrás das outras. É essa tendência que tem de se inverter.

Agora que o Belenenses é um clube financeiramente estável (uma recuperação fantástica que temos de agradecer às direcções lideradas por Ramos Lopes e Sequeira Nunes) e que o projecto imobiliário se tornará uma realidade a partir de Janeiro do próximo ano, o Belenenses tem todas as condições para dar o passo certo, alargar horizontes e tornar-se ambicioso, sempre com a noção da realidade.

Somos ainda um clube capaz de arrastar multidões, apesar de normalmente não o revelarmos, mas a verdade é que há um profundo desencanto que reina entre a falange azul, em especial entre aqueles que viveram o Belenenses até à década de 80. Aqueles, como eu, para quem o Belenenses é historicamente um grande clube que no final dos anos 80 teve um ressurgimento, para depressa se enterrar numa teia tenebrosa de auto-comiseração, têm, se calhar ingenuamente, a crença que ainda é possível dar a volta e acreditam que o Belenenses ainda pode aspirar a altos voos.

Temos 25.000 sócios. Podem dizer que não sei quantos mil são “piscineiros”, atletas e familiares de atletas. Mas é precisamente aí que está o futuro e um meio fundamental de lutar contra a desigualdade com que todos os clubes portugueses são tratados relativamente a outros 3. Contas rápidas, se o Benfica tem 90.000 sócios, digamos que temos um quarto dos sócios que o Benfica tem… como é óbvio, essa proporção não corresponde à realidade de adeptos, mas isso para mim é um sinal fantástico. É sinal que os adeptos azuis se interessam realmente pelo seu clube e são fieis. Quantos e quantos Benfiquistas ou Sportinguistas deixam de ser sócios por uma derrota ou um empate? Se assim fosse no Belenenses, meu Deus!!!

Somos, e não me canso de o repetir, o único verdadeiro clube da cidade de Lisboa. O único clube que tem um complexo desportivo digno desse nome e que está vocacionado para servir a população desta cidade, recentemente abandonada pelo Sporting e em breve pelo Benfica. O Sporting é agora o clube de Alcochete, o Benfica é o clube de todo o lado e de lado nenhum e vive na esperança de um dia conseguir ir para o Seixal… Não têm instalações desportivas, à excepção de uns Estádios de futebol muito bonitos (sinceramente) que são utilizados umas 25 vezes por ano… ou seja, pouco mais de 2 vezes por mês…

Também por aí temos uma clara oportunidade de crescimento, pois as crianças que aprendem a ser cidadãos através da prática desportiva nas nossas instalações ganham, pelo menos um carinho especial por este clube. Bem tratados, e “vivendo” um Belenenses ganhador, certamente muitos deles vestirão as nossas cores e são os adeptos do amanhã. Para isso, é necessário que lhes seja incutida a paixão azul, que sejam convidados, eles e suas famílias, para assistir aos jogos do tal Belenenses ambicioso. Não podemos viver à espera que eles venham até nós, temos de ser nós a ir ao seu encontro. O recente dinamizar das relações com Núcleo e Filiais é, a meu ver, importantíssimo.

Há todo um eixo, que vai de Campo de Ourique a Cascais, órfão de um grande clube representativo. Esse eixo atravessa os concelhos de Oeiras e Sintra e tem de ser “ganho” pelo Belém. Temos de ser ambiciosos para nos tornarmos atractivos, porque temos uma série de outras condições que mais ninguém tem. Uma pequena prova: alguém duvida que a saída do Sporting de Lisboa e as decisões aberrantes de Vale e Azevedo relativas às camadas jovens do Benfica foram providenciais para os excelentes resultados que temos vindo a obter ao nível das camadas jovens?

Como foi referido na AG desta semana, o Belenenses tem de se virar para as pessoas do amanhã. Foi com sincero orgulho que ouvi pessoas muito importantes nos últimos anos da vida azul a admitirem-no na AG, e que assumiram que o seu tempo talvez tenha já passado. E disseram-no claramente: o Belenenses está estruturalmente preparado para o futuro! Mas também deixaram bem claro que se calhar eles, que acredito tanto tenham sofrido para dar ao clube estas condições, já não têm capacidades para dar o tal passo.

Eu acredito que o Belenenses será capaz de arriscar e regressar aos dias de glória. Mas isso não invalida que tenha medo, muito medo, de não o conseguirmos, porque acho que o Belenenses, e toda uma série de adeptos que sonham há 58 anos ver o Belenenses novamente campeão, o merecem. Não me canso de o repetir, vi o meu pai na tarde da vitória da Taça em 89 e não mais hei-de esquecer a “criança” em que se tornou. E foi uma Taça…

O meu amigo Luís Lacerda lançou uma frase há uns meses que, se depender de mim, perdurará ligada a este clube enquanto tal desígnio não for atingido:

“Eu ainda hei-de ver o Belenenses campeão, nem que para isso tenha de não morrer!”

Vamos a isso meus amigos, está também nas nossas mãos ajudar o Belenenses a dar o passo certo. Porque o Belenenses chegou a um ponto de ruptura: ou adiamos, mais do que época atrás de época, o futuro, ou então somos ambiciosos e audazes e o futuro será azul.

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